sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

"Eu não acho que seja possível preencher um espaço vazio com aquilo que você perdeu. (...) Não acho que nossos pedaços perdidos caibam mais dentro da gente depois que eles se perdem." - Resenha do livro "O Teorema Katherine" - John Green

Para roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade. Tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa. Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado. Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente. Conquistar um coração de verdade dá trabalho, requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim ou cuidar de uma criança. É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade. Para se conquistar um coração, definitivamente tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos. Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso próprio, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes, que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, e entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago. Somente então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele, vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco. Uma metade de alguém que será guiada por nós e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração. 

É desta forma que Colin, o grande protagonista desta história aprende através de milhares de desilusões amorosas e um teorema matemático maluco, a partilhar seu coração com alguém especial. 

Em o Teorema Katherine, conhecemos Colin Singleton, um garoto prodígio que ama fazer anagramas com qualquer palavra que exista dentro e fora do dicionário. Colin possui um único e grande amigo, Hassan, e é através dele e sua forma cômica de enxergar a vida, que eles embarcam em uma grande aventura em busca de se tornarem alguém importante no mundo. 

Tudo começa com o décimo nono pé na bunda que Colin leva de uma namorada. Todas as companheiras do nosso protagonista, ironicamente tem o mesmo nome: Katherine. Basicamente funciona da seguinte forma: Colin conhece Katherine. Katherine gosta de Colin. Colin e Katherine namoram. Katherine termina com Colin. É sempre assim. 

Para tirar o amigo da fossa, Hassan decide viajar de carro sem destino aparente, e os dois acabam parando e se instalando em uma cidade no Tennessee, intitulada Gutshot. Lá eles conhecem Lindsey e sua mãe, que os contrata para trabalhar em um projeto muito importante da cidade: entrevistar todos os moradores mais antigos de Gutshot, e montar um documentário de memórias daqueles que fizeram a verdadeira história da cidade. Nesse ínterim, Colin possui um momento "eureca", e passa a trabalhar em um teorema matemático que irá predeterminar quanto tempo um relacionamento amoroso durará, e qual dos dois será o terminante e ou o terminado. Ao longo do caminho, Colin percebe que talvez seja a hora de deixar um pouco de lado os fatos e teorias, e se entregar aos prazeres da vida, dando uma simples chance ao acaso. 

O livro é repleto de gráficos e fatos aleatórios, que trazem um lado de humor bem simpático ao livro, mas a narrativa de John Green logo se sobrepõe aos fatores matemáticos, e torna a leitura de O Teorema Katherine uma experiencia com momentos bem auto reflexivos.  

O livro me levou a seguinte teoria: Egoísmo e amor- próprio estão longe de serem idênticos, e de fato são bem opostos. A pessoa egoísta não ama a si mesma demasiadamente, mas muito pouco, com efeito, ela se detesta. Essa falta de ternura e desvelo por si mesma, que é apenas uma expressão de sua falta de produtividade, deixa-a oca. Ela forçosamente se sente infeliz e ansiosamente preocupada em agarrar com avidez as satisfações da vida que ela impede a si mesma de conseguir. Parece aquietar-se por demais consigo mesma, mas na verdade o que faz é tão só uma má tentativa de disfarçar e compensar sua deficiência para cuidar de seu verdadeiro eu. Freud alega que a pessoa egoísta é narcisista, como se tivesse retirado seu amor pelos outros e o tivesse voltado para a própria pessoa. É fato que os egoístas são incapazes de amar a outros, mas não são tampouco capazes de amar a si mesmos.  É desta maneira que enxerguei Colin e seus milhares de devaneios em querer absurdamente achar uma formula para descobrir o porque nenhum dos seus 19 relacionamentos deram certo. Existe um motivo afinal para as consequências dos acontecimentos? Se sim, eles podem ser explicados e provados? 

Eu respondo que sim. Eles podem. Desde que primeiro a resposta esteja dentro de nós mesmos. Como já dizia Martha Medeiros: "Morre lentamente quem não encontra graça em si mesmo". 

O Teorema de Katherine deveria ser o teorema da Milena, o teorema do João ou da Cláudia. Cada qual temos um teorema que nos define como pessoas, que nos guiam como objetivo, que nos desafiam como derrotas e que nos angariam como conquistas. 

Comecei a resenha falando de entender cada espaço preenchido dentro de nossos corações, e acima de tudo, aceitar os espaços vagos. Aceitar que um espaço que foi deixado vazio, não necessariamente deve caber dentro da gente, ou mesmo ser substituído por um outro espaço, mais sim ser entendido e aceito como um espaço nosso, que nos fez e faz ser o nosso próprio teorema de vida. 

Não é roubar um coração, mais assim aceitar um coração. Até porque é através da aceitação que nasce aquilo que tanto almejamos na vida: o amor verdadeiro. 

Colin Singleton, obrigada por me proporcionar o entendimento do Teorema Milena.

Espero que com essa leitura, você também defina seu próprio teorema.

Minha nota: 8,0