quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

"Mas de repente me dei conta, que ter alguém que nos entenda, que nos deseje, que nos veja como uma versão melhorada de nós mesmos é o presente mais incrível que podemos ganhar." - Resenha do Livro "Um mais Um" - Jojo Moyes

Que eu sou fã da Jojo Moyes todo mundo que lê meu blog já sabe, mas assumo que comecei a leitura do Um mais Um de forma despretensiosa, até porque o título e a capa não são lá um grande chamariz. Mas por se tratar de uma de minhas autoras preferidas, eu resolvi arriscar, e eis que me deparei com uma grata surpresa. 

Um mais Um carrega um alto teor emocional, apesar de no inicio se mostrar leve e até superficial. Se prepare para rir, chorar, suspirar e no final aprender valiosas lições. 

O ponto mais significativo deste livro é que a autora descreve um cenário comum a milhares de mulheres. Mulheres estas que precisam desempenhar o papel de mãe e pai, que batalham diariamente para pagar contas e colocar comida na mesa, e que constantemente são pisoteadas pelas dificuldades do dia a dia, mas mesmo assim mantêm a esperança de uma vida melhor e de um futuro brilhante para os seus filhos. Apesar do bom humor habitual dos livros de Jojo Moyes, o pano de fundo desta gostosa obra é a luta diária de uma família que carrega o peso de contas acumuladas, do preconceito social e do bullying em sua forma mais amedrontadora.

Há dez anos, Jess Thomas engravidou e largou absolutamente tudo para se casar com Marty. Depois de alguns anos em um desgastante casamento, Marty sai de casa com a desculpa de estar com depressão e nunca mais retorna, deixando Jess totalmente na mão. Fazendo faxinas de manhã e trabalhando como garçonete em um pub à noite, nossa heroica protagonista ganha o suficiente para sustentar a filha Tanzie e o enteado Nicky, que ela cria como seu há oito anos. 

Nicky é um sensível adolescente gótico e mal humorado que vive apanhando dos colegas. Já Tanzie é um pequeno prodígio da matemática e recebe uma generosa bolsa de estudos para estudar em um escola particular extremamente renomada. É deste exato ponto que se inicia o desafio desta corajosa e esperançosa mãe: Como pagar a diferença do valor da renomada escola e ver sua filha ter a oportunidade de se tornar o gênio da matemática, e ao mesmo tempo ajudar seu problemático filho a lidar com sua própria personalidade?

A vida é extremamente cômica, e sem esperar nada em troca,  ela nos mostra uma saída, como se nos perguntasse se estamos mesmo preparados para o desafio. Tanzie recebe um convite para participar de uma Olimpíada de Matemática que será disputada na Escócia, e o prêmio é um valor altíssimo em dinheiro que possibilitará Jess proporcionar a sua filha sua grande oportunidade de vida, além de lhe ajudar a pagar grande parte de suas dívidas. Mas como bem a palavra diz, desafio são desafios, e a grande aventura começa quando essa adorável família não tem condições de bancar uma viagem até a Escócia e por milésimos de segundos perde a esperança de ter uma solução grandiosa nas mãos. 

Neste ínterim somos apresentados a Ed Nicholls, um gênio do empreendedorismo tecnológico, que por conta de um fracassado relacionamento, se enfia em uma denúncia de práticas ilegais envolvendo sua empresa. Refugiado em uma casa de veraneio e bebendo todos os dias no pub em que Jess trabalha, Ed e nossa protagonista iniciam o que eu posso classificar como ódio a primeira vista. 

Lembram-se da vida e sua famigerada forma de nos desafiar constantemente? Já que o destino adora nos pregar boas peças, Ed resolve ficar extremamente bêbado, e Jess não tem outra opção a não ser deixa-lo em casa em segurança após um  árduo dia de trabalho no pub. Em parte agradecido pelo gesto, mas principalmente para escapar da pressão dos advogados, da ex mulher e de sua própria família, Ed oferece uma carona a Jess, os filhos e o enorme cão da família até a cidade onde acontecerá o torneio. Se inicia então uma viagem repleta de desentendimentos,  enjoos, comida ruim e engarrafamentos, mas a cima de tudo se inicia uma viagem repleta de esperança, para todos. 

O romance, como já era de se imaginar, é bem previsível. Ed e Jess são de mundos completamente diferentes: ela vive no limite, administrando seu escasso dinheiro da melhor forma possível, enquanto ele está acostumado com o luxo que seu trabalho proporciona. Enquanto viajam juntos, Jess e Ed são apresentados a realidades econômicas cruelmente distintas, o que permite que ambos aprendam mais sobre si mesmos, como levam suas vidas e qual é o futuro que pretendem ter daqui para a frente. A relação dos dois é construída na base do companheirismo, no bom humor e principalmente na esperança de que as coisas irão sempre melhorar. O amor de ambos nasce do convívio diário, e de como Ed chega na vida de Jess para salvar a ela e seus filhos, sem perceber que no fundo é a família que Jess e seus filhos representam que verdadeiramente o salvam. O mágico é ver que Ed é na verdade o grande protagonista desta história, e não Jess. 

O livro é ora narrado por Jess, ora por Ed e ora pelas crianças. Tudo nesta belíssima obra se resume a esperança, principalmente devido a construção do conceito de família. 

A esperança, a utopia, os sonhos são essenciais para nós, é que nos impulsiona a lutar por um mundo mais justo e humano. Sabemos que nem sempre o real se aproxima do ideal desejado, no entanto acreditamos sempre que podemos ir além e chegar mais longe. 

É claro que não é nada fácil e simples manter a esperança frente à dureza do cotidiano, mas é impossível pensarmos uma vida verdadeiramente humana sem esperança. A função da esperança é justamente a de não nos deixar acomodar e se conformar com a situação em que vivemos. Vivemos aqui o presente, sempre à espera do que virá no futuro, do que ainda não é, mas poderá ser. Somos um projeto infinito, seres da esperança. Vivemos o já realizado, sempre na espera do que ainda não realizamos, mas que poderá se realizar dentro da nossa história e principalmente, do nosso tempo disponível para tal. Sabemos que enquanto há vida, há esperança. A esperança é uma espécie de imperativo existencial em nossas vidas. 

Há uma mistura de cansaço e indignação frente a realidades duras que todos vivemos. A verdadeira ameaça não são os problemas, e sim o cansaço existencial da humanidade, a velha mania de desistir e largar mão de tudo. Jess tinha esperanças e queria um mundo melhor para ela e os seus filhos, independente de como. Ela não jogou a toalha para o alto, ela literalmente se enrolou na toalha e a usou da melhor maneira que foi possível, errando sim, mas no final acertando sempre. 

A grande lição de Jojo Moyes com Um mais Um foi ensinar que somar forçar pode resultar em dois, três, quatro e talvez um bilhão, mas um bilhão de esperanças de que no final tudo sempre dá certo. 

Ironicamente a vida é mesmo uma constante matemática, onde passamos nossos dias somando, subtraindo, dividindo e multiplicando, tendo sempre a esperança como um marco zero, para recomeçar e resultar afinal na felicidade que todos merecemos alcançar, e quando somamos a toda essa equação pessoas que enxergam a melhor versão de nós mesmas, o resultado final é ainda melhor. É um verdadeiro presente da vida. 

Jess, Tanzie, Nicky e Ed me deixaram uma valiosa lição: Enquanto existir esperança, dias melhores sempre virão. 

Que a esperança e o amor façam parte sempre da equação de nossas vidas, que afinal é o essencial para se viver pleno e feliz. O resto, como a própria vida nos mostra, a gente constrói. 

Minha nota: 8,5