segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

"Às vezes, quando está escrito, as pessoas do nosso passado voltam" - Resenha do livro "Férias" - Marian Keyes

As vezes não é preciso ser cego para não enxergar um palmo do que está acontecendo na sua frente. Este fato, alias, acontece com muita frequência na nossa vida. Quem nunca ouviu de um amigo ou parente: "O problema estava dançando samba na sua frente e você se negava a enxergar". Bom, é exatamente sobre essa "cegueira" que o livro de Marian Keyes trata. 

A protagonista desta tocante história é Rachel Walsh. Ela tem 27 anos e é muito amiga das drogas. Sim, ela é uma toxicômano, mas acha que não é magra o suficiente para ser taxada como tal. Prepara-se para lidar com uma história pesada, comovente, forte e muito engraçada. Marian Keyes é conhecida por tratar em seus livros assuntos polêmicos, porém sempre com uma pitada de humor. 

Vamos ao livro: Rachel namora Luke Costello, um homem que usa calças de couro justas e têm amigos um tanto quanto esquisitos. Fato, é que os dois possuem uma química extraordinária e logo quando se conhecem, já sentem que dali não vão mais conseguir se largar. Até aí, muito bonito e romântico, se não fosse Rachel passar cada dia mais usando remédios fortíssimos para dormir, misturados a quantidades abundantes de álcool e uma leve "cheirada" na conhecida cocaína. Digo leve, porque a própria Rachel acredita que não está lhe fazendo mal. Essa rotina apenas a deixa mais relaxada, a faz dormir tranquila e não atrapalha em nada seu trabalho, seu namoro e seu relacionamento com as pessoas. Isso, é o que ela enxerga, claro. 

A reviravolta do livro se dá quando Rachel sofre uma overdose que quase tira sua vida. Nesse ínterim, sua família resolve interna-la no Claustro - a versão irlandesa da Clínica Betty Ford. Para quem nunca ouviu falar, Betty Ford é uma clinica repleta de artistas, banheiras de hidromassagem, academia e várias mordomias a altura de uma celebridade viciada em drogas. Então Rachel pensa "Porque não? Já estava na hora mesmo de tirar umas feriazinhas". Daí vem o título do livro.

As coisas mudam totalmente de cenário quando Rachel encontra homens de meia idade usando suéteres marrons, uma quarto mequetrefe para dormir, tarefas domésticas obrigatórias, nada de televisão, academia, rádio ou leituras superfulas. Na verdade, ela possui uma rotina regrada e sessões de terapia em grupo. São nessas sessões que Rachel se vê cara a cara com muitas histórias de viciados em drogas, álcool, sexo e remédios para dormir. Em cada sessão todos podem acompanhar a cirurgia mental da cegueira se tornando olhos que acabaram de renascer das cinzas, enxergando absolutamente tudo em um clarão imenso, e se dando conta da mais pura e dura realidade. Rachel se encontra no seguinte dilema: "Quem quer abrir as janelas da alma, quando a vista está longe de ser espetacular?"

Cheia de dor de cotovelo pelo sumiço do namorado Luke, e por estar cada dia mais próxima da aceitação de sua situação, Rachel busca em Chris, um homem também internado no Claustro, sua salvação. Porém, lendo o livro, sabemos muito bem que não adianta fugir para todos os lados, quando a salvação está dentro de nós mesmos. Foi aqui, que o livro me tocou de uma forma surpreendente. Rachel é levada da dependência química para o terreno do desconhecido da maturidade, e é extremamente surpreendida quando recebe a visita do namorado em um duro choque de realidade, que a leva a sair da clinica de reabilitação e encarar duros anos batalhando para ficar longe do vicio e aceitar aquilo que a rodeia. 

Não vou entregar o final do livro, mas garanto que ele comove o leitor pela luta diária de nossa protagonista, e prova que o destino é mesmo um cara "fanfarrão". Segundo o livro, se está escrito, aquilo que nos faz bem e é nosso, volta no tempo certo, mesmo que tenhamos que passar por duríssimas provas ao encontro do auto conhecimento. 

Rachel não só virou um exemplo para mim de uma mulher guerreira e astuta, mas de um ser humano normal, fraco aos próprios olhos, que erra mas é capaz de dar a volta por cima, mesmo sendo impulsiva, teimosa e orgulhosa. 

E não é exatamente assim que somos? Cegos por inteiros, mas sempre premiados pela vida pela possibilidade de voltar a enxergar? Não sei o porque, mas quando terminei o livro, me peguei com olhos marejados e refletindo: "Já sei porque as vezes tenho que sofrer tanto, eu deixo minha cegueira me dominar, mas se eu for capaz de aceitar os fatos e lutar contra meu maior inimigo, eu mesma, serei capaz de cumprir meu destino, porque o que está escrito, sempre volta ao meu encontro. 

Obrigada Marian Keyes, você me ensinou uma grande lição com este livro. Indico a todos que acham que podem estar cegos em sua própria ilusão. 

Minha nota: 10


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Meta 2014

Que tal ler um livro por semana? Ou dois por mês? Acham muito?

A Imaginarium publicou em seu site algumas dicas, que gostei tanto, que resolvi compartilhar com vocês para incentiva-los a ler sempre, a cada hora, em qualquer lugar, e ainda sentir prazer com isso.

Eu consigo. Vamos tentar você também? Ai vão as dicas:

1. Ler estimula a imaginação, é divertido, é gostoso, é instrutivo. Ajuda a entendermos conceitos, despertar para as coisas que nem imaginavamos, é uma viagem sem sair do lugar. Para completar, em geral é muito mais interessante que televisão e computador.

2. Estabeleça uma meta - você é quem vai decidir isso. Dois livros por mês já é muito bacana para quem não termina nem dois no ano.

3. Faça uma meta diária - a sugestão é fazer uma media de quantas páginas você consegue ler em um dia, e multiplicar pelo número de dias da semana, assim você mantém uma media, e deve se manter nela o ano inteiro.

4. Faça uma rotina - Exemplo: deitar na cama as 20h,  ler duas horas e dormir.

5. Vai pegar ônibus? Tenha um livro em mãos. Tá esperando a hora do salão? Nada de ver novidades dos famosos na Caras. A única coisa que a gente perdoa é ficar com pessoas queridas (nesse caso, pode deixar o livro de lado um pouco).

6. Trapacear está valendo também - comece optando por leituras curtas.

Então, está esperando o que?

Meta 2014! E não se esqueçam de entrar no blog para ler as resenhas, pegar dicas de leituras, participar dando sua opiniao a cerca do livro e também indicar novas leituras.

Um abraço a todos e boa leitura!

"O que a vida é não sabemos. O que a vida faz sabemos bem." - Resenha do livro "A assinatura de todas as coisas" - Elizabeth Gilbert

Se você não leu o livro "Comer, Rezar, Amar", com toda certeza assistiu ao filme, ou até mesmo ouviu alguma conhecida (aqui me refiro ao sexo feminino, pois a história é totalmente voltada aos dilemas de 99,9% das mulheres) contar sobre uma mulher que viaja o mundo atrás de respostas, passando por três derradeiras etapas até chegar ao tão esperado final, o descobrimento do amor próprio.

O novo livro de Elizabeth Gilbert não é diferente disso, o livro narra a história de Alma Whittaker, uma cientista que nasce no ano de 1800 nos Estados Unidos, e é filha de um ambicioso botânico que construiu por conta própria uma das maiores fortunas da Filadélfia. Desiludida no amor, viveu grande parte de sua vida de forma solitária e reservada, e devido ao destino, ela se vê encarando uma aventura atrás de respostas para a vida.  E não é da própria vida que Alma busca suas respostas, e sim para os porquês da evolução natural da vida. Lhe garanto que ao longo da resenha, você vai entender...

O livro é dividido em cinco partes, cada um conta em detalhes minuciosos todos os aspectos que vão formar a personalidade de Alma ao longo dos anos, e nos deixar absolutamente ligadas a essa personagem e por sua busca incessante por respostas. Quem nunca se pegou pensando o porque das coisas? Gozado, que como acredito que nada nos acontece por acaso, este livro foi parar em minhas mãos em um momento onde estava me questionando muitas atitudes alheias e claro, as minhas próprias.

Vamos ao livro: A primeira parte se dedica exclusivamente a contar a história de Henry Whittaker, pai de Alma. Henry era o caçula de um casal pobre que já possuía filhos em demasia, e vivia em uma casa paupérrima. Seu pai trabalhava no pomar de Kew, um jardim público situado dentro de um palácio em Richmond. Henry, com sua ambição extremada, começa a roubar algumas plantas do pomar de Kew e vender para homens importantes do meio da botânica. Desta forma, ele passa a conhecer e se especializar cada vez mais sobre as características peculiares de plantas, flores, árvores e afins. Ele vira afinal, um botânico por tabela. Irônico, não?

Eis que, o dono do pomar é Joseph Banks, um homem pelo qual Henry nutri grande inveja e admiração, pois quer um dia se tornar igual a ele, ou até mesmo, muito melhor. Banks, para puni-lo de seus roubos, mas ao mesmo tempo, vendo no garoto um enorme potencial para seu negócio, o envia de navio para explorar as terras do Taiti atrás de novos tipos de plantas. E é desta maneira que Henry constrói seu império, o White Acre, onde Alma nasce e vive praticamente sua vida inteira.

Vamos a nossa protagonista: Alma é filha de um homem que tem como meta ser sempre rico, independente dos escrúpulos necessários para tal  fim, e de uma mulher absurdamente inteligente e metódica, que conhece tudo sobre botânica, e educou Alma desde o momento em que disse sua primeira palavra a se portar como uma mulher além de seu tempo, só tendo o conhecimento como fonte de vida e nada mais além disso. "Quem possui conhecimento, possui poder". Foi assim que Alma cresceu, junto a uma irmã adotiva, Prudence, que não possuía todos os dotes espetaculares de Alma, porém tinha posse de um, que infelizmente Alma não teve tanta sorte: a beleza estonteante.

Grande parte do livro conta a relação desta família um tanto quanto diferenciada, e em um determinado momento, um personagem peculiar é introduzido a história, Ambrose Pike, o responsável pelo inicio da jornada incessante de Alma por respostas imaculadas. Pike revela a Alma a teoria da "Assinatura de todas as coisas". Segundo ele, Deus teria escondido pistas para o aperfeiçoamento da humanidade dentro da estrutura de cada flor, folha, fruta e árvore da terra. A natureza inteira era um código divino. Por exemplo: muitas plantas medicinais se assemelhavam as doenças que podiam curar, ou aos órgãos que seriam capazes de tratar. O manjericão, com suas folhas em forma de fígado, é o remédio obvio para doenças do figado. A erva celidônia, que produz seiva amarela, poderia ser utilizada para tratar o amarelado causado pela icterícia. Nozes, em forma de cérebros, são providenciais em caso de dores de cabeça, e por aí vai. Pike, não só acreditava nisso, como também se considerava um anjo enviado por Deus, e afirmava ouvir nas pessoas e na natureza suas vozes gritando mesmo quando o som não saia de suas bocas. Alma, sempre muito cética (assim foi ensinado por sua mãe), apenas encarou a confissão de Pike como uma loucura de um gênio que desenhava orquídeas como se elas estivessem vivas em uma folha de papel.

Alma e Pike se casam, mas um casamento que não sai da forma que Alma imaginava. Pike queria um mariage blanc (trata-se de um casamento casto, sem trocas carnais). Alma, até então com 50 e poucos anos de idade, casada, porém virgem, acaba não aguentando tamanha humilhação e o taxa de louco, mandando-o assim de navio para o bom e velho Taiti. Praticamente um exílio pelo seu não cumprimento de deveres de marido. Como poder amar enlouquecidamente uma pessoa e não poder toca-la? Alma não conseguia entender.

Passado muitos anos, Alma recebe de Dick Yancey, funcionário de seu pai nas transações comerciais em alto mar, a noticia que Pike morreu no Taiti, e sua valise cheia de seus desenhos de orquídeas é deixada com Alma, revelando um segredo que a priori explica o porque de seu casamento fracassado. Pike possuía desenhos de um homem nu em posições extremamente eróticas. Alma chega a conclusão que seu ex marido era um sodomita. Tudo vira uma extrema confusão, quando seu pai, Henry, acaba falecendo, e Alma, não vê mais sentido em viver o resto de sua vida na mansão de White Acre, e resolve abandonar tudo e partir para o Taiti, atrás do culpado pelo seu fracasso no amor. Nesse ínterim, Alma descobre que sua irmã adotiva renunciou de forma altruísta à sua felicidade em nome do amor e devoção a sua família de adoção. Alma não vê outra forma de agradecer, se não deixando tudo no nome da irmã, que na época lutava de forma incessante contra a escravatura e o comércio de escravos.

A penúltima parte do livro retrata toda a aventura de Alma, narrando de forma consistente suas experiencias em alto mar, e vivendo no meio de taitianos de forma quase selvagem. É lá que ela conhece, Amanhã Cedo, o nome do homem que ela descobre afinal, seduziu e induziu seu marido a praticar atos sodomitas. Ela percebe afinal, que Pike realmente buscava a purificação da alma através da assinatura de todas as coisas. Amanhã Cedo, era apenas um missionário perverso, que assim como seu pai, não media esforços para satisfazer suas vontades. Pike foi afinal, apenas uma vítima.

É lá, que Alma tem seu primeiro insight sobre a evolução das espécies. Em um momento, onde se viu entre a vida e a morte, ela acha forças inexplicáveis para tentar sobreviver, e após este episódio, resolve sair do Taiti e ir para a Holanda, onde a família de sua mãe ainda vivia. Como boa cientista e possuidora de conhecimentos invejáveis, Alma embarca numa jornada pelas respostas de uma teoria que ela aprendeu na jornada pela resposta de seu próprio sofrimento: a origem da natureza.

A teoria de Alma se baseava no seguinte: o mundo natural era o campo de amoralidade e de luta constante pela sobrevivência. Todas as formas se superavam enfrentando seus rivais para assim predominar sua própria especie, permanecendo e se adaptando ao ambiente, a fim de continuar vivo. Porém, havia nessa teoria uma lacuna a ser preenchida: se fosse assim também na humanidade, porque o altruísmo ainda existia? E cada vez mais forte? Porque uns passavam fome para dar comida aos outros? Porque pessoas se arriscavam em prol da continuidade da vida dos outros?

O momento de clímax do livro é quando nos é apresentado Charles Darwin, um naturalista, como bem sabemos, que ficou famoso por convencer a comunidade cientifica da ocorrência da evolução das especies (sim, nós somos a evolução dos macacos) e como ela se dá através da seleção natural e sexual.

Ironia demais nessa obra, onde é a chegada a hora que nos é exposta a mesma teoria de Alma desde sua volta do Taiti onde buscava respostas pela sua falta de evolução no amor.

Alma se vê no meio de uma das mais importantes descobertas do século, mas ela descobre dentro de si sua própria natureza, através de uma narrativa cheia de desejo, ambição e amor. Convido você a embarcar nessa jornada rica de informações sobre nossa história, mas também rica em histórias de vida, de pessoas, de fundamentos, ideias e superstições.

Termino essa resenha deixando o que pude absorver desta leitura intrigante e muito bem construída: a vida é um eterno enigma e muitas vezes é uma provação, mas, se a pessoa é capaz de achar nela alguns fatos, ela já possuí o conhecimento, pois ele é o bem mais precioso de todos.

Minha nota: 9,0

domingo, 1 de dezembro de 2013

"Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas." - Resenha do livro "O Perfume" - Patrick Suskind

Todas as vezes que me posto em frente ao meu notebook para escrever sobre um livro, meus dedos iniciam um trabalho insano de palavras, que só consigo parar quando o texto já está no final, porém desta vez, me peguei encarando a tela e refletindo milhões de vezes como vou me expressar sobre um livro de extrema dificuldade. O entendimento de uma alma mergulhada nas trevas, como a de Jean - Baptiste Grenouille, o protagonista desta magnífica obra, com certeza, me deixou marcas profundas de desespero, aflição, agonia e cheiros. Sim, a sensação olfativa é tão absurda, que juro por tudo que considero mais sagrado, que pude sentir cheiros a cada vez que abria o livro de Patrick Suskind.

O livro começa com a narrativa do nascimento de Grenouille. As palavras são elaboradas para criar o maior impacto possível no leitor, pois exala uma sensação extrema de nojo. A profusão de detalhes, minúcias, enriquecidas pelas associações olfativas e visuais de sua vinda ao mundo, já anuncia aquilo que com a leitura, vai formar a personalidade perturbadora de um assassino. Grenouille já nasce arrastando consigo uma morte, a da própria mãe. Nosso protagonista se despede de qualquer sentimento de amor, solidariedade, fraternidade e tudo que se relacionar ao altruísmo, para viver apenas dentro de seu universo, que gira em torno de uma fantasia surreal. Grenouille não possuí cheiro nenhum, mas em compensação ele cheira absolutamente tudo de uma forma um tanto quanto excêntrica.

Sua ausência de odor, numa sociedade onde o banho não fazia parte dos hábitos de higiene diários, o torna anormal perante algumas pessoas, que chegam até o apelidar de "ser proveniente do demônio". Essa característica perturbadora o torna um ser excluído da sociedade, pois ele se torna completamente desapercebido por onde passa.

O mais perturbador da história não é sua falta de odor, e sim as pessoas que passam pela sua vida, que voluntariamente ou não, contribuem para o desenvolvimento de sua alma assassina. Eles sofrem uma especie de castigo, talvez por terem contribuído para a propagação do mal, personificado na pessoa de Grenouille.

O primeiro contribuinte é a mãe de Grenouille, que o carrega no ventre por nove meses e paga com a vida o fato de ter gerado um monstro. A segunda contribuinte é Madame Gallard, dona de um orfanato onde Grenouille vive boa parte de sua infância. Madame Gallard foi vitima de maus tratos na infância e devido a um acidente, perdeu o olfato e com isso não identifica a falta de odor em Grenouille.

No livro, fica muito claro que a capacidade de afeto e olfato estão intimamente relacionados, então somos levados a crer que Madame Gallard não consegue se afeiçoar por nenhuma criança do orfanato justamente pelo fato de não conseguir cheira-las. E é justamente aqui que começamos a entender como Grenouille se sente: um ser que não era amado e nem estimado por ninguém, simplesmente por não possuir cheiro.

O castigo de Madame Gallard é o de terminar seus dias de uma forma completamente oposta aquilo que seria o seu desejo: a morte misera e precária dentro de um hospital publico após uma longa e próspera vida.

O terceiro contribuinte é Grimal, o curtidor de peles que Grenouille trabalha como escravo. Grimal utiliza mão de obra infantil composta por órfãos e os deixa a mercê de contaminações e infecções contraídas pelo contato com animais em decomposição e com os vapores corrosivos utilizados para o tratamento de peles. Grenouille possui uma notória resistência a tudo isso e é considerado extremamente valioso, sendo assim vendido ao perfumista Baldini. Já Grimal, sofre um estranho acidente após a venda de seu mais valioso órfão.

Com Baldini, Grenouille aprende tudo sobre o oficio de um perfumista, se tornando não só um verdadeiro mestre na criação de odores, mas cada vez mais próximo de seu único objetivo de vida: ele deseja poder exalar o odor das pessoas que o fascinam, o carisma que lhe foi negado a nascença.

Voltando a Baldini, este vê todos seus sonhos literalmente desmoronarem quando Grenouille o abandona. Mais um castigo...

A trajetória assassina de Grenouille se inicia quando ele percebe um cheiro inusitado, que vem de uma belíssima jovem ruiva. Surge-lhe então uma ideia: ele quer aquele perfume para si. Ele quer inspirar o amor, a adoração nos outros através do cheiro natural que aquela jovem emana. Ele então, a mata com o único intuito de se apoderar de seu perfume. A partir daí, o que vai guiar sua vida é conseguir extrair o perfume, a essência da beleza no seu estado mais puro e como consequência conseguir a submissão da humanidade. Ser um Deus glorificado por todas os seres vivos através do odor.

Aqui estamos falando somente da primeira parte do romance (eu disse que seria complexo falar sobre esta obra). Na segunda parte, temos um tempo muito longo onde Grenouille se isola da humanidade por 7 derradeiros anos, onde pela primeira vez percebe que ele próprio não possui odor. Um encontro com si mesmo em uma terapia de choque, o isolamento de todo possível odor humano o faz perceber que ele não é como todos. Então, resolve retomar seu grande objetivo e volta a civilização, onde se encontra com o lunático Marquês Tallade- Espinasse, um pesquisador que procura a confirmação para uma extravagante tese sobre um suposto elixir para a vida eterna. Mais um contribuinte que acaba morrendo congelado nos Alpes imediatamente após a partida de Grenouille.

Na terceira parte do livro, Grenouille inicia então, a real jornada para a execução do seu grande plano. Nesta fase, ele conhece Madame Arnulfi, uma artisan parfumeur, que o ensina como extrair odores de flores. Grenouille encontra o que necessita e passa a matar obsessivamente os seres belos para lhes extrair essa mesma beleza e utiliza-la depois como instrumento de vingança contra a humanidade, que sempre o excluiu por ser destituído dessa mesma beleza odorífera.

O ingrediente principal do seu grande perfume é Laure, a moça mais bela da região, cujo odor deixou Grenouille completamente obcecado. O pai de Laure, Richis, acaba por meio de um insight prevendo que a última vitima do assassino de belas moças, seja sua filha. Ele não entende o porque dessas mortes tão horrendas, mas por um erro de calculo, acaba facilitando os planos de Grenouille, e este consegue realizar o seu grande feito e cria assim, o melhor perfume do mundo.

Aqui, entro no momento mais inebriante do livro, a cena mais surreal que já visualizei: Grenouille é pego pela policia e sua pena é ser castigado como Jesus foi na cruz em plena praça publica, visto por centenas e milhares de pessoas. Aqui deixo uma pergunta: Não era assim que ele imaginava seu objetivo final? Ser conclamado como Jesus Cristo?

Voltando a cena, neste momento Grenouille derrama sobre si uma singela gota de sua criação, a junção da essência de 25 jovens deslumbrantes, e todas as centenas e milhares de pessoas iniciam uma gigantesca orgia, desencadeada pelo sortilégio do perfume, que enlouquece a todos, os envolvendo em uma luxuria e erotismo sem igual.

Neste momento, Grenouille percebe que nunca será amado por si mesmo, mas apenas quando estiver em posse do perfume divino. Compreende então, sua verdadeira essência: sua satisfação não está no amor, mas no ódio. Ele então, toma a mais controvérsia decisão: morre por obra de sua própria criação mais perfeita: uma morte desencadeada por excesso de paixão. Grenouille morre através do canibalismo, onde pessoas o comem por estarem inebriadas com seu cheiro. E a última frase do livro é: "Pela primeira vez fizeram algo por amor".

Acredito piamente que quem leu esta resenha até o final está sem saber o que pensar, prefiro não dizer muito, pois como Grenouille, a graça e a busca do entendimento está no sentir e não no falar. Sinta como eu, essa força sobrenatural da busca incessante pelo auto conhecimento e da necessidade sobre humana de amar e ser amado.

Uma obra magnifica sem descrição. Estou estupefata pelo inebriante cheiro da aceitação.
Definitivamente o melhor livro que li em minha vida.

Deixo aqui uma das melhores citações da obra:

"...as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar ao aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração - ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas"

Para quem se interessar, o livro foi submetido a imagens no belíssimo filme de Tom Tykwer (Perfume - A história de um assassino) gravado em 2006. Deixo aqui o trailer, mas aconselho seriamente a não viverem sem ler esta obra, e também sem deixarem de ouvir sua extravagante trilha sonora. Uma viagem a essa história altamente qualificada em criatividade e busca por incessantes respostas.





Minha nota: a máxima que houver

domingo, 24 de novembro de 2013

Qual seu livro favorito?

Olá amantes da leitura,

Já estamos quase chegando ao fim de mais um ano, e eu gostaria de saber de vocês, qual foi o livro que vocês mais gostaram de ler esse ano? Pelo menos, até agora.

O bacana de dividirmos esse espaço com nosso livro favorito de 2013, é que podemos incentivar outras pessoas a ler o que ainda não tiveram a oportunidade de ler e também conhecer um pouquinho mais do gosto de cada um...e claro, me ajudar com dicas de leitura para o blog.

Eu vou deixar aqui, o livro que mais me marcou este ano: Um dia de David Nicholls.
Que alias, foi a primeira resenha que fiz neste blog, que também nasceu este ano!

Conto com a participação de vocês!

Abraços a todos e boa leitura!

"O amor nunca morre de morte natural. Ele morre porque não sabemos como renovar a sua fonte. Morre de cegueira, dos erros e das traiçoes. Morre de doença e das feridas, morre de exaustação, das devastações, da falta de brilho" - Resenha do livro "Tramas que a vida tece" - Elizabeth Marra

Engraçado como a vida capricha na hora de tecer suas tramas. Ler este livro começou com um destes caprichos que gosto de apelidar de "excêntrico".

Sabe aqueles momentos que você conhece pessoas que logo simpatiza, mas por obra do dia a dia acaba não estabelecendo um contato mais forte?

Eis que por ironia do destino, neste ano, fiz uma viagem com o objetivo de resolver uma dúvida de cunho pessoal e nenhuma das pessoas do meu meio mais presente pode me acompanhar. E acreditem, eu precisava de companhia. De repente me vi fazendo um convite a uma destas pessoas que conheci em um momento da vida.

Nasceu desta viagem, a construção de uma amizade fortificante e bonita, e novamente, pega de surpresa pela vida, esta caprichosamente me colocou frente a frente com o ganho que considero mais precioso hoje em dia, a amizade.

 Fui angariada pelo presente de poder ler e fazer a resenha deste livro, que pertence a autora Elizabeth Marra, mãe da minha mais nova amizade.

Vamos ao livro: Tramas que a vida tece conta a história de Luiza. Uma psicologa que enfrenta muitos desafios para se tornar bem sucedida e realizar seus sonhos pessoais. Luiza possui uma família unida, composta por dois irmãos: Rui e Raquel.

A trama começa com uma tragédia de já deixar os leitores sem fôlego: Rui é piloto de avião e sofre um acidente que acaba matando sua mulher grávida e o deixando preso a uma cadeira de rodas pelo resto da vida.  Raquel, por sua vez, também tem sua dose de tragédia, conhece o homem de sua vida, porém o mesmo assume a culpa pelo assassinato que sua mãe cometeu a um político envolvido em um escândalo social.

Porém o foco do livro é Luiza. Ela trabalha em um hospital e conhece o também médico Augusto, um homem competitivo, que não mede esforços para conseguir o que quer, e não suporta ouvir a palavra "não" de qualquer tipo de pessoa. Eles acabam se envolvendo e Augusto brinca com os sentimentos de Luiza, fazendo-a se apaixonar e não ser correspondida. O que Augusto não espera, é que Luiza não vai cair em sua armadilha por muito tempo, e o jogo ironicamente se inverte, fazendo com que Augusto faça de tudo (aqui, eu digo, de tudo mesmo) para sair por cima de uma batalha, que na verdade ele mesmo cria dentro de si.

A história surpreendentemente vai sendo contada e os personagens vão se encaixando, de forma a enfatizar, que o capricho da vida é exatamente esse. Qual o motivo de conhecer pessoas? Em determinados momentos achamos que não passam de simples pessoas que de nada vão nos acrescentar na vida, mas que mais pra frente percebemos que elas tinham que estar ali, seja para ser um capítulo a mais e nos ajudar em momentos de aflição, ou simplesmente para no momento certo se tornarem peças fundamentais para contar a nossa história.

O desenrolar da história se dá quando Luiza descobre a paixão reprimida de Jorge, o dono do hospital. Ela fica grávida de Augusto, que por outro lado engana Angélica, uma mulher inocente, porém cega pela paixão acaba colocando a vida de nossos personagens em muito risco.

Não vou aqui acabar com a graça do livro e entregar o final da história, pois como o próprio titulo diz, a vida tece tramas, coloca pedras no caminho, mas o destino é capaz de brincar de formas surpreendentes com a vida das pessoas. E novamente, percebemos que são as pessoas que tecem aquilo que vai nos acontecer de positivo ou negativo na vida.

O título desta resenha traz aquilo que considerei a principal mensagem do livro: o amor não morre de forma natural.

Quando Rui perdeu sua mulher e sua filha ele achou que junto com elas foi para sempre a oportunidade de amar. Quando o amor da vida de Raquel fica preso por tempo indeterminado, ela achou que sua capacidade de amar ficaria presa sem data de expedição. Luiza, Augusto, Jorge e Angélica, lutaram de forma branda e fraca ao mesmo tempo por acharem que não eram dignos do amor.

Porém eu digo, o amor só morre porque não renovamos sua fonte, não cuidamos de nós mesmos, os primeiros coadjuvantes do sentimento. Traímos nossas percepções, deixamos o medo e a insegurança tomarem conta de nossas vidas, e então, aos poucos o amor vai morrendo de exaustação, de falta de coragem.

Mas o engraçado aqui, é que mesmo o ser humano fazendo tudo de forma errônea, a vida sempre nos dá uma chance e coloca bem a nossa frente, aquilo que não somos capazes de enxergar.

Ler este livro, me fez perceber uma coisa: a excentricidade da vida é o que conduz nosso destino.

Parece que recebi um conselho em forma de livro..."Preste atenção a sua volta. Abra seu coração. Permita-se deixar que a única coisa que morra de forma natural é a falta de oxigênio, não a falta de amar, de perdoar os outros e a si mesmo, fazendo com que o amor próprio conduza ao amor ao próximo."

Não poderia terminar esta resenha sem agradecer ao capricho que a vida me deu mais uma vez de forma excêntrica, em colocar em minha vida, mas uma trama que só basta a mim tecer de forma justa.

Minha nota: 10

Obs: O livro não se encontra em livrarias, mas se houver interesse, por favor, falem comigo.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

"Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida, já é a própria vida" - Resenha do livro "A Insustentável Leveza Do Ser" - Milan Kundera


Ler um clássico possui um insustentável peso para o leitor. Abri o livro de Milan Kundera com algumas expectativas do que ouvi falar aqui e ali, e me vi grifando frases, fazendo anotações, como se  fosse encarar uma prova de difícil acesso. E não deixa de ser exatamente isso, pois escrever uma resenha desta obra tão polêmica, não é uma tarefa muito fácil. Mas prometo que farei o meu possível para que vocês sintam o que até agora está confuso em milhões de reflexões dentro de mim.

A insustentável leveza do ser (1984) tem o formato de um romance que é desenvolvido através de enredos erótico-amorosos de quatro personagens com personalidades bem distintas. Somado a isto, acompanhamos uma época histórica de extrema opressão em Praga na época de 1968 (o comunismo).

Porém, aqui quero destacar que o romance e os cenários de guerras, são apenas panos de fundo da história. O que Kundera tem como objetivo para esta obra é discutir a relação peso/leveza existente na nossa vida, na dualidade de cada ser.

Vamos falar dos personagens: Tomas é um médico que vive a vida levado por uma leveza extremada. Ele é apaixonado pela busca do prazer, e sai com milhares de mulheres para descobrir em cada uma delas pequenos detalhes que as fazem serem "únicas". Ele não se considera mulherengo, apenas um pesquisador de excentricidades humanas. Devido a um acaso, que é narrado minuciosamente diversas vezes na obra, ele se casa com Tereza, uma mulher simples do interior, que foi a única capaz de despertar em Tomas algum tipo de sentimento. Tereza não consegue ser leve como o marido, ao contrário, ela é muita fraca e sensível, e mesmo sabendo das traições de Tomas, não consegue deixa-lo, pois sua vida se resume a fiel dedicação do ser que ela idolatra como o motivo de sua in(felicidade). O outro casal que compõe a obra é formado por Sabina e Franz, que se misturam nos traços de personalidade de Tomas e Tereza. A leveza de Tomas se repete em Sabina e certas fraquezas de Tereza se repetem em Franz. Além deles, há Karenin, uma cadela que acompanha o casal Tomas e Tereza, e possui um capitulo inteiro dedicado a si. Karenin desmistifica sua história e demonstra o verdadeiro exemplo de leveza/pureza que possa existir.

Agora vamos falar do que realmente o livro se trata: através das histórias dos personagens, a obra nos mostra, como na vida, que tudo aquilo que escolhemos e apreciamos pela leveza acaba revelando um peso insustentável.

Alguém aqui já ouviu falar de memória poética? Existe uma zona em nosso cérebro onde registramos tudo que nos encanta, o que nos comove e o que dá beleza e sentido em nossa vida. Segundo Milan Kundera, o amor começa no momento em que uma pessoa se inscreve com uma palavra em nossa memória poética. Por conta de nossas escolhas ou apenas um acaso que nos leva a tomar determinadas decisões, pensamos que aquilo que nosso cérebro trabalha como forma de poesia, se torna mais cedo ou mais tarde um peso de difícil sustentação. A dualidade mora exatamente ai, dá pra se ser feliz e leve o tempo todo sem certa carga de peso?

Segundo o livro, não. Os opostos andam juntos o tempo todo e o equilíbrio só pode existir se ambos coexistirem lado a lado.

Talvez apenas a vivacidade e a mobilidade da inteligência escapam a condenação do pesado/leve, mas é preciso experimentar, cada um a sua maneira, o peso insustentável que baliza a vida, o constante exercício de reconhecer a opressão e tentar ameniza-la de alguma maneira. Pois querendo ou não, a opressão vai sempre existir.

A velha história de "cada ação, possui uma reação". Tomas se sentia leve sem Tereza, porém quando ela apareceu, a mesma lhe despertou paixão e Tomas não conseguia imaginar sua vida sem ser ao lado da mulher amada, mas esse amor trouxe consigo uma carga de responsabilidade sobre outro ser, uma dedicação que antes não era necessária no seu dia a dia. Sabina se sentia atraída pela aventura e experimentação de novas sensações, mas quando conheceu Franz percebeu que a sensação de segurança falava mais forte, mas não se pode ter tudo na vida, não é mesmo? Tereza queria ser leve, dormir com outros homens como seu marido fazia com outras mulheres, mas carregar a leveza do ato junto com a culpa do mesmo tornava tudo mais pesado. Franz defendia os fracos e oprimidos, mas não conseguia canalizar essa ação dentro de si próprio, e se relacionar com Sabina lhe fazia carregar um peso daquilo que deveria lhe deixar leve.  Já Karenin, por ser um ser puro que se felicita com apenas atos rotineiros, o pesado e o leve acabam se tornando uma coisa só.

Quanta dicotomia, não é mesmo?

Mas vamos nos auto analisar, pois acredito que este livro é nada mais nada menos, que um verdadeiro divã nas analises de nossas escolhas.

O peso/medida de sua felicidade está sendo ditado pela sabedoria de que qualquer que seja o caminho que você escolha, o leve e o pesado sempre andará lado a lado?

A busca incansável pelo leve, nada mais é do que a lei do eterno retorno, aonde um dia tudo vai se repetir tal como foi vivido e que essa repetição ainda vai se repetir indefinidamente. Até porque, por mais que as escolhas mudem, sempre viveremos a mesma situação em cenários opostos (a insustentável leveza de ser e viver).

Quem dera a vida fosse uma peça de teatro, onde antes pudéssemos ensaiar nossas escolhas. Mas a verdade, é que quando ensaiamos pela primeira vez, já estamos vivendo. Dicotomia novamente...

Em 1988, o diretor Philip Kaufman dirigiu a adaptação do livro em filme, que leva o mesmo nome. Vale a pena para ver retratado em imagens aquilo que viajamos em palavras. Mas sem dúvida, mesmo com três horas de filme, o mesmo não supera o livro e todas as reflexões que este se propoe a oferecer.

 Deixo aqui, a frase que mais me marcou no livro e o trailer do filme.

“O seu drama não era o drama do peso, mas o da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser."


Faça sua reflexão neste momento: Qual tipo de opressão você luta contra, e qual o tipo de peso/leveza você carrega consigo?

Eu já sei minha resposta...

Minha nota: 10 com louvor


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Iniciativas literarias

Olá amantes de livros,

Gosto muito de novidades e resolvi compartilhar com vocês curiosidades interessantes do mundo dos livros.

Aí vão algumas dicas:

Estante Virtual

É um sebo online. Aqui vocês vão achar livros seminovos ou usados em acervos espalhados pelo Brasil. Eles fazem entregas com fretes bem em conta. O bacana é que para cada livro há uma descrição do estado do mesmo (folhas rasgadas, amareladas, escritas e etc). Então você sabe exatamente o que está comprando. Já virei freguesa  e admito que estou viciada. Os olhos btilham quando você se depara com livros a R$ 4,00.
O que mais me chamou atenção: por ser sebo você encontrará reliquias e coleções bem antigas. Pra quem ama livros mesmo!


- Poiesis (Organização social de cultura)

 É uma organização não governamental que, em 2008, recebeu a qualificação de Organização Social (OS) por parte do Governo do Estado de São Paulo, habilitando-se para ser executora de políticas públicas na área cultural. Bem bacana, conta com um projeto chamado "Espaço de leitura". Ao ar livre, são contadas histórias que variam de generos a cada mês. É gratuito e enriquecedor para pessoas de qualquer idade.


- Biblioteca Mario de Andrade

Pertencente a prefeitura de SP, o espaço da biblioteca Mario de Andrade promove encontros de leitores, onde eles tem a oportunidade de dividir leituras, impressões e informações sobre obras literárias, e até uma oportunidade de mostrar seus próprios textos. Funciona como um Sarau, daqueles de antigamente da época do modernismo. Vale a pena!


Essas foram apenas algumas, e vocês, sabem de algum evento bacana? Um espaço voltado para leitura que vale a pena a visita? Participe desse espaço dando as suas dicas.

Os livros só vão sobreviver se nós amantes dos mesmos nunca deixarmos eles cairem no esquecimento. E são através de propostas como as citadas acima que faremos isso acontecer.

Conto com a ajuda de vocês.

Um abraço!

"Você está onde se põe. É a lei da vida. Se você se colocar em um lugar melhor, sua vida mudará e coisas boas começarão a acontecer. A escolha está em suas mãos." - Resenha do livro "Se abrindo para a vida" - Zibia Gasparetto

Certa vez assistindo a um show de calouros, ouvi a seguinte frase saindo da boca de um ex-viciado em drogas: "Onde houver uma chance, sempre haverá uma escolha".

Não pude deixar de lembrar desta frase quando li a nova obra de Zibia Gasparetto. Já imaginei que tiraria uma grande lição deste livro, pois todos os que já tive a oportunidade de ler da autora, me senti assistindo aulas de um professor que se paga muito caro a hora/aula: a vida.

Se abrindo para a vida narra a história de Jacira, uma mulher completamente anulada de suas próprias vontades. Com 38 anos de idade, nunca havia tido um namorado, vive com os pais (uma mãe que finge estar o tempo todo doente para ter a desculpa de não fazer absolutamente nada, e um pai recém desempregado que passa os dias sentado em frente a televisão). Seus únicos dois irmãos, fugiram de casa quando ainda jovens, e há mais de 10 anos sua família não tem sequer noticias de seus paradeiros.

Nossa protagonista é costureira e o pouco que ganha, sustenta uma casa pobre a moedas contadas. Vocês já podem imaginar, que a vida de Jacira não é fácil, e o desanimo, depressão e falta de auto estima fazem parte de seu dia a dia.

Por se tratar de um livro espirita, "nada nos acontece por acaso", Jacira tem uma oportunidade de ouro, que a faz repensar em suas atitudes perante as dificuldades que vive. Eis, que ela descobre no amor próprio a chave para a superação.

Em falar em amor próprio, chego ao ponto chave desta obra. Qual o sentido de se ter tudo, se o que nos falta é o amor principal da nossa vida? O nosso mesmo?

Quando nos abrimos para a vida, descobrimos que a felicidade é o destino de todos, mas os problemas são sempre maiores, as desilusões as mais graves, os tombos os mais doloridos, as decepções as piores que já vivemos e o azar que se condiciona o tempo todo a nos rodear.

Será mesmo?

Voltando ao ex viciado em drogas do começo da resenha. Foi uma escolha dele entrar no mundo das drogas e praticamente acabar com sua vida, mas foi apenas uma chance que a vida lhe deu e ele escolheu dar a volta por cima e enxergar dentro de si que havia uma luz muito mais brilhante e pronta para abrir suas portas para um renascimento interno.

E foi assim que aconteceu também com Jacira, a propria anulação foi a falta de se amar por completo, e quando ela passa a fazer isso, sua vida gira em 360 graus, e o término do livro só vem provar que as coisas podem mesmo não acontecer por um acaso, mas os acasos são exatamente as tais das chances. Porém, fazer esse acaso ser um beneficio, depende de nossas escolhas, e são através delas que nos permitimos encontrar a real felicidade.

Sabe aquela pessoa que do nada entra em sua vida? Ou uma que passou e te disse uma frase que marcou seu dia? Ou um livro que abriu em uma página e te forçou a ler uma frase? Ou então, um acontecimento muito ruim, que mas para a frente se mostrou o motivo de dias melhores?
Preste atenção, porque ali pode estar a sua chance de fazer uma escolha para uma mudança significativa em sua vida.

Está esperando o que? A vida é muito preciosa para ser desperdiçada com escolhas erradas ou a ignorante falta de uma.

Como diziz Sébastien -Roch Chamfort: "É pelo nosso amor-próprio que o amor nos seduz. Como resistir a um sentimento que embeleza o que temos, que nos restitui o que perdemos e nos dá o que não temos".

Para quem ainda não enxergou as chances, indico a leitura como um aprendizado de vida ou uma restituição de como ela vendo sendo trilhada perante suas escolhas.

Minha nota: 9,5

OBS: Deixo aqui o video de Chris Rene, o ex viciado em drogas. Um video que considero gratificante na questão de boas escolhas.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

"Como poderiam a predeterminação e o livre- arbítrio existirem ambos?" - Resenha do livro "Quando ela acordou" - Hillary Jordan

Lembram-se quando disse em posts anteriores que sou altamente atraída pelas capas dos livros? 

Parece que mais uma me fisgou, quando andando pela livraria bati o olho em "Quando ela acordou". 

A capa traz uma imagem de uma mulher encapuzada, onde se consegue apenas ver seu nariz, boca e um pedaço de seu pescoço. O que chama a atenção é que ela é vermelha. Isso mesmo, sua pele é da cor vermelho sangue. Na hora em que vi, pensei: "preciso saber o porque". 

Eis que soube do porquê em apenas dois dias, que se passaram voando com essa leitura que me deixou de boca aberta e ao mesmo tempo pasma em como a criatividade de uma autora pode voar longe, talvez tão longe, que nem eu como leitora jamais sonhei em ir. 

O livro conta a trágica história de Hannah Payne. Ela é uma menina que foi criada com preceitos extremamente radicais em relação a vida. Sua família é religiosa fervorosa e se dedica 100% do tempo a Igreja. Hannah aprendeu, que a mulher foi criada para servir ao homem, obedece-lo e nunca questionar suas atitudes ou decisões. Gays, sexo sem objetivo de procriação, música e livros (exceto os religiosos e eruditas), roupas que mostrem qualquer característica sedutora do corpo de uma mulher, são considerados atos de Satã, pecados mortais e sem perdão. Deus nos colocou no mundo para servi-lo, ser bom sem questionar o porque de nada e nem de ninguém. Foi assim que Hannah cresceu, dentro de uma caixinha devota a um Senhor que castiga, pune e não perdoa nenhum "pecado". 

A tragédia se inicia quando Hannah é acusada de um assassinato. Aqui o livro se torna interessante: ele se passa em uma era futurística, onde os julgados como criminosos tem sua pele geneticamente alterada para combinar com o delito que cometeram.  Os Cromos, como são chamados, ficam 30 dias encarcerados em uma sala cheia de espelhos enquanto a nova cor de sua pele vai tomando forma, e são assistidos como em um reality show para o resto da população.

Após este pequeno mas tortuoso tempo, eles são soltos e vivem entre os seres humanos "normais",
angariando na pele (literalmente) o preconceito, humilhação e maus tratos. E apesar de viverem em sociedade, possuem um chip onde são controlados por qualquer um a qualquer hora. Como vocês devem ter imaginado, vermelho é a cor do pior crime, dos estupradores, assassinos e mau caráteres. 

A vitima de Hannah foi seu filho, que não chegou a nascer. Ela cometeu um aborto de um caso extraconjugal que teve com o pastor da Igreja que sua família frequenta e tanta adora. Porém, ela está decidida a proteger a identidade do pai do bebê e do homem que realizou o "procedimento".

E é assim que se inicia a trajetória da nossa protagonista, uma menina que foi obrigada a mudar sua
identidade, e passa a enxergar a vida de uma maneira completamente diferente daquela que foi ensinada a ela. 

O livro, além de ser bem narrado, prende a atenção e o folego em um thriller emocionante, que aos poucos vai revelando o descobrimento de uma mulher estigmatizada, que luta o tempo todo para sobreviver a um cenário de preconceitos. A batalha interna que ela mesma cria entre Igreja e Estado e a obrigação de se ver no espelho e questionar os mesmos porquês que questionava enquanto "pessoa normal", mas agora, na pele de uma Cromo e considerada extremamente perigosa.

O que mais me deixou com vontade de escrever esta resenha, foi a visão que Hannah vai criando conforme o seu tempo como criminosa vai passando. Ela questiona se o seu Deus é o mesmo que o dos outros. Pode -se inventar seu próprio Deus? Definitivamente, na fé em que ela fora criada, não. Ela compara esse pensamento ao quadro de Mona Lisa.As mãos da moça misteriosa de Da Vinci permaneceriam sempre cruzadas daquele jeito, ela jamais se viraria para olhar a paisagem atrás dela, jamais afastaria do seu rosto um cacho de cabelos caídos, jamais bocejaria nem sorriria de uma orelha a outra. As pessoas poderiam observa-la, mas nunca pegariam um pincel e mudariam alguma coisa nela, só porque assim queriam ou acreditariam. Só pensar em uma coisa dessas, já seria heresia. 

Será que seria mesmo? 

Vamos refletir: qual a diferença entre as ações de Deus e as nossas próprias escolhas? 

Tornar-se amante do pastor da Igreja, submeter-se a um aborto, decidir por escolhas que afetariam o resto de sua vida ao lado das pessoas que ama, experimentar diferentes formas de sentir prazer, foi uma ação que Deus impôs a Hannah antes de ela nascer, como uma missão, ou foi sua própria escolha que a fez trilhar aquele caminho? Como poderia, assim como o titulo desta resenha, a predeterminação e o livre arbítrio andarem juntos, lado a lado? 

E se foi sua escolha, porque ela optou por uma que só lhe causaria dor? Fui questionando isso ao longo do livro e descobri junto a Hannah os seus motivos.

Ela sempre se sentiu presa dentro de uma caixa. A caixa da devoção a religião, a caixa do proibitivo, de ser a boa moça que apenas obedece, a santa imaculada. E depois de condenada, a caixa de ser manejada o tempo todo por outras pessoas. De ser dependente. 

Mesmo "livre" e vivendo como uma pessoa de pele "normal", ela estava presa. Foi no sentido literal da palavra "presa" onde ela encontrou o caminho verdadeiro para ser livre.

E essa foi a lição deste livro surpreendente, as vezes é na prisão e nas situações que exigem mais de nossos esforços, que encontramos a tão sonhada liberdade de expressão, de pensamentos e atitudes. 

Só posso finalizar dizendo que Hillary Jordan me deixou extasiada com essa leitura e me levou tão longe, que passei a questionar se sou livre só porque posso sair de casa a hora que quero e usar as roupas que bem entendo. Será que sou mesmo? O que é liberdade para mim? E para você? Você se considera livre?

Como diz Leon Tolstoi: "Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência".

Indico a leitura para aqueles que buscam ou ainda não sabem que buscam, a sua verdadeira identidade dentro de uma sociedade que ainda carrega preconceitos, e preceitos pré definidos e impostos a todos.  

Como eu costumo dizer, eu gosto assim, quando me fazem pensar. E esse definitivamente colocou minha cabeça para funcionar. 

Minha nota: 10

domingo, 20 de outubro de 2013

Boa tarde leitores,

O que vocês estão achando do blog até agora? Quais livros vocês gostariam de ler uma resenha?

Com a participação de vocês, quero melhorar cada vez mais esse espaço e torna-lo o universo de vocês também.

 Um ambiente onde juntos possamos entrar no mundo dos livros e suas peculiaridades.

Ajudem divulgando aos amigos, colegas, familiares e amantes da leitura. Sigam o blog e vamos construir um espaço de debates aflorados desse universo que tanto amo!

Posso contar com a ajuda de vocês?

Que tal ler um livro hoje?

Grande abraço!

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

"O tempo é como um encantamento. A gente nunca tem o quanto imagina" - Resenha do livro "O silêncio das montanhas" - Khaled Hosseini

Você já parou para refletir sobre o significado da palavra "tempo"? Você já teve aquela sensação de que os meses e os anos estão cada vez passando mais rápido? Não parece que foi ontem que você lembra de uma criança que hoje se tornou um adulto pagante de suas próprias contas? No meio dessas reflexões, você sentiu saudade de alguém ou alguma coisa? Já teve vontade de entrar em um túnel do tempo e fazer tudo de novo, só que desta vez, diferente?

Pois é exatamente sobre isso que fala o livro do medico e escritor afegão, Khaled Hosseini. Em "O silêncio das montanhas" tudo gira em torno da separação de dois irmãos: Pari e Abdullah. No primeiro capitulo o pai dos irmãos inseparáveis conta-lhes uma antiga fabula afegã, onde um monstro abominável rapta crianças e as leva para seu castelo, e nunca ninguém mais ouve falar delas. Na fabula, um dos pais fica tão atordoado quando um de seus filhos é sequestrado pelo monstro, que percorre montanhas arenosas para resgata-lo, e quando chega ao castelo, percebe que seu filho está saudável, mais gordo, de banho tomado, estudando e brincando em um lindo jardim. Eis que o monstro diz para o pai que ele tem duas opções: levar de volta o filho para a aldeia pobre e sem chances de um futuro melhor para a criança, ou deixa-lo ali, sendo bem cuidado e tratado, com chances de se tornar alguém importante e estudado. Claro que em qualquer opção, existe uma regra: a criança nunca se lembraria de seu passado, mas o pai, sim. Parece a tal da dúvida que sofre Sofia no filme tão polemico de Alan J. Pakula.

No decorrer dos capítulos, percebemos que a tal fabula começa a fazer sentido, quando o pai dessas crianças, resolve vender sua filha Pari, a Nina Wahdati, uma poeta meio afegã, meio francesa. Pari ainda é muito menina e acaba apagando de sua memoria sua verdadeira origem, que é ao lado do irmão  Abdullah em sua cidade natal, Cabul. Vocês já devem ter percebido que quem realmente sofre nesse livro, é o irmão, que vamos ter o desprazer de acompanhar toda sua dor em não saber o que houve com sua irmãzinha tão amada.

O autor avança e retrocede no tempo ao longo dos capítulos. Viajamos de 1949 a 2010 em cada página virada, e nelas conhecemos outros personagens, que por algum motivo e razão, estão ligados aos verdadeiros protagonistas. Conhecemos Nabi, um chofer e cozinheiro, que conquista o coração de seu patrão, que vamos descobrir mais tarde é casado com Nina Wahdati e pai de Pari. Somos apresentados aos primos Idris e Timur que moravam na mesma rua que a família Wahdati quando crianças ,e acabam  fugindo do Afeganistão para se refugiar nos Estados Unidos. Adel, que é filho de um cruel criminoso politico, mora em uma mansão, que é construída indevidamente no lugar que ficava a  antiga aldeia que Pari e Abdullah moravam antes da separação. O medico grego Markos, que trabalha como voluntário em Cabul e acaba se tornando um dos melhores amigos de Nabi. As irmãs Parwana e Masooma, que por conta de uma inveja enrustida, podem ter sidos as primeiras responsáveis por todo o sofrimento dos nossos personagens principais.

O livro possui apenas 9 capítulos, mas cada um deles se assemelha a contos, que se entrelaçam e vão formando o desfecho da historia onde acontece o tão esperado reencontro depois de 58 anos de Pari e Abdullah. A história de todos esses personagens é ambientado no Afeganistão, Estados Unidos, França e Grécia. Além de imergir na estória, e como um detetive, juntar as peças para entender qual a ligação entre todos os personagens, ganhamos gratuitamente uma aula de história, passando por guerras civis e politicas, preconceitos e cenários preocupantes de extrema precariedade e pobreza.

Não vou entregar qual afinal é a ligação de todos esses personagens e como o livro termina. Com final feliz ou não, o livro me trouxe a reflexões a cerca do tempo e os planos que fazemos que podem ser completamente modificados, novamente por culpa dele, o tempo.

Uma das frases que mais me chamou a atenção nesta obra, traz o que de fato quero falar dessa resenha:

"Dizem que a gente deve encontrar um propósito na vida e viver este propósito. Mas, às vezes, só depois de termos vivido reconhecemos que a vida teve um propósito, e talvez um que nunca se teve em mente."

 Ao longo de nossa vivência traçamos planos e propósitos: "Serei medico quando crescer e vou salvar muitas vidas", "Serei advogado e cuidarei de grandes causas" "Vou ser veterinária e não deixar nenhum animal ser abandonado". Até ai, tudo muito nobre, mas e os percalços da vida?

Como teria sido a vida de Abdullah e Pari se nunca tivessem se separado? Como lidar, quando uma grande pedra aparece no meio do nosso caminho? Querendo ou não, vivemos isso constantemente sem nem perceber. A todo momento, nossos planos são atrapalhados na tão conhecida "causa e efeito da vida", e quando vamos nos dar conta, já se passaram anos e nada foi feito. Apenas vivemos na inercia dos acontecimentos.

O engraçado é que mesmo não nos dando conta, a vida nos prega algumas peças, querendo nos alertar a todo momento dos nossos propósitos. Por exemplo: você nunca conheceu alguém que teoricamente não tem nada a ver com sua vida e ela acaba se tornando o meio de se chegar ao objetivo principal? A ligação de todos esses personagens, não seria um aviso de que mesmo com a tal da pedra no caminho, temos que  traçar nosso proposito de alguma forma?

Temos que ser testados e nem tudo chega ao seu objetivo da forma que imaginamos quando o jogo dá a largada. É preciso dançar conforme a música, certo?

Gostaria de definir a palavra "proposito" segundo o Aurélio:"Vontade ou intencionalidade é a capacidade através da qual tomamos posição frente ao que nos aparece. Diante de um fato, podemos desejá-lo ou rejeitá-lo. Ante um pensamento, podemos afirmá-lo, negá-lo ou suspender o juízo."

Lendo esta obra, eu tive uma certeza: o tempo é uma dadiva que nos é dada, porém poucos sabem aproveita-la em seu próprio proposito. Que tal começar a repensar no tempo que já se passou, e no que aconteceu em sua vida, e porque aquele tão planejado proposito ainda não aconteceu?

Preparado?

Se a resposta for positiva, indico essa leitura, que além de ser emocionante, bem narrada e muito realista, nos traz a reflexões próprias e mudanças em nossos propósitos extremamente significantes. Aconteceu comigo, porque não com você?

Minha nota: 9,5

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

"Não é obrigatório que um ser humano esteja acompanhado para ser feliz" - Resenha do livro "Los Angeles" - Marian Keyes

Vocês já devem ter percebido que sou fã da autora Marian Keyes. Toda vez que leio um livro dela, me sinto conversando com uma amiga em uma mesa de bar. Dou risada (daquelas de gargalhar alto), choro, falo desde de "o que está na moda hoje em dia" até "deixa eu te contar do meu ultimo rolo amoroso".

Os livros de Keyes são assim: descontraidos, gostosos de ler em qualquer ocasião e circunstância, e que não fogem nem um pouco da realidade das mulheres no auge de seus 30 e poucos anos.

Em "Los Angeles" temos Maggie. Ela sempre foi a filha modelo de perfeição para a complicada e engraçadissima familia Walsh. Mas como toda pessoa que passa a adolescência e parte de sua vida adulta agindo dentro dos conformes, chega um dia em que ela simplesmente se cansa de ser assim e começa literalmente a enlouquecer.

Antes de contar as loucuras de Maggie, gostaria de fazer uma pergunta para você que está lendo essa resenha: "Quem nunca?". Digo por mim mesma, que tive minha dose de insanidade quando vivi boa parte do inicio da minha vida adulta presa a rotulos, estigmas, expectativas de terceiros e um medo enorme de fazer escolhas consideradas "fora da caixa". Acredito piamente que em algum momento na vida de qualquer ser humano "normal" (que fique bem claro que não acho a humanidade nem um pouco normal, graças a Deus), já se passou a seguinte pergunta na cabeça "O que eu estou fazendo da minha vida?"

Foi isso que aconteceu com a nossa protagonista. Maggie têm um marido, um emprego em uma firma de advocacia e uma vida atrelada a bolacha e sal (muito menos sal nesse caso)  Até que ela descobre que seu marido está tendo um caso, e como toda mulher traída resolve se "jogar" na vida. Claro que ao longo do livro, fica claro que a traição não foi o estopim para que Maggie decidisse viver a vida de uma perspectiva diferente, como eu disse antes, a dúvida já vinha se aponderando dela há muito tempo. Vamos combinar que ela só precisava de um motivo para justificar sua vontade de modificar tudo dentro de si mesma.

Então, por ironia do destino, Maggie é mandada embora de seu trabalho e sua melhor amiga, aspirante a roteirista, mora na badalada Hollywood. Daí a justificativa do livro se chamar "Los Angeles".

É desse ponto que inicio a narrativa da descoberta de Maggie, de quem realmente ela é e do que é capaz. Digo isso, porque quando nos colocamos em situações fora de nosso contexto e padrão, provamos o que verdadeiramente somos e queremos. Uma vez ouvi que "na dúvida não há dúvida". E realmente funciona, porque se temos tanta certeza de alguma coisa, porque raios aquele sentimento de que algo está errado fica perturbando nossas mentes?

Foi assim que Maggie passa a frequentar o mundo de luxuria, diversão, bebedeiras e consumismo excessivos da California.

Nossa aventureira corta o cabelo radicalmente, pinta as unhas de vermelho, usa roupas extravagantes em cima de saltos altissimos, beija a boca e transa com uma mulher, se envolve com um galinhão graduado e pós graduado na faculdade de "pego todas e depois não ligo no dia seguinte", faz compras até seu cartão de crédito chegar ao limite e tem ressacas alucinantes quase todos os dias.

Volto a pergunta do inicio "Quem nunca?".

Não sei se serei apedrejada a partir daqui, mas todos devemos passar por essa fase onde somos meio loucos, onde não sabemos bem o que estamos fazendo: a fase da "experimentação". Como diz Freud: a mudança vem primeiro de fora pra depois acontecer por dentro.

O ser humano têm essa necessidade de agir e concluir ações completamente diferentes de seus ideais para depois conseguir trazer para dentro de si o que realmente lhe faz bem, lhe traz conforto e forma sua personalidade.

Existem pessoas que formam sua personalidade com 60 anos e não com 7 como alguns especialistas dizem por ai. No caso de Maggie, ela formou após seus 35 anos. Não vou contar se ela volta com seu ex marido, ou se ela até chega a se divorciar, se ela encontra um principe encantado na terra do Neverland, mas o mais importante aqui não é isso, e sim se Maggie consegue se encontrar nesse enrosco todo que ela  mesma se meteu.

O livro é leve, você dará boas risadas e vai encontrar nos dilemas de Maggie os seus proprios. Recomendo a leitura não só para mulheres, mas para homens também, porque todos nós já vivemos intensamente um periodo de dúvida. Só não garanto uma coisa após ler o livro: você ficará louco de vontade de abandonar tudo e se auto descobrir em algum lugar mágico como Los Angeles.

Que tal arriscar olhar para dentro de si e finalmente saber o que é a felicidade para você? Viver dentro da caixa pode não funcionar.

Finalizo da seguinte forma: Pense não naquilo que você acha que é capaz, mas experimente realmente do que você é capaz.

Minha nota: 8,5

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Novidades...

Queridos leitores,

Aguardem que estão vindo novidades!

Leituras a caminho de resenhas em breve!

Abraços =)


domingo, 29 de setembro de 2013

"Entrego... Confio... Recebo... Agradeço..." - Resenha do livro "Quando chegam as respostas" - Sônia Tozzi


Mais um romance espírita para a coleção de resenhas inspiradas no misterioso mundo após a morte.
Quem diria que fui pega de surpresa ao ler este livro e constatar que os mistérios continuam mesmo depois que vamos dessa para uma melhor. Melhor? Com essa pergunta que inicio esta reflexão e espero fazer jus a obra de Sônia Tozzi, acompanhada e dirigida pelo espirito Irmão Ivo.

No "Quando chegam as respostas", temos a história de Jacira. Desencarnada há algum tempo, ela não consegue entender porque em sua última encarnação viveu de forma desarmônica e agressiva ao lado do marido Josué.

Segundo relatos, a vida não para para aqueles que não vivem mas entre nós. Acordamos do outro lado, entendemos os percalços e os porquês da vida e recomeçamos trabalhando, estudando, se aperfeiçoando e nos preparando para uma nova encarnação de desafios e provações.

Eis que Jacira está no plano espiritual trabalhando no Hospital Maria de Nazaré. Sempre acompanhada de seu instrutor, Jacob (sim, nós temos chefes no departamento de cima), ela entra em contato com diversas histórias, até mais sofridas que a sua e ali, ela passa a ampliar seu conhecimento sobre a vida e as dores de cada um. Nesse meio tempo, o leitor vai através das vivências de Jacira no Nosso Lar, conseguindo entender um pouco mais sobre o que nos espera no momento em que nossos olhos não mais abrirem neste mundo que conhecemos como Terra.

Jacira é altamente comprometida em auxiliar os recém desencarnados da Terra no hospital em que trabalha,  porém vive com os mesmos dilemas que muitos de nós respiramos todos os dias aqui em baixo: a ânsia por obter respostas para tudo. Jacob, sempre muito paciente, lhe explica que tudo na vida possui tempo certo para acontecer e suas respostas vão chegar, porém no momento que ela estiver preparada para recebe-las.

Lendo o livro me peguei refletindo que eu faço esses  mesmos questionamentos todos os dias: Será que se eu fizer isso ou aquilo, vai dar certo? Porque Deus está me fazendo passar por determinada prova? Sou forte o bastante para suportar? O que eu fiz para merecer isso ou aquilo? Porque? Porque? Porque?

Jacira conhece espíritos que foram pessoas muito altruístas até suicidas sem perspectivas de otimismo. Conforme seus dias passam, ela esquece de suas próprias perguntas e passa a se questionar outros "porquês". Os capítulos passam acompanhados de milhares de questionamentos sobre nosso livre arbítrio, porque temos que encarnar diversas vezes, porque pessoas nascem com doenças terminais, porque crianças morrem tão jovens, porque mães sofrem abortos, porque nascemos ricos e outros tão miseráveis, porque conhecemos pessoas que só de olhar sentimos raiva ou ao contrário, um amor imenso. Ela obtém estas respostas ao longo do livro de forma instrutiva, como se estivesse em uma escola. É claro, que o livro passa a não ser uma obra composta de uma narrativa e sim um livro técnico de perguntas e respostas sobre o mundo espiritual. Para quem tem curiosidade em saber um pouco sobre espiritismo, é um livro de fácil entendimento, com perguntas claras e respostas objetivas. Diria que é um básico I para iniciantes nos mistérios da vida após morte.

Mesmo sendo um livro, que por mim foi considerado técnico, me deixou uma lição muito valiosa:
estamos tão preocupados em entender o que se passa conosco que esquecemos que as respostas podem estar no outro, em uma determinada ação, no alçar voo de um pássaro, em uma canção que o vizinho cantarola todos os dias, no sorriso de um mendigo, em uma planta que floresce bem diante de nossos olhos.

Quando Jacira para de olhar para dentro de si e passa a enxergar os porquês que realmente fazem diferença, ela obtém suas respostas de forma natural e espontânea, e é pega de surpresa onde mais questionamentos são feitos: "Porque eu fiz isso?" Parece que os porquês nunca cessam, não é mesmo?

E sabe qual a resposta para isso?

- Não, elas nunca vão cessar. Se um dia, um porque tiver todas as respostas, não teremos mais motivo para viver, morrer e renascer.

Então, conforme o titulo diz: entregue, confie, receba e agradeça os porquês, buscando suas respostas dentro e fora de si, respeitando o tempo imposto para que seus porquês gerem mais porquês (desculpe desanimar, mas vai gerar mais questionamentos, sim).

A refletir: qual porquê de sua vida, você tem a vontade de gerar mais porquês?

Deixo aqui uma frase de Allan Kardec para auxiliar na reflexão:

"Pelas simples dúvida sobre a vida futura, o homem concentra todos os seus pensamentos na vida terrena. Incerto do porvir dedica-se inteiramente ao presente. Não entrevendo bens mais preciosos que os da Terra, ele se porta como a criança que nada vê além dos seus brinquedos e tudo fazem para os obter."

As respostas definitivamente não estão onde desejamos que elas estejam, mas sim, onde é certo para nós a enxergarmos.

Minha nota: 7,5

"Não pense muito em mim. Não quero que você fique toda sentimental. Apenas viva bem. APENAS VIVA" - Resenha do livro "Como eu era antes de você" - Jojo Moyes

Um dos meus programas prediletos aos finais de semana, é tomar uma boa garrafa de vinho acompanhada de papos cabeça e muitas histórias reais contadas por amigos e conhecidos. Neste último sábado, por coincidência ou não, ouvi relatos de falta de dinheiro, medo de se entregar a paixões desenfreadas e muita, muita vontade de viver a vida de uma forma diferente, literalmente sendo outra pessoa.

Foi através desses diálogos que finalmente tive coragem de sentar e escrever sobre o livro que teve a pachorra de me arrancar lagrimas tão sinceras, que quase achei que teria que levar essa reação a um divã, de tão real  e comovente que a história me pareceu. Me desculpem os céticos que acham que chorar lendo livros é um tanto quanto "ser sentimental demais", mas acredito que após ler essa resenha, farei os não tão crentes também proclamarem por alguns sinais de sentimento.

No "Como eu era antes de você", entramos no universo um tanto quanto complexo de Louisa Clark, que com apenas 26 anos não tem para si muitas ambições na vida. Ela mora com os pais, um sobrinho fruto de um caso "não planejado" da irmã mais nova e um avô que precisa de cuidados constantes desde que sofreu um derrame. Ela trabalha como garçonete em um simpático café em Bishop´s Stortford (uma cidade comercial histórica e paróquia civil do distrito de East Hertfordshire no condado de Hertfordshire, na Inglaterra). Pela cidade, já podemos imaginar que não se tem muito o que fazer por lá, como retrata o livro, há apenas um ponto turistico interessante, o castelo Stortfold, onde fica abarrotado de turistas com suas máquinas fotográficas, arrancando relatos de forma contundente. Louisa namora há 7 anos um triatleta, Patrick, que não parece e não é muito interessado nela, ele literalmente olha o tempo todo para seu umbigo másculo e com 0% de gordura.

Do outro lado do castelo, temos Will Traynor, de 35 anos. Ele é lindo, inteligente, extremamente rico e bem sucedido. Mora em Londres e vive uma vida repleta de aventuras. E quando falo aventuras, é no sentido literal: saltos de paraquedas, nado com baleias, viagens ao centro da terra e por aí vai. Um belo dia Will sai para trabalhar, depois de acordar ao lado de uma belíssima mulher (fato que acontecia com muita frequência em sua vida) e decide que não vai ao trabalho de moto, pois está chovendo de forma demasiada. E pela ironia (ou não) do destino, uma motocicleta o atropela,  deixando-o tetraplégico e com apenas um pequeno movimento na mão direita.

Falando em ironia do destino, após dois anos do acidente de Will, nossa grande heroína desta história é demitida do simpático café, e sem saber o que fazer de sua vida, encontra a oportunidade de ser cuidadora de um tetraplégico, que até aqui, vocês já sabem de quem se trata. É desta maneira que seus destinos são cruzados, e como a própria Louisa gosta de dizer: "essa é a história de duas pessoas que não deviam se encontrar e que não gostam muito um do outro quando se conhecem, mas que acabam descobrindo que eram as duas únicas pessoas no mundo que podiam se entender".

Não é uma história de amor, e sim uma história sobre resgate. Explico o porque:

Will não vê sentido em absolutamente mais nada, tanto que ele possui um plano. Em 6 meses ele irá encerrar com sua jornada de vida, se suicidando por livre e espontânea vontade na Suíça, em um lugar chamado "Dignitas". Sim caros leitores, existe um lugar que permite que em comum acordo e com justificativas plausíveis você pode acabar com sua própria vida. Quando Louise descobre os planos de Will, ela inicia uma jornada intensa a procura de motivos para que ele não coloque seu plano em prática.

Nesse meio tempo, através dos milhares de programas que Louisa leva Will para mostra-lhe que vale a pena ainda viver, nos deparamos novamente com a ironia do destino. É Will na verdade quem ensina Louisa o tempo que ela está desperdiçando não vivendo a própria vida. Descobrimos que Louisa tem sua cota de dor, quando em um dos momentos que considero mais verossímil deste livro, a mesma aborda um estupro que sofreu de 4 homens quando ainda era uma garota.

Esta obra abriga um grande debate sobre o fio tênue entre a vida e a morte. Você é a favor da pena de morte? Se sim, é a favor também da morte compactuada?

Eu admito que fiquei extremamente boquiaberta quando todos da família de Will aceitam sua vontade em se matar na Suíça. Pensei como Louisa: "Que absurdo permitirem algo do tipo". Porém, ao ler o livro passei a enxergar o outro lado da moeda. Como seria viver sem poder tocar a pessoa que amo? Sem poder desfrutar do prazer de fechar os olhos e sentir que tudo dentro de mim funciona de forma completa? De poder andar sentindo a areia no meio dos meus dedos? De abrir os braços e sentir o vento entrar pelas partículas do meu corpo? De poder sentir a pele eletrizar quando alguém me desse um abraço? De poder enxugar minhas próprias lagrimas quando eu esmorecesse? Como é viver a vida sem sentir tudo isso?

Não sei se sou a favor ou não de tal ato (preciso refletir muito ainda a respeito), mas consigo ao menos enxergar 10% dos bons motivos em se desejar algo do tipo. Independente da opinião de cada um, o que mais me chamou a atenção, foi que quem se sentia preso não era Will, apesar de literalmente estar eternamente fadado a ficar naquela cadeira de rodas. Quem é o prisioneiro de verdade, é Louisa. Ela aprende com Will a conclamar ambições, a descobrir do que ela é capaz, a de colocar para fora uma pessoa sedenta por novas sensações.

Will faz a melhor das declarações de amor que vi em meus 28 anos de vida: "Durante algum tempo, você vai se sentir pouco a vontade em seu novo mundo de descobertas. É sempre estranho ser arrancado de sua zona de conforto. Você tem ambição e quem tem ambição, tem tudo. Você apenas escondeu essas qualidades, como todo mundo. Não seja igual a todo mundo".

Se eu pudesse escolher entre ouvir isso ou um "Eu te amo", eu escolheria a primeira opção. Will deu o maior presente que alguém poderia dar a uma pessoa: ele deu a chance de Louisa olhar para dentro de si e se salvar de seus próprios medos. Ele deu a ela a dadiva da vida, em troca ela deu a ele a dadiva da escolha. Eles mais que se amaram, eles se resgataram (eu disse que não era uma história de amor).

Paulo Coelho uma vez disse "Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize o seu desejo."

Depois de ler essa resenha, você ainda acha que o destino é tão irônico a ponto de nos enviar provas para concluir definições daquilo que tentamos ver todos os dias no espelho? Você ainda quer ser outra pessoa?

Quando li esta obra, semeei pelo final, para que eu mesma pudesse entender o que sou e para onde o universo ironiza meu destino.

Minha nota: a máxima que existir.