quinta-feira, 2 de junho de 2016

"Você não me deu uma vida, deu? De jeito nenhum. Só acabou com a minha antiga. Desfez em pedacinhos. O que eu faço com o que sobrou?" - Resenha do livro "Depois de Você" - Jojo Moyes

Quanto tempo é preciso para que possamos encontrar o nosso verdadeiro lugar no mundo?

Eu começo essa resenha respondendo a essa pergunta: Nenhum... Nenhum tempo. 

Você pode ir embora e nunca mais ser a mesma pessoa. Ou você pode voltar para casa e nada mais ser como era antes. Você pode até ficar onde estava, para que nada mude, mas aí é você que não vai se conformar com isso. 

Você pode sofrer por perder alguém. Você pode até lembrar com carinho ou orgulho de algum momento importante na sua vida: formatura, casamento, aprovação no vestibular ou a festa mais linda que você já tenha ido, mas o que vai te fazer falta mesmo, o que vai doer de forma profunda, é a saudade dos momentos feitos de simplicidade: Sua mãe te chamando para acordar e ir para a escola, do seu pai te levantando no ar e brincando como se você pudesse voar e alcançar o céu, dos desenhos animados que você assistia com o seu irmão, da diversão natural em estar ao lado dos amigos, do cheiro que você sentia naquele abraço especial, da hora exata em que ele, o amor da sua vida, aparecia para te ver, de como ele te olhava com aquela cara de coitado só para te deixar mais apaixonada e da forma como ele pegava em sua mão quando você sentia medo. 

Depois de seis meses sendo cuidadora de Will, Louise Clark passou os últimos dois anos tentando responder a pergunta acima, mas invés de nos depararmos com um final feliz e de superação para a nossa grande protagonista, percebemos que na realidade ela não fez nada que a deixasse em paz consigo mesma, ela não tomou o cuidado suficiente em como estava colocando a sua dor para fora, ela não contou até três antes de tomar uma decisão, ela não pensou que seria melhor estar só do que mal acompanhada, ou não esperou o tempo certo das coisas com medo da inércia e assim se tornar uma pessoa desinteressante. Ela teve medo de renunciar do passado por medo de dizer que não o amava mais, ela não soube abrir mão porque teve medo de dizer o que não queria. Basicamente para Louise, o tempo ensinou muita coisa, mas não a curou da forma que ela esperava. 

Will, ao decidir colocar fim em sua vida, deixa a Louise uma valiosa lição, e pede que incansavelmente ela apenas viva sua vida sem se lembrar muito dele, e para isso lhe dispõe de uma quantia de dinheiro razoavelmente grande, que permite que Louise viaje pela Europa por um tempo, conheça algumas pessoas e lugares interessantes, e compre um pequeno apartamento em Londres,  já que para ela é impossível voltar ao lar, onde tudo começou e acabou de forma um tanto quanto trágica. Em Londres, Louise trabalha como garçonete em um bar estilo irlandês que fica dentro do principal aeroporto da cidade, e lá ela observa todos os dias milhares de pessoas embarcando, se despedindo, voltando para casa, reencontrando entes queridos, indo trabalhar ou mesmo tirando férias de verão. Definitivamente, não era assim que Will imaginava a vida de Louise depois de sua breve passagem em sua vida. 


Mas a vida sempre se encarrega de nos dar oportunidades. Se não for pelo curso natural das coisas ou por nossas próprias escolhas, elas acabam acontecendo de uma forma ou de outra. E é exatamente assim, que a vida de Louise vira de ponta cabeça quando ela despenca acidentalmente do seu terraço, e com uma bacia quebrada e muitas lesões corporais, Louise se vê forçada a retornar para a sua casa, e encarar uma grande temporada com a loucura que é a sua família. 


"Nunca se sabe o que vai acontecer quando se cai de uma grande altura".

E é por causa desta queda, que Louise conhece Sam Fielding, o paramédico que a salva no dia do acidente, e Lily, a problemática e perturbada personagem, que lembra muito tudo o que Will representou na vida de Louise. 

Para os amantes do primeiro livro, como eu, preparem-se para se reencontrar com todos os personagens queridos e não tão queridos do primeiro volume. É delicioso, depois de tanto tempo de espera, entender o que a decisão de Will causou na vida de todos. Uma vez ouvi, que era preciso gerar o caos dentro de outro caos, para que todas as peças voltassem a se equilibrar no tabuleiro que chamamos de vida. Falar mais sobre o livro seria entregar todo o caos para vocês, e minha intenção não é falar sobre isso, mas sim deixar claro o que uma história tão triste pode resultar dentro de cada ser humano. 

A dinâmica do primeiro livro perdura. É egoísta Will ter se matado e deixado apenas uma carta para Louise seguir em frente? É egoísta Louise querer Will vivo, porém sem poder ser ele próprio para desfrutar da vida ao seu lado? É egoísta uma mulher querer se libertar das amarras da sociedade, e fazer o que bem entender sem ser julgada por todos? É egoísta uma mãe solteira, querer viver sua vida enquanto o filho pequeno pede por cuidados constantes? É egoísta uma filha não conhecer o pai e agir feito uma louca só para ter a atenção que nunca teve na vida? É egoísta seguir adiante e abrir o coração para amar outra pessoa? É egoísta voltar a vestir roupas coloridas sendo que o amor da sua vida morreu? É egoísta meus caros leitores, viver depois uma brusca queda? No caso de Louise,  ironicamente e literalmente falando, duas quedas?

É preciso abrir todas as portas que fecham o nosso coração. Quebrar barreiras construídas ao longo do tempo, por amores do passado que foram em vão. É preciso muita renúncia em ser a mudança no pensar. É preciso não esquecer que ninguém vem perfeito até nós. É preciso ver o outro com os olhos da alma e se deixar cativar. É preciso renunciar ao que não agrada a você próprio. Para que se moldem um ao outro como se molda uma escultura, aparando as arestas que podem machucar, é como lapidar um diamante bruto, para faze-lo brilhar. E quando decidir que chegou a hora de amar, lembre-se que é preciso haver identificação de almas. De gostos, de gestos, de pele. No modo de sentir e de pensar, é preciso ver a luz iluminar a aura, dando uma chance para que o amor te encontre novamente. Na suavidade morna de uma noite calma, é preciso se entregar de corpo e alma. É preciso ter dentro do coração um sonho, que se acalenta no desejo de amar e ser amada. É preciso conhecer no outro o ser tão procurado dentro de nós. É preciso conquistar e se deixar seduzir, entrar no jogo e deixar fluir. Amar com emoção para se saber sentir. A sensação do momento em que o amor te devora, e quando você estiver vivendo no clímax desse sentimento, sentir que essa foi a melhor das suas escolhas. Que foi o seu grande desafio, e o passo mais acertado de todos os caminhos da vida até tão trilhados. Mas se assim não for, que nunca se arrependa do amor dado. Faz parte se arriscar por um sonho, porque se não fosse assim, nunca teríamos sonhado. Mas antes de tudo, que saibamos ter ao nosso lado o maior aliado de todos: O Tempo. 

Termino essa resenha fazendo um outro questionamento: Será que estamos falando que Louise se permitiu amar novamente, ou ela fez exatamente o que Will pediu a ela desde o inicio? Amar a si própria?

Desta vez eu não vou responder, mas vou deixar em suas mãos a leitura desta belíssima continuidade, que nos deixa pensar que nenhum tempo quantitativo pode mensurar aquilo que na verdade sempre habitou dentro de nós. 

"Ok Will, pensei. Se essa foi sua ideia de me jogar em uma nova vida, com certeza acertou em cheio."

Louise Clark, como sempre você conseguiu me surpreender. 


Desejo que possamos todas ser um pouco de Louise e de Will, que se faz tão presente neste livro quanto no primeiro. Porque quando há amor, há sempre uma saída. 

Minha nota: 10

Não pense muito em mim. Não quero que você fique toda sentimental. Apenas viva bem. Apenas viva…