terça-feira, 29 de dezembro de 2015

"Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível." Resenha do livro "De Repente" - Barbara Delinsky

De repente, esquecemos e lembramos do futuro venturoso, e de como é bom apenas viver. 

Desta forma vou começar falando de um irresistível romance, que fala sobre perda, amor e principalmente sobre escolhas. 

Na pequena e idílica cidade de Tucker, no estado de Vermont, a vida flui em um ritmo muito tranquilo para a pediatra Paige Pfeiffer. Quando Mara O´Neil, a sua melhor amiga e sócia em uma clinica pediátrica, inexplicavelmente comete suicídio, o confortável mundo de Paige, de repente, desmorona. 

Cuidando temporariamente de Sami, a criança que Mara havia adotado, Paige luta contra a dor da perda da amiga, enquanto se agarra a esperança de que sua vida voltará a ser organizada como antes. Porém, a morte é de certa maneira uma impossibilidade, que de repente se torna a mais pura realidade de nossas vidas. 

Paige foi criada por sua avó, Nonny, mas não porque não tinha um pai e uma mãe, mas simplesmente porque seus pais são seres movidos por um espírito tão livre, que a mesmice de uma rotina sólida não agrada para eles como se agrada a assistir a um comercial de margarina Doriana. Muito mais prazeroso viver a vida rodando o mundo, ao invés de encarar a responsabilidade da paternidade. 

Seus amigos e também sócios da clinica, Peter e Angie, possuem vidas distintas, onde enquanto um vive amedrontado pelo passado inseguro e hoje se auto afirma como um homem bem sucedido, solteirão convicto e responsável por suspiros apaixonados pela parte feminina da pequena cidade de Tucker, outra assume um verdadeiro papel de perfeição, porém de certa forma, como um contrato deve ser, as letras pequenas ficam guardadas para o momento oportuno de uma acusação de insatisfação.

Nesse ínterim, para não dizer de repente, Noah entra para a história, um homem que assume o cargo de diretor da escola Mount Court, e mexe com o coração de Paige, a ponto de bagunçar ainda mais sua cabeça em processo de adaptação a grandes e significativas mudanças.

Personagens a parte, e suas ligações interpessoais, eu diria que o livro se resume a apenas um aspecto. O significado da palavra ressignificação.

Existe um verbo muito bonito e comumente utilizado pelos profissionais da Psicologia, chamado "ressignificar". O mais comum de se pensar em relação a esse verbo é: "Dar um novo significado a algo", o que na teoria, está de certa forma, correto. Ao ressignificar uma experiência, você está retirando o peso que ela têm sobre você, deixando que ela não te afete mais de forma negativa.

Apesar de ser muito fácil definir o significado de uma palavra, pratica-la, como se pode acompanhar nesta obra através do olhar e das experiencias dos personagens, não é algo tão fácil. Ressignificar não significa esquecer algo, e para ressignificar é preciso deixar de lado o sentimento que possui a capacidade de levar qualquer ser humano para o fundo do poço: a culpa.

"Eu deveria ter dito mais vezes que o/a amava."
"Eu deveria ter feito seu prato preferido em um jantar romântico."
"Eu deveria ter sido mais complacente, e discutido menos por assuntos banais."
"Eu deveria ter aproveitado mais nossos minutos juntos."
"Eu deveria...Eu deveria."

Todos nós deveríamos tirar pelo menos quinze minutos do nosso dia para fazer um simples exercício de auto conhecimento. Por quais razões vocês acreditam que estão aqui hoje, nesse exato momento, por exemplo, lendo esta resenha? Como você gostaria que fosse seu dia hoje?

Tudo ou quase tudo que nos cerca, que nos faz sentir, e que nos influencia para tomar decisões e ter atitudes, se resume basicamente a nossa visão de vida. Não passar em uma entrevista de emprego dos sonhos pode significar que você está desempregado, e que sua vida profissional está acabada, como também pode significar que você possui uma grande oportunidade de procurar algo que se identifique mais, e que te faça trabalhar por um proposito, e não simplesmente para seguir um padrão pré determinado por suas experiencias de vida. Terminar um relacionamento pode ser uma das piores experiencias da sua vida, o chão pode desabar aos seus pés e você pode se sentir abandonado e sem rumo para seguir, ou você pode simplesmente fazer disso um aprendizado e aproveitar a oportunidade para se descobrir e se amar completamente, sem depender de ninguém para isso.

O significado de todo acontecimento depende do filtro pelo qual o vemos. A visão que temos a respeito do que nos acontece e dos nossos problemas, sejam eles grandes ou rotineiros, é o que define a nossa capacidade para buscarmos a felicidade, ou como eu comecei esta resenha, de nos lembrarmos constantemente de apenas...viver.

Os personagens desta obra possuem um pouco de cada um de nós. Todos sofrem a experiencia do luto, a maioria deles são médicos pediatras e sofrem ao ver as mazelas de saúde dos seres humanos. Paige, Peter, Angie e Noah carregam dentro de si decepções amorosas, fracassos profissionais, problemas familiares, medos e culpas. Mas se existe uma lição para todos esses problemas, que adoramos classifica-los como "De repente tudo mudou", é a oportunidade de ressignificar nossas ações, mas o principal é não esquecer que os únicos responsáveis pelo rumo que damos a nossa vida e as nossas escolhas somos nós mesmos.

Eu não posso afirmar quais são as escolhas de cada personagem deste livro, e muito menos quais foram as consequências dessas escolhas, mas posso dizer que todos fizeram o que era possível ser feito. Eles escolheram, se questionaram, e não viveram seus dias se perguntando porque o de repente aconteceu, mas aprendendo que fazendo o necessário, depois realizando o possível, se pode alcançar o impossível, que neste caso se resume apenas a dar um novo propósito e significado ao de repente.

Teóricos afirmam que nossa felicidade depende 5% daquilo que nos acontece, e 95% do que fazemos com isso, ou seja, como reagimos e qual sentido atribuímos. Deixo aqui a mensagem que este livro me proporcionou: Sejamos capazes de nos permitir sofrer, chorar e se arrepender, mas que o processo de lamentação seja mais curto do que estamos acostumados a ser, uma vez que possamos entender que ele é inteiramente desnecessário. Que possamos praticar a maior arte que podemos aprender e buscar, e  afinal é o que todos queremos, independente de crença, cor ou religião: a felicidade, todos os dias. Mesmo que de repente tudo dê errado.

Dedico esta resenha a Cristiane Unti, que me presenteou com este livro, que não poderia vir em melhor hora, onde através do meu de repente, eu estou tendo a grande oportunidade de ressignificar a minha vida. Cristiane, para você eu deixo esta mensagem, que foi exatamente a mensagem que este livro me deixou:

"A crise nos oferece a oportunidade de mudar conscientemente. E para melhor. Sempre."

E você caro leitor, já se perguntou como você gostaria que fosse seu dia hoje? Qual o de repente que sua vida vai te proporcionar para que essa resposta não dependa de muito tempo para ser respondida?

Minha nota: 10

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

"Devemos deixar nossos feitos serem nossos embaixadores. Nosso desafio é viver com toda a sinceridade que há em nosso coração, e esperar que aqueles que duvidam enxerguem a verdade." Resenha do livro "A Curiosidade" - Stephen P. Kiernan

O quanto você conhece sobre o sentimento mais comum ao ser humano, a curiosidade? O que faz de nós pessoas curiosas, e o quanto deste ato pode nos levar aos degraus mais inimagináveis da vida?

É sobre isto que fala o livro de Stephen P. Kiernan. O grande ato em se tornar, ou apenas ser curioso. 

A cientista Kate Philo e sua equipe começam o livro em um projeto revolucionário de criogenia, e fazem uma descoberta impressionante em pleno Ártico: o corpo de um homem enterrado no gelo. O ambicioso chefe do projeto, ordena que o homem seja levado para um laboratório em Boston, e seja reanimado, o que pasmem, é realizado com sucesso. A medida que o homem começa a recuperar sua memória, a equipe descobre que ele foi, ou melhor, é Jeremiah Rice, um juiz que viveu plenamente em 1906, até sua queda no Oceano Ártico. 

"Eu gostaria de ser mais do que uma curiosidade. Esta segunda vida me trouxe uma oportunidade, e talvez um imperativo, de servir a um propósito maior." Começo esta resenha, com as próprias palavras do juiz Jeremiah Rice. Qual seria o real propósito de um ser humano se ele tivesse a oportunidade de viver uma segunda vez?

Quando falamos sobre curiosidade, e especificamente sobre esta obra em questão, descobrimos que uma pessoa curiosa pode se tornar um fanático,  um excelente juiz de questões morais, ou até mesmo um apoiador de causa. O livro é narrado por diversos personagens, desmistificando o que a palavra curiosidade realmente pode significar. 

Para começar, conhecemos o chefe do projeto, Erastus Carthage, que enxerga Jeremiah como ele próprio o chama, de Sujeito Um, um objeto pelo qual ele alcançara a plenitude na ciência, e entrará para o hall do prêmio Nobel por ter se tornado o primeiro homem a trazer de volta a vida um ser humano que passou mais de 100 anos coberto de sal e gelo. Ao mesmo tempo, conhecemos os funcionários do projeto, que sem acreditar no que os próprios olhos veem, embarcam em uma jornada de descobrimentos científicos e tecnológicos que vão além de suas capacidades de compreensão. Mas convenhamos, quem não gostaria de participar de um projeto deste porte? Estamos afinal, falando de curiosidade, não é mesmo?

Saindo do laboratório do projeto, nos deparamos com jornalistas cobrindo matérias, perseguindo o ser humano reanimado e olhando para ele como o próximo premio Pulitzer de jornalismo. Acompanhamos também a jornada exaustiva de manifestantes, aqueles que acreditam que o ato de reanimação de Jeremiah é um ato contra Deus. Com que direito um ser humano brinca de dono do mundo, e traz a vida um outro ser humano? Somos apresentados também aos "aproveitadores", que se dizem parentes distantes do juiz reanimado, apenas para ter 15 minutos de fama e tirar uma selfie com o "morto vivo". 

Porém, o personagem mais interessante desta obra, é a doutora cientista Kate Philo, que de alguma maneira, enxerga verdadeiramente Jeremiah Rice. Podem chamar de ciência, milagre ou até mesmo de ato divino, mas o que vale de verdade não é a essência de um ser humano? E daí que este mesmo ser humano viveu congelado por mais de 100 anos? Ele continua sendo um ser humano, e não um objeto curioso. Certo? Agora chegamos a raiz da verdadeira lição deste livro. 

Kate acaba se tornando uma amiga para Jeremiah nesta nova vida que impuseram a ele. Ela mostra a ele que tudo o que ele chamava e conhecia como vida, de certa forma, mudou, e muito. As pessoas usam roupas curtas, se comportam de uma maneira estranha, se isolam em aparelhos tecnológicos que basta você toca-los e eles te mostram o mundo em uma pequena tela, elas pintam seus cabelos de cores vibrantes, falam palavrão, se divorciam, abandonam seus filhos, não ficam tão doentes, os alimentos são expostos em prateleiras dentro de um ambiente que eles chamam de supermercado, as pessoas simplesmente não se cumprimentam na rua, elas comem comidas esquisitas que chamam de junk food, elas dormem poucas horas por dia, moram em cubículos e não cultivam plantas, usam acessórios esquisitos no nariz, os homens não respeitam as mulheres, fazem sexo e não amor. Os livros não saem das prateleiras e acabaram se tornando apenas objetos de decoração, ninguém conhece Shakespeare ou Nietzsche. As músicas são altas e não fazem sentido, mas definitivamente usar tênis é muito mais confortável do que botas. 

O livro se desenrola em dois cenários distintos, acompanhamos toda a saga de Jeremiah Rice em sua adaptação a nova vida, e o nascimento de um sentimento maior entre ele e a doutora Kate Philo, assim como a sociedade em seus diversos papéis aceitando ou criticando a realidade  da reanimação. 

Chega a um determinado momento que eu gostaria de chamar de clímax da obra, onde todos os outros sentimentos que caminham lado a lado com a curiosidade se colocam a prova: ganância, coragem, ambição, compaixão e empatia. Para todo grande ato curioso, existe sempre a grande dúvida: Isto é realmente real? Seria curioso se não duvidássemos de sua existência?

A palavra curiosidade tem sua origem latina, e significa desejo de saber, de desvendar, de ver. Aristóteles dizia que "todo homem tem o desejo de conhecer". Mas ele próprio dúvida do que conhece. Ambíguo ou apenas a realidade? Porque duvidamos tanto do que conhecemos? Seria a verdade aquela que nos é apresentada, ou podemos ir além, sendo para o resto da vida meros curiosos?

Erastus Carthage e seus funcionários iniciaram este projeto pela simples curiosidade em saber se realmente seria possível ir contra a ciência, e trazer de volta a vida uma pessoa encontrada congelada no Oceano Ártico. Os manifestantes foram contra a reanimação pela própria curiosidade que este ato deferia em suas crenças religiosas e éticas. Os aproveitadores queriam chegar perto do Sujeito Um pela curiosidade de um dia poder falar que conheceram o impensável. Jeremiah Rice quis conhecer o mundo pela curiosidade em viver uma nova era, em tocar o intocável, em sentir o impalatável, em aproveitar dias de uma vida imposta, assim como o inverso também aconteceu, ao participar de uma expedição de cientistas e poder descobrir tecnologias inalcançáveis, a curiosidade o levou a cair em pleno Oceano Ártico e ser congelado. Kate Philo se apaixonou pelo homem que ela chamou de homem da sua vida pela curiosidade em sentir o maior sentimento que rege o mundo, o amor. 

A curiosidade é um campo de ida e vinda, ela precisa acontecer para que você aceite um trabalho, para que você faça parte de um projeto, para que você faça uma amizade, para que você viaje pelo mundo, para que você compre um carro ou uma casa, para que você leia um livro, para que você se apaixone, para que você tenha filhos, para que você mude a cor do seu cabelo, para que você consiga sentir todos os sentimentos do mundo. A curiosidade move seus dias, suas horas, seus minutos. Ela basicamente movimenta o mundo. 

E eu posso afirmar que a existência de Jeremiah Rice foi maior do que sua própria existência, afinal de contas, ele foi apenas um juiz, como eu sou publicitária e você é um administrador de empresas. A existência de Jeremiah cumpriu seu proposito maior. Ele movimentou o mundo, deixando uma nítida lição: Sejam curiosos, e os dias, as horas, os minutos, os segundos de sua vida não irão congelar.  Até porque o que se congela, pode se quebrar e continuar movimentando aquilo que chamamos simplesmente de vida. E ela continua meus caros leitores, mesmo depois de descobertas incrivelmente curiosas. 

Deixo para cada um ser curioso o bastante para entender o final desta obra. Sim, este livro não tem um final bem formatado, a grande maestria dele é deixar sua curiosidade te levar para aquilo que seria ou não um fim para os personagens. 

Jeremiah, o objeto da curiosidade é uma mão de via dupla, assim como suas duas vidas me mostraram  que não podemos parar de seguir em frente. O que importa afinal é deixar nossos feitos serem nossos embaixadores e viver com toda a sinceridade que existe dentro de nossos corações, esperando que aqueles que duvidam, enxerguem a verdade. Porque quando somos curiosos, descobrimos a nossa exclusiva verdade. 

Do mar ele veio e para o mar ele retornou. É desta forma que finalizo esta resenha: Nunca deixarei de ser curiosa. 

Minha nota: 9,0


quinta-feira, 11 de junho de 2015

"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar." - Resenha do livro "A Casa Assombrada" - John Boyne

Uma sensação de "quero mais" tomou conta de mim ao terminar o livro assombrado de John Boyne. "Mas porquê? Porquê?". 

Talvez a graça do livro seja mesmo esses questionamentos intermináveis, e admito que até uma noite mal dormida. Como eu costumo dizer, a magia dos livros está exatamente em cada um imaginar o melhor final para aqueles personagens, e eis que me pego refletindo sobre a verdadeira mensagem desta obra para escrever a resenha a seguir. De qualquer forma, eu vou tentar...e assim como nossa protagonista, achar uma resposta para essa enigmática história.  

 Eliza Caine tem 21 anos, e acaba de perder o pai. Totalmente sozinha na cidade de Londres, e sem dinheiro suficiente para pagar o aluguel da casa, ela se depara com um anúncio de emprego de um tal H. Bennet. Ele busca uma governanta para se dedicar aos cuidados e a edução das crianças de Gaudlin Hall, uma propriedade no condado de Norfolk. Como Eliza trabalha como professora em uma escola para meninas, porque não arriscar não é mesmo? 

Há quem diga que o luto é o pior sentimento que um ser humano pode sentir, seja ele de qualquer espécie, a sensação de perder alguém que se ama é tão devastadora, que sim meus caros leitores, a vontade de fugir é sempre a primeira opção cada vez que a dor invade nossos corpos. E com Eliza não foi diferente, e foi assim que ela fugiu da cidade grande para o interior, a fim de tentar tapar sua dor com a fuga, o medo e a dúvida se conseguiria viver sem o seu amado e admirado pai. 

O que Eliza não sabe, é que Gaudlin Hall e H. Bennet não são bem o que ela estava imaginando. Chegando a mansão onde seria sua casa dali para frente, Eliza se surpreende ao encontrar apenas Isabella, uma menina que parece inteligente demais para a sua idade, e Eustace, seu adorável irmão de 8 anos. Os pais da criança não estão lá e não se vê nenhum criado presente. Eliza logo constata que não há nenhum outro adulto na propriedade, e a identidade de H. Bennet permanece um mistério. 

A nova governanta e nossa protagonista desta história, busca incessantemente informações com as pessoas do vilarejo, mas todos coincidentemente a evitam. Nesse ínterim, Eliza fica intrigada do porque as janelas da mansão se fecham sem explicação, cortinas se movem sozinhas e ventos desproporcionais sopram pela propriedade.  Eventos assustadores começam a acontecer, piorando dia após dia, deixando nós leitores roendo as unhas de tanta ansiedade para entender o que de verdade acontece naquela cidade, e principalmente naquela casa, que leva o título desta obra: "assombrada". 

Porém preste atenção: "A Casa Assombrada" não é uma simples história de fantasmas. John Boyne aborda de maneira divina, eu diria, assuntos como perda e solidão, através de uma narrativa completa e extremamente reflexiva. John Boyne tece uma atmosfera mórbida e misteriosa acerca dos ocorridos, e consegue deixar o leitor aflito, e ao mesmo tempo emocionado, através de um texto poético e convincente. 

Como uma boa história de terror, não vou entregar qual o grande mistério que ronda a mansão de Gaudlin Hall, desta forma eu não seria justa com o leitor que vai embarcar nesta história, mas já que prometi que iria tentar escrever sobre o verdadeiro significado deste livro, vou falar sobre os sentimentos que nos são postos a prova quando acompanhamos os infortúnios de Eliza Caine.

Morte. A palavra por si só, carrega um imenso peso. Infelizmente, é a única certeza que temos na vida. Mas mesmo as certezas não deixam ninguém preparado para lidar com elas. Um amigo não vale pelo outro, um irmão não vale pelo outro, e nada no mundo pode substituir a figura de uma mãe e de um pai. Nunca somos velhos o suficiente para ficarmos órfãos, essa é a bem da verdade. Por mais que o tempo passe, sempre carregaremos o sentimento indecifrável de vazio. O vazio nos leva ao medo, e o medo nos leva ao medo de sentir aquele vazio. É cíclico. Foi por esse vazio que Eliza fugiu, e tentou substituir seu amor e sua dor pelos cuidados de duas crianças que carregam uma dor de perda muito semelhante a dela própria. Com fantasmas ou sem fantasmas, Eliza encontra a resiliência, e aprende de forma bonita a olhar o seu vazio de frente, e não se deixar trair pelo medo de não senti-lo. Já ouvi uma vez que "a dor precisa ser sentida", e quanto mais se tapa o sal com a peneira, maior fica o buraco embaixo dela. Tirando de jogo as frases clichês, a mensagem desta obra é algo muito simples, porém de difícil prática: Vive muito melhor a dor da perda quem sabe que fez a sua parte da melhor maneira que pode. Ainda vai doer, muito, mas talvez de uma maneira diferente, se assim for permitido por quem sente o temido vazio. 

Quando Eliza finalmente para de temer o sentimento de vazio, ela não apenas supera a história fantasmagórica, mas aprende que nada pode ser substituível, mas que se consegue recomeçar uma nova história sem dúvidas traidoras, e principalmente, com a sensação de superação de um medo que só se torna pequeno ou grande se o proprietário do sentimento permite sê-lo. 

Para finalizar, deixo aqui uma reflexão, e acho que com ela, finalmente consigo concluir sobre a verdadeira mensagem desta obra:

Superar é principalmente querer, ter vontade de seguir continuamente vencendo os desafios impostos pela vida. É o poder de saber reconhecer o quanto se é forte, ou não. Recomeçar todos os dias e sempre que necessário. Procure enxergar além da montanha, e use o passaporte da vida a favor para ser uma pessoa verdadeiramente feliz. Jamais perca a coragem, o ânimo e tampouco a capacidade de amar. A vida é e sempre será sobre superação.

Como Eliza Caine, espero que tantos outros enxerguem no vazio a possibilidade de recomeçar. 

Até porque, se existe mesmo vida após a morte, porque temer a fantasmas? Não seriam talvez os piores fantasmas, aqueles que achamos existir dentro de nós?

A refletir...Eu disse que seria difícil.

Minha nota: 9,0

quarta-feira, 27 de maio de 2015

"De todas as dificuldades que uma pessoa têm de enfrentar, a mais sofrida é, sem dúvida, o simples ato de esperar." Resenha do livro "A Cidade do Sol" - Khaled Hosseini

Como começar a escrever sobre A Cidade do Sol sem um pacote de lenços ao meu lado? Para quem acompanha este blog, sabe o quanto secretamente (ou não), eu sou fã de grandes personagens femininas, e desta vez não foi diferente. Explico o porquê. 

O livro gira em torno de duas personagens centrais, Mariam e Laila, e através do olhar destas duas mulheres, o leitor é levado a um panorama histórico do Afeganistão desde os anos 70 até o inicio do século XXI. Em suas mais de 360 páginas, divididas em quatro partes dispostas através de cinquenta e um capítulos, suas histórias vão sendo contadas e interligadas no formato mais bonito que a definição de esperança pode ter. 

Mariam e Laila vivem em um país e em um tempo no qual a mulher era total e completamente desprovida de direitos, e onde sua vida era decidida e definida do inicio ao fim pela figura de um homem. Vale aqui ressaltar uma das frases do livro: "Aprenda isso de uma vez por todas, filha: assim como uma bússola precisa apontar para o norte, assim também o dedo acusador de um homem sempre encontra uma mulher a sua frente. Sempre."

A primeira parte do livro conta a história de Mariam, que nasceu em 1959, em Herat, uma das maiores cidades do Afeganistão. Mariam é fruto de um adultério, e portanto, ela era considerada uma harami, resultado de uma relação ilegítima entre um homem de grandes posses, e uma de suas empregadas domésticas. 

Como toda boa história dramática, já sabemos o que houve, certo? A família de sua mãe, ao saber da gravidez, vai embora, deixando-a completamente sozinha. Ela passou então a morar em uma casa de tijolo com barro e palha, a qual foi construída por Jalil, o pai de Mariam. Uma vez por semana Jalil as visita e recebe o amor puro e intenso da garota, e criticas silenciosas de Nana, a mãe de Mariam, que após a saída de Jalil da casa, se transforma em gritos esbravejados, para que assim Mariam entenda que Jalil podia visita-la toda semana repleto de presentes e chamegos, mas no final das contas, ele as abandonou em uma casa isolada de todo e qualquer desfrute de uma sociedade "normal".

 No seu aniversário de 15 anos, Mariam pede ao pai de presente que ele a leve ao cinema juntamente com seus irmãos legítimos. Acontece que no dia combinado, Jalil não aparece. Mariam resolve então ir atrás do pai em Herat, mesmo sabendo que Nana desaprovaria sua decisão. Ao chegar na mansão em que o pai vive, Mariam não é recebida por ninguém, e resolve dormir a noite inteira na calçada, e pela manhã apenas um motorista aparece para leva-la de volta para a sua casa. Ao chegar na velha e boa cabana de barro e palha, Mariam encontra sua mãe morta por livre e espontânea vontade. 

A partir de então, conforme a mãe de Mariam havia previsto, a sua filha está só. Mariam é finalmente recebida na casa de Jalil, e no entanto, quando menos esperava, seu pai a promete para casamento a um homem que reside em Cabul. E mesmo contra sua vontade, Mariam se casa aos 15 anos de idade com Rashid, um homem sádico e sedento por sangue. 

Na segunda parte do livro, conhecemos Laila, que nasceu em 1978, 19 anos após Mariam, época esta em que os soviéticos já haviam invadido o Afeganistão. Seu pai, um professor, e sua mãe, uma mulher de muita força e personalidade, a criaram com a intenção de que ela poderia ser o que quisesse, e fosse detentora das próprias decisões de vida: "Sei que você ainda é pequena, mas quero que ouça bem o que vou lhe dizer e entenda isso desde já, disse seu pai. O casamento pode esperar, a educação, não. Você é uma menina inteligente. É mesmo, de verdade. Vai poder ser o que quiser, Laila, sei disso. E também sei que, quando esta guerra terminar, o Afeganistão vai precisar de você tanto quanto de seus homens, talvez até mais. Poque uma sociedade não tem qualquer chance de sucesso se as suas mulheres não forem instruídas, Laila. Nenhuma chance."

Laila tinha duas amigas, Giti e Hasina, e um grandíssimo amigo, Tariq, o qual estava sempre com ela. Seus irmãos, Noor e Ahmad, que ela mal conhecia, pois há muitos anos foram enviados como combatentes na guerra contra os soviéticos, acabam morrendo, e a mãe de Laila se comporta como se só tivesse esses dois filhos, a deixando completamente de lado. Em abril de 1992, quando Laila já tinha 14 anos, houve a rendição do presidente do Afeganistão, Najibullah, o qual, antes da presidência, havia sido chefe da KHAD, uma espécie de polícia secreta que ajudava os soviéticos. Essa rendição representava a vitória pela qual os irmãos de Laila tinham lutado e morrido, fazendo com que finalmente os afegãos pudessem viver em paz. Acontece que, seis meses depois  desta noticia, o que se via no Afeganistão, principalmente na capital, era uma guerra entre os próprios afegãos, para ver quem iria assumir o comando do país, e quando Rabbani foi eleito presidente, uma nova guerra se instalou no país, fazendo muitos afegãos fugirem principalmente para os USA. 

Enquanto o país vivia em guerra, Laila e Tariq se apaixonam perdidamente, e se entregam um ao outro antes de um casamento oficial. Neste ínterim Tariq a avisa que vai fugir junto com seus pais, e a chama para acompanha-lo, prometendo se casar com ela e viverem na merecida paz em outro país ou até mesmo em outro continente. Mas Laila não consegue deixar seus pais para trás. Um bom tempo depois, em meio a um cenário aterrorizante de bombas, corpos mutilados no meio das ruas, Laila e seus pais resolvem fugir também , e uma bomba cai em sua casa, estilhaçando seu pai e sua mãe em vários pedaços. Quem resgata Laila no meio dos escombros? Mariam, que por coincidência da vida, era sua vizinha em Cabul. Como Laila estava grávida de Tariq, e ninguém havia notado ainda, ela resolve se casar com Rashid aos 14 anos de idade. 

E é a partir daí, que as duas últimas partes do livro vão contar como será a vida dessas duas mulheres marcadas pelo sofrimento de uma vida anulada por decisões que não são as delas próprias. Passeamos pela época da dominação dos talibãs e pelo tão famigerado 11 de setembro, sempre com a história de Mariam e Laila caminhando juntas, possuindo apenas um sentimento em comum em meio ao caos: esperança. O ato de esperar afinal de contas não é possuir esperança de que dias melhores viram?

Vamos falar sobre o tema central deste livro: a famigerada e temida (ou não) esperança.

Você que de vez em quando chora a noite, na solidão da alcova. Você que se arrebenta no cumprimento das obrigações. Que perde um tempo danado desviando das porradas de todo dia. Você que tem medo do arrependimento um minuto depois de tomar uma decisão. Você que esconde seu pavor de morrer só, de não ter onde cair morto, de lhe faltar um gato para puxar pelo rabo. Você que ainda tem avós mas que pouco os vê. Que tem saudade da infância, que sente culpa por não telefonar mais vezes para os seus pais. Você que já não tem pais e nem avós, e quase só usa o telefone para pedir comida e responder que não, não quer assinar jornal nenhum. Você que tem uma inveja inofensiva das pessoas que demonstram afeto. Você que queria ter mais irmãos, você que tem irmãos distantes, você que não tem irmão nenhum. Você que ainda corta a carne no prato do filho ou da filha. Que tem criança pequena e conhece o medo doloroso de lhe faltar. Você que se deu conta de que nunca será astronauta, um campeão olímpico ou um astro do rock. Que acha superficial e cínico quem defende que não se deve dar esmolas, quando a quem pede esmolas nada se faz para ajuda-lo a seguir outro caminho. Você que olhou nos olhos de um mendigo e sentiu um calafrio em algum lugar inusitado da alma. Você que sentiu culpa por estar ocupado demais para ouvir um amigo quando ele mais honestamente precisou falar. Você que já passou horas deitado no sofá de barriga para baixo, cutucando com a unha a sujeira leve que pousa e se instala impertinente nas ranhuras do chão. Você que enxerga rostos em desenhos nas nuvens e árvores. Que observou a poeira flutuando contra a luz do sol e lembrou de um amor antigo. Você que não sabe lidar com um amor novo. Você que, na maioria das vezes, das conversas do dia a dia não ouve nada senão relinchos, cacarejos e conversas para boi dormir entupidas de preconceito e burrice. Você que já se perguntou onde repousam as borboletas, enquanto imaginava sua vida secreta, e esse foi seu único instante de paz no dia confuso. Você  que descobriu espantado que as baratas, quando esmagadas pelo chinelo da gente, liberam ovos que se transformarão em novas baratas que sobreviverão a hecatombe nuclear. Você que já pediu a Deus um tempo para viajar a um lugar distante e ver o sol nascer de outro canto, na tentativa honesta de lavar com sabão e esponja a sua alma cheia de borras e sentimentos esverdeados e envelhecidos. Depois estende-la no varal de um dia inteiro e deixa-la ali secando ao sol. Você que já teve a impressão de que, se não fizer alguma coisa, a vida periga se transformar em um eterno domingo a noite. Você então seja bem vindo ou bem vinda, porque viver doí, e se doí é porque você vive e resiste todos os dias aos dias. E se eu pudesse conversar com Mariam e Laila, eu diria: "Acreditem, para cada angústia há uma desforra gloriosa, esperando sua vez de vir ao mundo."

Sem entregar o final deste magnífico livro, se por um minuto a esperança deixar de existir, nossas decisões serão sempre feitas sem o nosso consentimento, e quero acreditar que todas as decisões tomadas por estas duas grandes mulheres, foram apenas baseadas em dois puros sentimentos tão complexos de serem entendidos: Amor e esperança. 

Que possamos sempre nos permitir projetar borboletas no céu, e através de seus vôos rasantes, ter esperança de que amanhã será melhor que o hoje. 

Minha nota: 10 com louvor!

terça-feira, 28 de abril de 2015

"Você às vezes não se pergunta…se apenas uma pequena coisa tivesse sido mudada, no passado,….as coisas seriam diferentes?" - Resenha do livro "O fio da vida" - Kate Atkinson

E se você pudesse viver a mesma vida diversas vezes, e a cada uma delas tivesse a chance de fazer diferente ou a diferença? É sobre essa pergunta, e talvez as respostas, que o livro de Kate Atkinson trata.

Ao contrário do que talvez você esteja pensando, O fio da vida, não oferece uma leitura ilustrativa de vidas passadas, tampouco a história fale sobre reencarnação. Particularmente eu apenas vejo possibilidades inerentes a uma mesma vida, talvez realidades paralelas, vividas simultaneamente. Calma, você não precisa entender de física quântica para ler o livro, mas há sim paralelos com esse fenômeno, e o caminho do entendimento ao longo da leitura. A obra  não fala sobre ficção cientifica, mas eu o classificaria com um adjetivo incomum aos conhecedores de leituras classificativas. Eu o colocaria no patamar de leitura "excêntrica provocativa".

O fio da vida mostra a pluralidade que existe dentro de cada um de nós, e como cada uma dessas diferentes personalidades poderiam ser desenvolvidas quando nos colocamos diversas vezes em uma mesma situação. A história gira em torno de Úrsula, e suas diversas vidas, onde seu nascimento acontece sempre no mesmo dia, na mesma hora, dos mesmos pais, dos mesmos irmãos, e na mesma cidade. Diria que a única modificação na vida de Úrsula é a forma como ela morre.

Cada vez que Úrsula morria e renascia, eu refletia sobre a seguinte frase: "A circularidade do universo. O tempo é um constructo, na realidade tudo flui, sem passado ou presente, apenas o agora." Se a reflexão fosse válida, eu preciso pontuar e me certificar que a vida e a morte são tão casuais como qualquer outro evento cotidiano, simplesmente não há garantias mesmo que nosso instinto de sobrevivência grite mais alto. Não existe necessariamente futuro, e muito menos passado. Ambos desaparecem em uma possibilidade perdida. A única fonte que realmente podemos contar ou talvez controlar, é o presente. E é exatamente nessa vertente que nossa protagonista faz algo que muitos de nós mesmos não nos damos conta pelo simples fato de só pensarmos naquilo que nos aconteceu no passado, e naquilo que buscamos para o futuro. Úrsula vive o agora.

Nascida em uma noite de muita neve, Úrsula teve muitas chances. Sua primeira vinda ao mundo, não vingou, Úrsula morreu assim que nasceu. Mas ao longo dos anos, ela foi tendo a chance de driblar a morte e reescrever sua história, mudando pequenos detalhes, que no fim, mudariam absolutamente tudo em torno de sua vida. E conforme o tempo ia passando, e novas chances de reescrever sua história lhe foram dadas, ela ia sentindo uma inquietude dentro de si, como uma espécie de presságio ou dejavú, para que ela pudesse fazer novas escolhas, e assim mudar o curso dos acontecimentos. Como por exemplo quando ela morreu afogada quando criança, ou quando se tornou mãe solteira, ou quando ela foi assassinada a pauladas pelo próprio marido, ou quando morreu enclausurada em um porão fugindo das bombas da Segunda Guerra Mundial, ou quando foi estudar na Alemanha e se tornou a melhor amiga da esposa do Hitler, ou quando matou Hitler com um tiro a queima roupa, ou quando foi estuprada pelo melhor amigo de seu irmão e fez um aborto, ou quando foi voluntária da Guerra tirando escombros de pessoas mortas ao longo das ruas e avenidas bombardeadas pelo caos, ou quando virou uma alcoólatra e teve um caso extraconjugal com um politico de renome. Todos esses fatos discorrem desde seu nascimento em 1910, e ao longo dos anos 1930, 1940 e de volta a 1910.

Sem dúvida Úrsula têm sua vida modificada de várias formas, mas não é só ela que sofre as consequências dessas mudanças. Vale ressaltar que a vida de Teddy (seu irmão mais novo) foi salva diversas vezes pelas escolhas de sua irmã, e que sua mãe Sylvie é salva de seu primeiro suicídio pré concebido pelas escolhas da filha, assim como absolutamente todas as pessoas que viveram ao lado de Úrsula, ou simplesmente passaram momentaneamente por sua vida. Arrisco dizer que até os cursos da história da humanidade se alterarão conforme Úrsula ia modificando suas escolhas. É possível a cada capítulo acompanhar a construção das histórias conforme as mudanças que Úrsula constrói com suas escolhas. Afinal de contas meus caros, o que seria da vida sem a vida em si? E a vida não é composta por escolhas?

Escolher quer dizer preferir, selecionar e optar. Toda nossa vida é feita baseada em escolhas. Por mais indecisos que sejamos, ao abrir os olhos pela manhã, teremos que optar entre permanecer na cama, esquecendo das horas, ou simplesmente levantar e fazer escolhas. A opção continua na primeira refeição da manhã: cereal, frutas, chá, café, pão integral, mel, açúcar ou adoçante. Desejar bom dia ou resmungar qualquer coisa, ou simplesmente ficar calado. São sempre opções, certo? Sair de carro, dar uma caminhada, correr para não perder o ônibus, ou fazer de conta que não tem compromisso nenhum.  Ser gentil no trânsito, cedendo a vez a outro carro em cruzamento complicado, ou fazer de conta que ninguém mais existe no caminho além de você mesmo. Não jogar nada pelas janelas do carro, ou emporcalhar o caminho por onde passa. Tudo é uma questão de escolha. Escolha de como você deseja que seja o seu dia, a sua vida, o seu mundo.  Você pode viver muito bem com todo mundo, ou viver muito mal até consigo mesmo. Você pode se tornar uma pessoa quase indispensável no mundo, pela sua forma de ser, ou decidir por ser alguém que, se faltar, poucos ou talvez ninguém notará.

Mesmo sem ter o conhecimento pleno de que possuía a chance de viver várias vezes a mesma vida, e modificar constantemente suas escolhas, Úrsula optou no final por se permitir uma única escolha: ser feliz com as suas escolhas sem questionar o sentido da vida. Se não, porque chamar O fio da vida, se a vida só têm um sentido: você próprio?

Pense nisso, e escolha o que você deseja para você, mas pense no agora, nesse novo dia que a vida lhe permitiu fazer suas próprias escolhas.

Termino esta resenha com uma das minhas frases preferidas deste livro:

"Nenhuma respiração. O mundo inteiro se resume a isso. Uma respiração. Pequenos pulmões, como asas de libélula sem conseguir inflar na atmosfera desconhecida. Nenhum ar no tubo estrangulado. O zumbido de mil abelhas na minuscula perola enrodilhada de um ouvido."

Dedico esta resenha ao meu recente falecido pai. Que suas escolhas permitam que eu continue fazendo as minhas, até chegar ao momento que fecharei igualmente meus olhos, e farei finalmente a escolha de te reencontrar novamente. Obrigada por me ensinar a escolher neste momento ser feliz.

Minha nota: 10 com louvor.