domingo, 29 de setembro de 2013

"Não pense muito em mim. Não quero que você fique toda sentimental. Apenas viva bem. APENAS VIVA" - Resenha do livro "Como eu era antes de você" - Jojo Moyes

Um dos meus programas prediletos aos finais de semana, é tomar uma boa garrafa de vinho acompanhada de papos cabeça e muitas histórias reais contadas por amigos e conhecidos. Neste último sábado, por coincidência ou não, ouvi relatos de falta de dinheiro, medo de se entregar a paixões desenfreadas e muita, muita vontade de viver a vida de uma forma diferente, literalmente sendo outra pessoa.

Foi através desses diálogos que finalmente tive coragem de sentar e escrever sobre o livro que teve a pachorra de me arrancar lagrimas tão sinceras, que quase achei que teria que levar essa reação a um divã, de tão real  e comovente que a história me pareceu. Me desculpem os céticos que acham que chorar lendo livros é um tanto quanto "ser sentimental demais", mas acredito que após ler essa resenha, farei os não tão crentes também proclamarem por alguns sinais de sentimento.

No "Como eu era antes de você", entramos no universo um tanto quanto complexo de Louisa Clark, que com apenas 26 anos não tem para si muitas ambições na vida. Ela mora com os pais, um sobrinho fruto de um caso "não planejado" da irmã mais nova e um avô que precisa de cuidados constantes desde que sofreu um derrame. Ela trabalha como garçonete em um simpático café em Bishop´s Stortford (uma cidade comercial histórica e paróquia civil do distrito de East Hertfordshire no condado de Hertfordshire, na Inglaterra). Pela cidade, já podemos imaginar que não se tem muito o que fazer por lá, como retrata o livro, há apenas um ponto turistico interessante, o castelo Stortfold, onde fica abarrotado de turistas com suas máquinas fotográficas, arrancando relatos de forma contundente. Louisa namora há 7 anos um triatleta, Patrick, que não parece e não é muito interessado nela, ele literalmente olha o tempo todo para seu umbigo másculo e com 0% de gordura.

Do outro lado do castelo, temos Will Traynor, de 35 anos. Ele é lindo, inteligente, extremamente rico e bem sucedido. Mora em Londres e vive uma vida repleta de aventuras. E quando falo aventuras, é no sentido literal: saltos de paraquedas, nado com baleias, viagens ao centro da terra e por aí vai. Um belo dia Will sai para trabalhar, depois de acordar ao lado de uma belíssima mulher (fato que acontecia com muita frequência em sua vida) e decide que não vai ao trabalho de moto, pois está chovendo de forma demasiada. E pela ironia (ou não) do destino, uma motocicleta o atropela,  deixando-o tetraplégico e com apenas um pequeno movimento na mão direita.

Falando em ironia do destino, após dois anos do acidente de Will, nossa grande heroína desta história é demitida do simpático café, e sem saber o que fazer de sua vida, encontra a oportunidade de ser cuidadora de um tetraplégico, que até aqui, vocês já sabem de quem se trata. É desta maneira que seus destinos são cruzados, e como a própria Louisa gosta de dizer: "essa é a história de duas pessoas que não deviam se encontrar e que não gostam muito um do outro quando se conhecem, mas que acabam descobrindo que eram as duas únicas pessoas no mundo que podiam se entender".

Não é uma história de amor, e sim uma história sobre resgate. Explico o porque:

Will não vê sentido em absolutamente mais nada, tanto que ele possui um plano. Em 6 meses ele irá encerrar com sua jornada de vida, se suicidando por livre e espontânea vontade na Suíça, em um lugar chamado "Dignitas". Sim caros leitores, existe um lugar que permite que em comum acordo e com justificativas plausíveis você pode acabar com sua própria vida. Quando Louise descobre os planos de Will, ela inicia uma jornada intensa a procura de motivos para que ele não coloque seu plano em prática.

Nesse meio tempo, através dos milhares de programas que Louisa leva Will para mostra-lhe que vale a pena ainda viver, nos deparamos novamente com a ironia do destino. É Will na verdade quem ensina Louisa o tempo que ela está desperdiçando não vivendo a própria vida. Descobrimos que Louisa tem sua cota de dor, quando em um dos momentos que considero mais verossímil deste livro, a mesma aborda um estupro que sofreu de 4 homens quando ainda era uma garota.

Esta obra abriga um grande debate sobre o fio tênue entre a vida e a morte. Você é a favor da pena de morte? Se sim, é a favor também da morte compactuada?

Eu admito que fiquei extremamente boquiaberta quando todos da família de Will aceitam sua vontade em se matar na Suíça. Pensei como Louisa: "Que absurdo permitirem algo do tipo". Porém, ao ler o livro passei a enxergar o outro lado da moeda. Como seria viver sem poder tocar a pessoa que amo? Sem poder desfrutar do prazer de fechar os olhos e sentir que tudo dentro de mim funciona de forma completa? De poder andar sentindo a areia no meio dos meus dedos? De abrir os braços e sentir o vento entrar pelas partículas do meu corpo? De poder sentir a pele eletrizar quando alguém me desse um abraço? De poder enxugar minhas próprias lagrimas quando eu esmorecesse? Como é viver a vida sem sentir tudo isso?

Não sei se sou a favor ou não de tal ato (preciso refletir muito ainda a respeito), mas consigo ao menos enxergar 10% dos bons motivos em se desejar algo do tipo. Independente da opinião de cada um, o que mais me chamou a atenção, foi que quem se sentia preso não era Will, apesar de literalmente estar eternamente fadado a ficar naquela cadeira de rodas. Quem é o prisioneiro de verdade, é Louisa. Ela aprende com Will a conclamar ambições, a descobrir do que ela é capaz, a de colocar para fora uma pessoa sedenta por novas sensações.

Will faz a melhor das declarações de amor que vi em meus 28 anos de vida: "Durante algum tempo, você vai se sentir pouco a vontade em seu novo mundo de descobertas. É sempre estranho ser arrancado de sua zona de conforto. Você tem ambição e quem tem ambição, tem tudo. Você apenas escondeu essas qualidades, como todo mundo. Não seja igual a todo mundo".

Se eu pudesse escolher entre ouvir isso ou um "Eu te amo", eu escolheria a primeira opção. Will deu o maior presente que alguém poderia dar a uma pessoa: ele deu a chance de Louisa olhar para dentro de si e se salvar de seus próprios medos. Ele deu a ela a dadiva da vida, em troca ela deu a ele a dadiva da escolha. Eles mais que se amaram, eles se resgataram (eu disse que não era uma história de amor).

Paulo Coelho uma vez disse "Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize o seu desejo."

Depois de ler essa resenha, você ainda acha que o destino é tão irônico a ponto de nos enviar provas para concluir definições daquilo que tentamos ver todos os dias no espelho? Você ainda quer ser outra pessoa?

Quando li esta obra, semeei pelo final, para que eu mesma pudesse entender o que sou e para onde o universo ironiza meu destino.

Minha nota: a máxima que existir.

14 comentários:

  1. Este livro, sem dúvida, gera uma polêmica muito grande sobre a questão da "escolha" pela morte... não consigo imaginar a dor de ficar totalmente dependente de tudo e de todos para viver porém tb não posso aceitar alguém tirando a própria vida pois segundo minhas crenças esta é uma benção que nos foi dada e somente quem nos deu pode nos tirar. É realmente algo a se pensar.... tudo tem uma razão de ser e acredito que nossas ações direta ou indiretamente são responsáveis por nossas realidades e, estas realidades devem ser encaradas, vividas e apreendidas como forma de aprendizado e desenvolvimento moral e espiritual.

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    1. Deveriamos realizar um sarau para debater essas questões. rs
      Obrigada por seguir a página.
      Visite sempre!
      Grande abraço!!!!! =)

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  2. Encaro o suicídio como um egoísmo. Mas neste caso em que a família aceita. É realmente algo novo.

    Pensando friamente acho que deveria ser direito de todos optar ou não pela vida.

    Mas até que ponto o individuo pode decidir tal fatalidade?

    Pena de morte sou contra. Pois dai não é uma escolha e sim uma imposição.
    E todo individuo tem a possibilidade de se restaurar, a ponto de poder viver em sociedade. independente do crime.

    A liberdade de poder escolher a morte, talvez nos daria mais tranquilidade pra viver. Pois se estamos vivo, é porque escolhemos estar vivo.

    Stephen Hawking, é um exemplo de vida... o fato de estar paraplégico, ao meu modo de ver não é suficiente pra optar pela morte.

    Quero ler o livro, pra saber se este personagem conseguiria me convencer do contrário. Apesar de achar que todo ser é livre pra optar pela morte ou pela vida, desde que tenha lógica na loucura.


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    1. Pois é Rodrigo. Esse livro é maravilhoso e deixa muitas discussões no ar! Uma obra polêmica porém muito bonita! Leia sim e depois me diga sua percepção, pelo menos se você acabou por concordar ou não com a decisão do personagem. Obrigada pela visita. Continue aparecendo! Grande abraço! =)

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  3. A liberdade da escolha. Ou somente a liberdade. Esse livro por si só me deixaria essa lembrança... porém, dadas as circunstâncias e consequências do dia que terminei lê-lo, para mim, sempre será muito mais!

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    1. Muito bom que você pode experimentar na pele essa questão! =)

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  4. Acabei de ler esse livro e logo corri para ler o que você achou dele. Concordei com cada vírgula. Mas acho que uma das palavras que o descreve para mim é libertação. Libertação de vidas sem sentido (tanto a dele, em sua própria visão , quanto a dela com sua passividade e falta de motivação em viver... ambos desmotivados com a vida que levavam). Me derramei em lágrimas, me senti no lugar de Louise quando ela ofereceu de tudo (inclusive a ela mesma) para que Will fosse feliz e ele não voltou atrás. Senti toda a sua frustração e sentimento de inadequação... coisa que muitas vezes sentimos ao oferecer nosso melhor a pessoas e situações e não parecer o suficiente. Cara... vou te dizer q o livro é bem leve no começo , tem horas q os mais ansiosos devem até sentir tédio. Mas ele mexeu profundamente comigo. Me libertei de mim mesma, rs.

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  5. Olá Dani! Esse livro é muito bonito e acredito ser uma lição de vida para todos nós que possuímos histórias e passados. Para mim essa é uma verdadeira história de amor. Que bom que gostou, e fico feliz de você ter lido o livro e voltado aqui para saber da resenha, obrigada pelo sempre carinho! =)

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  6. Ola Mi, realmente esse livro é divino, amei a historia fiquei duas semanas sem conseguir ler outro livro...me fez refletir muito e mais uma vez me colocar no lugar da pessoa antes de julga lá!
    Como você disse, Nota Máxima!

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    1. Oi Tais! Primeiramente, obrigada por comentar aqui no blog. Fiquei muito feliz com a sua mensagem. Este livro é realmente fascinante. O considero um tema atemporal e indico de olhos fechados a quem quiser parar uns minutos para repensar a forma de ver o mundo, e principalmente de encarar julgamentos diversos. Continue entrando aqui. Beijos e mais uma vez obrigada! =)

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  7. Acabei de ler o livro e chorei,chorei muito!
    Mas amei o livro,e quando li a resenha foi como se eu tivesse escrito,pois concordei com tudo,principalmente quando vc diz que é uma história de resgate.
    Esse livro é uma lição e mostra que com tantas coisas que acontecem na vida é fácil perder a vontade de viver mas que as vezes seis meses ao lado de pessoas certas,com palavras sinceras podem fazer uma grande diferença!
    E como vc disse: Nota máxima pra esse livro!!

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    1. Oi Yasmin!!!! Primeiro de tudo, obrigada por deixar o comentário aqui no blog. =)
      Este livro é mesmo maravilhoso, não é? Uma lição de que podemos viver a vida de uma maneira diferente, e a cima de tudo, aprendendo que tudo têm um porquê e um para quê.
      Passe sempre por aqui deixando suas opiniões, é muito importante poder compartilhar ideias e visões do apaixonante mundo dos livros.
      Um abraço grande!

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  8. Então, eu primeiro assisti ao filme ( o que não considero um erro) e ai fiquei três dias pensando na história e se deveria ler o livro, e então eu li. Posso dizer que o livro tem quase 30 capítulos e chorei em uns 20! Esse livro sem sombra de dúvida é o que eu mais me emocionei lendo. Por incrível que pareça eu pensei que o Will era real. Não um personagem de um livro, mas sim uma pessoa real, e até hoje sinto a morte dele, depois que terminei o livro passei muitos dias ainda pensando sobre a história, realmente não é história de amor, mas de resgate. Esse livro é motivador! Inspira você a pensar na sua própria vida, será que minha vida é boa? Será que tenho que viver mais intensamente? E várias outras questões. A parte em que mais me emocionou (além da morte, claro) foi a parte do labirinto, onde ele a resgata do lugar, e na minha perspectiva, das memórias daquele lugar também, chorei tanto quando ela conta do estupro pra ele e as palavras dele são tão lindas! Enfim, para mim o Will é real, e irá morar no meu coração e mente pra sempre!
    Ps: estou lendo o 2°livro, to me decepcionando um pouco, mas ainda falta muito pra acabar!

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    1. Primeiramente, muito obrigada por escrever no blog dando sua opinião. É muito importante esta troca de percepções =)
      Realmente este livro marca muito quem o lê, e o segundo é fraco comparado ao primeiro. Dê uma olhada aqui no blog quando terminar a sequencia, já fiz a resenha do "Depois de você", se puder deixe sua percepção também. Obrigada e visite sempre. Grande abraço ;)

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