quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

"Mas de repente me dei conta, que ter alguém que nos entenda, que nos deseje, que nos veja como uma versão melhorada de nós mesmos é o presente mais incrível que podemos ganhar." - Resenha do Livro "Um mais Um" - Jojo Moyes

Que eu sou fã da Jojo Moyes todo mundo que lê meu blog já sabe, mas assumo que comecei a leitura do Um mais Um de forma despretensiosa, até porque o título e a capa não são lá um grande chamariz. Mas por se tratar de uma de minhas autoras preferidas, eu resolvi arriscar, e eis que me deparei com uma grata surpresa. 

Um mais Um carrega um alto teor emocional, apesar de no inicio se mostrar leve e até superficial. Se prepare para rir, chorar, suspirar e no final aprender valiosas lições. 

O ponto mais significativo deste livro é que a autora descreve um cenário comum a milhares de mulheres. Mulheres estas que precisam desempenhar o papel de mãe e pai, que batalham diariamente para pagar contas e colocar comida na mesa, e que constantemente são pisoteadas pelas dificuldades do dia a dia, mas mesmo assim mantêm a esperança de uma vida melhor e de um futuro brilhante para os seus filhos. Apesar do bom humor habitual dos livros de Jojo Moyes, o pano de fundo desta gostosa obra é a luta diária de uma família que carrega o peso de contas acumuladas, do preconceito social e do bullying em sua forma mais amedrontadora.

Há dez anos, Jess Thomas engravidou e largou absolutamente tudo para se casar com Marty. Depois de alguns anos em um desgastante casamento, Marty sai de casa com a desculpa de estar com depressão e nunca mais retorna, deixando Jess totalmente na mão. Fazendo faxinas de manhã e trabalhando como garçonete em um pub à noite, nossa heroica protagonista ganha o suficiente para sustentar a filha Tanzie e o enteado Nicky, que ela cria como seu há oito anos. 

Nicky é um sensível adolescente gótico e mal humorado que vive apanhando dos colegas. Já Tanzie é um pequeno prodígio da matemática e recebe uma generosa bolsa de estudos para estudar em um escola particular extremamente renomada. É deste exato ponto que se inicia o desafio desta corajosa e esperançosa mãe: Como pagar a diferença do valor da renomada escola e ver sua filha ter a oportunidade de se tornar o gênio da matemática, e ao mesmo tempo ajudar seu problemático filho a lidar com sua própria personalidade?

A vida é extremamente cômica, e sem esperar nada em troca,  ela nos mostra uma saída, como se nos perguntasse se estamos mesmo preparados para o desafio. Tanzie recebe um convite para participar de uma Olimpíada de Matemática que será disputada na Escócia, e o prêmio é um valor altíssimo em dinheiro que possibilitará Jess proporcionar a sua filha sua grande oportunidade de vida, além de lhe ajudar a pagar grande parte de suas dívidas. Mas como bem a palavra diz, desafio são desafios, e a grande aventura começa quando essa adorável família não tem condições de bancar uma viagem até a Escócia e por milésimos de segundos perde a esperança de ter uma solução grandiosa nas mãos. 

Neste ínterim somos apresentados a Ed Nicholls, um gênio do empreendedorismo tecnológico, que por conta de um fracassado relacionamento, se enfia em uma denúncia de práticas ilegais envolvendo sua empresa. Refugiado em uma casa de veraneio e bebendo todos os dias no pub em que Jess trabalha, Ed e nossa protagonista iniciam o que eu posso classificar como ódio a primeira vista. 

Lembram-se da vida e sua famigerada forma de nos desafiar constantemente? Já que o destino adora nos pregar boas peças, Ed resolve ficar extremamente bêbado, e Jess não tem outra opção a não ser deixa-lo em casa em segurança após um  árduo dia de trabalho no pub. Em parte agradecido pelo gesto, mas principalmente para escapar da pressão dos advogados, da ex mulher e de sua própria família, Ed oferece uma carona a Jess, os filhos e o enorme cão da família até a cidade onde acontecerá o torneio. Se inicia então uma viagem repleta de desentendimentos,  enjoos, comida ruim e engarrafamentos, mas a cima de tudo se inicia uma viagem repleta de esperança, para todos. 

O romance, como já era de se imaginar, é bem previsível. Ed e Jess são de mundos completamente diferentes: ela vive no limite, administrando seu escasso dinheiro da melhor forma possível, enquanto ele está acostumado com o luxo que seu trabalho proporciona. Enquanto viajam juntos, Jess e Ed são apresentados a realidades econômicas cruelmente distintas, o que permite que ambos aprendam mais sobre si mesmos, como levam suas vidas e qual é o futuro que pretendem ter daqui para a frente. A relação dos dois é construída na base do companheirismo, no bom humor e principalmente na esperança de que as coisas irão sempre melhorar. O amor de ambos nasce do convívio diário, e de como Ed chega na vida de Jess para salvar a ela e seus filhos, sem perceber que no fundo é a família que Jess e seus filhos representam que verdadeiramente o salvam. O mágico é ver que Ed é na verdade o grande protagonista desta história, e não Jess. 

O livro é ora narrado por Jess, ora por Ed e ora pelas crianças. Tudo nesta belíssima obra se resume a esperança, principalmente devido a construção do conceito de família. 

A esperança, a utopia, os sonhos são essenciais para nós, é que nos impulsiona a lutar por um mundo mais justo e humano. Sabemos que nem sempre o real se aproxima do ideal desejado, no entanto acreditamos sempre que podemos ir além e chegar mais longe. 

É claro que não é nada fácil e simples manter a esperança frente à dureza do cotidiano, mas é impossível pensarmos uma vida verdadeiramente humana sem esperança. A função da esperança é justamente a de não nos deixar acomodar e se conformar com a situação em que vivemos. Vivemos aqui o presente, sempre à espera do que virá no futuro, do que ainda não é, mas poderá ser. Somos um projeto infinito, seres da esperança. Vivemos o já realizado, sempre na espera do que ainda não realizamos, mas que poderá se realizar dentro da nossa história e principalmente, do nosso tempo disponível para tal. Sabemos que enquanto há vida, há esperança. A esperança é uma espécie de imperativo existencial em nossas vidas. 

Há uma mistura de cansaço e indignação frente a realidades duras que todos vivemos. A verdadeira ameaça não são os problemas, e sim o cansaço existencial da humanidade, a velha mania de desistir e largar mão de tudo. Jess tinha esperanças e queria um mundo melhor para ela e os seus filhos, independente de como. Ela não jogou a toalha para o alto, ela literalmente se enrolou na toalha e a usou da melhor maneira que foi possível, errando sim, mas no final acertando sempre. 

A grande lição de Jojo Moyes com Um mais Um foi ensinar que somar forçar pode resultar em dois, três, quatro e talvez um bilhão, mas um bilhão de esperanças de que no final tudo sempre dá certo. 

Ironicamente a vida é mesmo uma constante matemática, onde passamos nossos dias somando, subtraindo, dividindo e multiplicando, tendo sempre a esperança como um marco zero, para recomeçar e resultar afinal na felicidade que todos merecemos alcançar, e quando somamos a toda essa equação pessoas que enxergam a melhor versão de nós mesmas, o resultado final é ainda melhor. É um verdadeiro presente da vida. 

Jess, Tanzie, Nicky e Ed me deixaram uma valiosa lição: Enquanto existir esperança, dias melhores sempre virão. 

Que a esperança e o amor façam parte sempre da equação de nossas vidas, que afinal é o essencial para se viver pleno e feliz. O resto, como a própria vida nos mostra, a gente constrói. 

Minha nota: 8,5



terça-feira, 29 de novembro de 2016

"Só existe um tipo de gente: gente." Resenha do livro "O Sol é para todos" - Harper Lee

Todos me perguntam qual é o meu livro preferido. Sempre me pego pensando e nunca acho uma resposta perfeitamente correta para esta pergunta. Como uma completa aficionada por livros, escolher um preferido é uma tarefa de alta complexidade, mas O Sol é para todos deixou uma marca em meu coração, que posso afirmar sem pensar demais que ele com certeza está na minha lista de livros marcantes. 

O livro de Harper Lee conta a história de duas crianças no árido terreno sulista norte americano da Grande Depressão no início dos anos 1930. Jem e Scout Finch testemunham a ignorância e o preconceito em sua cidade, Maycomb - símbolo dos conservadores estados do sul dos EUA, empobrecidos pela crise econômica, agravante do clima de tensão social. 

A esperta e sensível Scout, narradora desta belíssima obra, e Jem, seu irmão mais velho, são filhos do advogado Atticus Finch, encarregado de defender Tom Robinson, um homem negro acusado injustamente de estuprar uma jovem branca. Mas não é apenas desta acusação e deste julgamento que os irmãos Finch percebem o racismo no pequeno município do Alabama onde vivem. Nos três anos em que se passa a narrativa, ambos se deparam com diversas situações em que negros e brancos se confrontam. 

Ao longo do livro, os dois irmãos e seu pequeno amigo de férias Dill, passam por tensas e divertidas aventuras, que desencadeiam em importantes descobertas e aprendizados. Nos capítulos vividos ao lado de personagens cativantes como Calpúrnia, Boo Radley e Dolphus Raymond, as crianças aprendem e ensinam sobre empatia, tolerância, respeito ao próximo e a necessidade de se estar sempre aberto a novas idéias e perspectivas. 

O livro é dividido em duas partes, sendo a primeira destinada a traçar o perfil da sociedade de Maycomb, tudo sempre sob a ótica de uma criança de seis anos de idade. Durante suas férias, Scout, Jem e Dill tentam fazer com que o vizinho Arthur Radley, que tornou-se uma pessoa reclusa há anos (e portanto as crianças não o conhecem), saia de casa. Eles inventam histórias absurdas a respeito de Boo, como o apelidaram, as quais demonstram como são crianças de imaginação engenhosa. Envolto por mistérios, acabam criando um perfil assustador do vizinho. 

Já na segunda parte, tudo muda na sossegada e imaginativa infância de Scout, pois é quando seu pai, Atticus, inicia a defesa de um negro no tribunal. A mudança do comportamento da sociedade de Maycomb muda drasticamente e acompanhamos esta transformação sobre o olhar de uma criança, a qual se torna alvo das mesmas discriminações voltadas a seu pai. 

Apesar do complexo assunto da discriminação social, o Sol é para todos é um livro leve, engraçado e fácil de ler. Como é narrado por uma criança, sua inocência e doçura acabam afetando o leitor de uma maneira muito dura. Nunca o preconceito foi retratado desta forma, com a inocência infantil como pano de fundo, mas assumo que foram nas palavras da pequena Scout que eu me peguei refletindo porque o mundo parece querer que o Sol brilhe somente para uns e não para todos. Um assunto extremamente atual, que nos dá um verdadeiro soco no estomago sobre a intolerância racial, fazendo um paralelo também a julgamentos imaginativos errados que todos fazemos o tempo todo sobre tudo e todos. Assim como as crianças julgaram um ser humano recluso como inimigo, a sociedade de Maycomb julgou um homem erroneamente por sua cor de pele. O preconceito navega de forma muito sutil neste livro, mas nos mostra que no final o resultado é o mesmo, independente se estivermos falando sobre preconceito ou sobre julgamento. Há apenas um sol e o que nos falta aprender é a dividi-lo igualmente para todos. 

Todos sabemos que no mundo há grandes diferenças entre pessoas, e que simplesmente por estupidez e ignorância cria-se o preconceito, que acaba por gerar conflitos e desentendimentos. E aí que me questiono: onde se encontra os Direitos Humanos que dizem que todos são iguais, se há tanta desigualdade do mundo?

Manchetes de jornais relatam constantemente: "Homem negro sofre racismo em lojas de departamento", "Mulheres recebem salários menores que os homens", "Rapaz homossexual é espancado até a morte", "Jovens de classe alta colocam fogo em morador de rua", "Hospitais públicos em condições precárias não conseguem atender pacientes", "Ônibus não param para idosos", "Escola em mau estado é interditada e alunos ficam sem aula". Seria isto um sinal de que nenhum de nós está fazendo sua parte para a igualdade social, ou vamos colocar a culpa no outro e dizer que "o governo não faz a sua parte", ou "pobre precisa mesmo sofrer" e por aí vai?

Infelizmente não se nasce preconceituoso, este tipo de coisa a gente aprende. Mas sabe o que ninguém nos ensina? Que só existe um tipo de gente: gente. 

Até quando vamos suportar o peso de nos julgar tão diferentes um do outro? Branco, negro, alto, baixo, gordo, magro, rico, pobre, mulher ou homem, somos todos parte de um mesmo núcleo, e todos abrimos a janela e vislumbramos o mesmo sol.  O que muda é como o encaramos no desafio de se viver em um mundo tão igualmente desigual. 

Termino essa resenha concluindo que o preconceito racial e social em uma pessoa é inversamente proporcional à sua capacidade de corrigir os próprios erros. 

"Temos de aprender a viver todos como irmãos, ou morreremos todos como loucos." Martin Luther King. 

O Sol é para todos é o único livro de Harper Lee e se tornou best seller mundial. O livro recebeu muitos prêmios desde sua publicação, em 1960, entre eles o Pulitzer. Traduzido em 40 idiomas, vendeu mais de 30 milhões de exemplares em todo o mundo, e em 1962 foi levado as telas com Gregory Peck, ganhador do Oscar por sua interpretação de Atticus Finch. O Librarian Journal dos EUA deu sua maior honraria a história elegendo-a o melhor romance do século XX. Em 2006, uma pesquisa na Inglaterra colocou O Sol é para todos no primeiro lugar da lista de livros mais importantes seguido da Bíblia e de o Senhor dos Anéis de J.RR. Tokien. Também entrou para a lista da Time Magazine dos Cem Melhores Romances de todos os tempos. 

Que seus 30 milhões de exemplares possam trazer conscientização para o maior número de pessoas possíveis. O mundo precisa de suas palavras Scout. Obrigada por tocar nossos corações e nos ensinar tanto com tão pouco. 

Minha nota: 10 com louvor. 




quinta-feira, 27 de outubro de 2016

"Ser atirada para dentro de uma vida totalmente diferente — ou, pelo menos, jogada com tanta força na vida de outra pessoa a ponto de parecer bater com a cara na janela dela — obriga a repensar sua ideia a respeito de quem você é. Ou sobre como os outros o veem." Resenha do livro "Nada mais a perder" - Jojo Moyes

Como você se sentiria se inesperadamente alguém batesse na sua porta e entrasse na sua casa sem ser convidado? Você o receberia de braços abertos e lhe ofereceria um café? Ou você lhe daria as costas?

É exatamente sobre estes tipos de decisões que Jojo Moyes majestosamente retrata em "Nada mais a perder". 

A primeira grande decisão a nos ser apresentada é em meados de 1950 através do olhar de Henri Lachapelle, um camponês francês que fora aceito no Le Cadre Noir, uma academia de extrema elite para cavalariços. Apesar de um talento nato para se comunicar com cavalos e executar acrobacias dignas de um filme, Henri resolve abandonar tudo para ficar com Florence, uma jovem inglesa que cruzou seu caminho sem mais nem menos. Desta relação, nasceu Simone, que mais para frente deu à luz a Sarah, a neta do casal, com quem passou a viver depois que a mãe resolveu se envolver no mundo das drogas. 

Henri carregou dentro de si, secretamente, um grande arrependimento pela decisão que havia tomado, e não queria para a neta um destino como o dele. Desta forma ele toma conhecimento que o bem mais precioso que poderia dar a Sarah era o seu enorme conhecimento sobre cavalos, talvez desta forma lhe proporcionando um passe para uma vida distante do caos de Londres. E foi assim, que Henri começou a treinar sua neta Sarah e seu cavalo Boo. 


Sarah cresceu passando mais tempo em meio ao estábulo do que fazendo qualquer outra coisa que uma pré adolescente faria. Suas tarefas diárias incluíam limpar a baia de Boo, levá-lo para esticar as patas e treinar movimentos precisos e muito difíceis para uma garota de sua idade. Ao completar 14 anos, Sarah ganha de seu avô um bilhete para uma viagem para a França, para assistirem ao vivo uma apresentação no Le Cadre Noir, escola que foi moradia para Henri durante muitos anos. 


Lembram-se da batida na porta? É neste momento que repentinamente seu avô sofre um derrame, e sozinha no mundo, Sarah precisa tomar a difícil decisão de fazer tudo para proteger seu bem mais precioso, seu cavalo. 

Neste ínterim, a segunda grande decisão do livro acontece com Natasha, uma advogada bem sucedida e com uma conta corrente extremamente poupuda. Natasha mora em uma casa dos sonhos, mas todos esses benesses não vieram sem um custo. Após quatro abortos espontâneos e uma carga de trabalho cada vez mais intensa, Mac, seu marido, desiste da relação, deixando Natasha sozinha e vivendo exclusivamente para seu trabalho, que envolve defender crianças abandonadas que buscam um lar ou um recomeço de vida. 

Passado um ano, quando Natasha de alguma forma tentava colocar sua vida nos eixos, Mac reaparece sem ter onde morar, e propõe a ex esposa a venda da casa, já que ele também tem direito a metade dela. Completamente desestabilizada pela situação, Natasha vai até um mercado local comprar um pouco de álcool, até porque quem nunca precisou de um pouco dele para afundar as mágoas? É neste momento que ela se depara com uma jovem sendo acusada de furto. Ao tentar ajudá-la, descobre que a mesma era menor de idade e estava morando sozinha, pois seu avô estava internado no hospital devido a um derrame. E por grandíssima ironia do destino, ao acionar o serviço social, Natasha fica sabendo que não havia nenhum lar disponível para abrigar a garota, e desta forma, em meio ao caos, Natasha resolve abrir a porta e deixar a menina entrar em sua vida. 

E é assim que as vidas de Sarah e Natasha se cruzam, criando uma enorme teia de motivações e decisões, permitindo que através de suas ações, nasça uma enorme lição de auto conhecimento.

Natasha decide abrigar Sarah por um tempo, até que seu avô se recupere, porém conhecendo crianças e adolescentes como ela conhece, Natasha percebe que Sarah está escondendo algo, e não consegue imaginar o tamanho da consequência deste segredo.

"As crianças não nos contam nada porque, na maioria das vezes, ninguém escuta mesmo."

O livro discorre sobre diversas óticas, sejam elas pertencentes a Sarah e Natasha, ou até mesmo Mac, onde acompanhamos como cada um lida com a convivência entre si, e com as decisões que ambos tomam conforme a história acontece. 

Nada mais a perder vai muito além do romance, e traz a tona uma reflexão muito profunda sobre quem somos, como somos e porque somos, e como uma simples abertura de uma porta pode trazer enormes consequências. 

Falar do que acontece com Sarah e qual seu grande mistério é entregar de bandeja toda a conclusão desta belíssima história, então vou deixar vocês com a reflexão do aprendizado que pude extrair deste livro:

A vida assim como o jogo, requer paciência e autenticidade em suas escolhas. Amor verdadeiro assim como o universo, é interminável e não cansa seu brilho prodigioso. A paixão assim como o fogo, aumenta a cada minuto, mas sempre há quem o apague. Família assim como estrelas, existem várias, mas só uma é capaz de reunir nossos sentimentos mais profundos. Amigos assim como bichinhos doentes, necessitam de cuidados especiais. 

Os mistérios assim como os segredos, também não deveriam ser revelados. A felicidade assim como os sonhos, nós almejamos a cada dia e corremos atrás até alcançarmos. O mar, por sua vez, também são como as relações com as pessoas que amamos. Ora está calmo, ora entra em alvoroço constante. 

Normalmente assim como a totalidade de poder, são poucas as pessoas que o possuem. Eu, assim como todo mundo, também sou gente, embora queira ser diferente, não me deixo levar por mudanças breves. 

Saudade é como não saber. Perdoar não é esquecer, e lembrar é querer reviver. Chorar não quer dizer emoção, e sorrir não é estar feliz. Nosso passado é a história que construímos, o presente é a história que ainda estamos vivenciando, e o futuro, ah, o futuro é totalmente incerto. Tudo pode ser um nada a ser descoberto, e as pequenas coisas acabam se tornando tudo. 

Possuir não quer dizer conquistar e amar não quer dizer ser amado. Tudo é relativo. Pensar não é entender, querer nem sempre é poder, e olhar nem sempre é enxergar. Ensinar pode ser repassar, mas repassar nem sempre assegura que o melhor irá acontecer. Sentir não quer dizer experimentar, afinal todo experimento tem sua consequência.

Sarah e Natasha não deixam de encarar todos esses desafios e aprendizados,  porque percebem no final das contas que encarar é passar por cima dos próprios medos. E medos são sentimentos que não nos permitem viver. Medo da morte, medo da solidão, medo de confiar, medo de ser julgada, medo de pedir ajuda, medo de expor as fraquezas, medo de assumir um sentimento, medo de tentar, medo de mudar, medo de cair, simplesmente medo...

Volto a perguntar: se alguém bater na sua porta, você prefere atende-la e lhe oferecer um café, ou por medo irá deixa-la fechada sem saber quem e o que poderia estar do outro lado? As vezes, uma oportunidade pode bater uma única vez na sua porta, e nunca se sabe qual será a consequência na escolha de abri-la ou não. Então porque não começar a se permitir abrir mais portas, e não deixar que o medo as mantenha sempre fechadas?

Afinal, às vezes são necessárias apenas algumas palavras de incetivo para reacender uma fagulha de confiança de que o futuro poderá ser maravilhoso, em vez de uma série infindável de obstáculos e decepções. A vida vale sim, muito a pena. 

Minha nota: 10

Obs.: Após o Epílogo, Jojo Moyes escreve sobre suas próprias motivações para escrever essa história, e eu peço encarecidamente que você leia, pois ela vale tanto a pena quanto o livro todo. 

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

"Melhor enfrentar a loucura com um plano do que ficar parado e deixar que ela nos alcance aos poucos." - Resenha do livro "Caixa de Pássaros" - Josh Malerman

"Eles vão acabar nos alcançando, disse Don. Não há porque pensar de outra forma. É o fim dos tempos, pessoal. E, se o problema for uma criatura que nossos cérebros não são capazes de entender, merecemos isso. Sempre supus que o fim viria da nossa própria estupidez."

Algo aterrorizante começa timidamente a acontecer em pequenas cidades, e rapidamente toma conta de todo o mundo. Algo que não deve ser visto. Basta uma olhada, e a pessoa é levada a cometer atos de violência mortal. E ninguém sabe o que provoca isso, ou de onde veio tudo isso.

Os cenários que nos deparamos no livro de Josh Malerman são portas sempre trancadas. Cobertores tapam as janelas de todas as casas. A internet não funciona mais, muito menos os telefones e qualquer meio de comunicação. Os sobreviventes não sabem em quem confiar. Não se pode mais sair às ruas sem uma venda nos olhos. Definitivamente há algo do lado de fora. Algo que não pode ser visto, que enlouquece as pessoas e as leva a cometer atos violentos uns contra os outros, seguidos de suicídio. 

Nossa protagonista, Malorie, ao mesmo tempo em que começa a entender as implicações do que está acontecendo no mundo, descobre que está grávida de algumas poucas semanas, e após assistir sua irmã mais nova enlouquecer e se suicidar sem mais nem menos, vê um anúncio no jornal de uma casa muito próxima a sua, que está servindo de abrigo a sobreviventes. 

Malorie resolve se arriscar e ir até o local, e é a partir deste momento que nossa protagonista começa a fazer parte de um grupo liderado por Tom, que acaba por se tornar um grande amigo e aliado, e mais pessoas que não se conheciam antes do fim do mundo, mas se uniram para tentar resistir ao terror oculto, na tentativa de criar certa ordem a partir do caos. 

Rotinas como buscar água potável em um poço de olhos vendados, comer comida enlatada de forma racionada, e viver diariamente presos em uma casa coberta por tabuas e edredons, Malorie e os demais componentes desta história pensam o tempo todo como criar formas de viver e combater o que eles acabam intitulando de "criaturas de outro planeta."

Há momentos de muita agonia durante a leitura, principalmente quando os suprimentos da casa começam a chegar perto da escassez, e os sobreviventes precisam começar a se arriscar do lado de fora da casa, e a confrontar principalmente a questão mais derradeira: em um mundo que  praticamente enlouqueceu, em que se pode confiar? 

Após ter um complicado parto, Malorie cria o Garoto e a Menina, duas crianças que ela prefere não nomear enquanto o mundo vive um verdadeiro apocalipse, e passam a viver abrigados na casa por exatos quatro anos. Logo Malorie aprende a realizar tarefas, e inclusive percorrer distâncias mais longas, sempre às cegas. 

O surgimento de uma misteriosa neblina faz com que ela decida finalmente deixar a casa e embarcar com a família numa arriscada jornada, de olhos vendados, e confiando apenas em sua perspicácia e no ouvido altamente treinado dos filhos. 

Assumo que este é um livro difícil de resenhar, pois qualquer detalhe pode diminuir as surpresas que garanto que os leitores vão encontrar. Apesar de Caixa de Pássaros não ser um thriller perfeito, é um livro fácil de ler. O enredo possui destalhes inconsistentes, acabam sendo mal formulados e pouco convincentes, porém a ideia do mundo pós apocalíptico, onde o sentido da visão pode ser o gatilho para a loucura e morte, me deixou intrigada para chegar ao final.

Pessoas enlouquecendo, matando e se suicidando porque viram algo, é por si só perturbador. Não tenha esperanças de descobrir o que causa tal efeito nas pessoas, pois já adianto que o final pode ser um pouco decepcionante, mas o que chama a atenção nesta obra, é que o leitor é colocado em uma posição onde se sente exatamente como os personagens: vendado. Como lutar contra uma força, criatura ou entidade que você não sabe o que é, nem de onde veio, e não pode abrir os olhos para enfrenta-la? Seriam seres alienígenas, alguma entidade maligna, uma força além de nossa compreensão, ou apenas um caso de histeria coletiva? Especular a causa do caos é inevitável e prepare-se para formular mil teorias do inicio ao fim. 

Falando sobre histeria coletiva, entende-se tal nomenclatura como um distúrbio psicológico em que um grupo de pessoas passa a ter, ao mesmo tempo, um comportamento estranho ou adoecer sem uma causa aparente. Os surtos de histeria coletiva, também conhecida culturalmente como doença psicogênica de massa, são mais frequentes em grupos fechados, como alunos de uma mesma escola ou trabalhadores de uma empresa, embora também acometa uma população em geral. A doença faz com que todos fiquem mais ansiosos e percam o controle sobre atos e emoções, além de turbinar os sentidos, como tato, olfato, paladar e pasmem: visão. 

Independente se o mundo está mesmo acabando, e criaturas malignas estão nos assombrando para acabar com a raça humana, o interessante do livro são os próprios humanos, e como estes seres tão providos de inteligencia sobrevivem e encaram o caos. Ou deveríamos mesmo chamar tudo isso de caos, e não simplesmente como dito acima, um caso de histeria coletiva?

Observando o mundo atual, e o livro retrata o mesmo período que vivemos atualmente, é quase impossível não ter a sensação de que vivemos realmente no caos. No entanto, o que poucos parecem perceber é o que exterior é simplesmente o reflexo, a expressão do estado interior do ser humano. 

Infelizmente, a maioria dos seres humanos se debate tentando administrar o caos, sem conseguir enxergar esta simples verdade. A sociedade alimenta esta inconsciência, pois ela é bastante conveniente para a sua sobrevivência. 

Paradoxalmente, os assim chamados despertos são considerados insanos pelos poderes constituídos. Mas ao contrário disso, são um farol na escuridão, uma fonte de água limpa e cristalina, que pode matar a sede daqueles que buscam a verdade. 

Surge um momento em que a total incapacidade de se lidar com o caos, nos seus mais simples ou complexo aspecto, faz com que a angustia e a infelicidade atinjam um grau insuportável. Podem ocorrer, então, duas possibilidades: o mergulho total na insanidade ou um despertar interior, que nos mobiliza a ir em busca de respostas. 

Malorie decide olhar para dentro de si, enfrentar porões escuros de sua própria interioridade, e esta atitude acaba sendo a única saída para a libertação do caos em que está inserida. 

Ali encontramos a escuridão, mas também a luz, que durante muito tempo julgamos não existir. Não há saída possível sem esta disposição. A fronteira entre o caos e a harmonia, é uma linha tênue que só pode ser cruzada por aqueles que se dispuserem a realizar a caminhada com coragem, determinação, e acima de tudo, confiança. Confiança em acreditar em si próprio, e não na efetividade do caos. 

Caixa de Pássaros é um livro intrigante e tenso. Um ótima pedida para quem se questiona sobre os motivos que levam seres inteligentes a acreditarem em mistérios impossíveis de se desvendar.

Definitivamente é melhor enfrentar a loucura e o caos, do que ficar parado e esperar que ela nos alcance aos poucos. Seja lá o que "ela" possa significar. 

Minha nota: 8,0

terça-feira, 13 de setembro de 2016

"Quem foi que disse que fazer o que manda o coração é uma coisa boa? É puro egocentrismo, um egoísmo de querer ter tudo e nunca ter nada." Resenha do livro "A Garota no Trem" - Paula Hawkins

"Um para tristeza, duas para alegria, três para menina. Três para menina. Fico empacada no três. Não consigo passar disso. Minha cabeça está repleta de sons, minha boca, repleta de sangue. Três para menina. Posso ouvir as aves, as pega-rabudas - estão rindo, debochando de mim, um crocitar estridente. Um bando. Mau agouro. Posso vê-las agora, negras contra o sol. Não as aves, outra coisa. Alguém está vindo. Alguém está falando comigo. Veja só. Veja só o que você me obrigou a fazer."

Como todo bom thriller psicológico, A Garota no Trem vem com uma promessa de ser uma intensa leitura, onde tudo que parece e se fala realmente não é o que se parece e o que se fala.

Tudo começa quando somos convidados a entrar na vida de Rachel, e ver o mundo através de seus olhos. Nossa primeira protagonista está com a sua vida literalmente pausada, e nada de novo acontece com e para ela, a não ser lembranças de um passado feliz que foi destruído por causa de uma traição.

Sem emprego e viciada em álcool, seus dias são todos iguais. Ela acorda com ressaca, vai para Londres de trem numa tentativa de despistar sua companheira de apartamento, se senta na janela e observa as casas ao redor, inventando nomes para as pessoas cotidianas que ela vê nas varandas de suas casas, e imaginando suas lindas e plenas vidas, enquanto remoí os pensamentos do que o seu ex marido Tom estaria fazendo com sua nova esposa Anna e sua filhinha recém nascida.

Imaginar ficções na cabeça talvez não seja o maior problema de Rachel, pois dependendo do nível de seu alcoolismo, e no livro acompanhamos muitos mais baixos do que altos de seu vicio, ela comete algumas loucuras como aparecer na sua antiga casa ou ligar para seu ex marido e sua nova esposa, implorando para que Tom lhe conceda um pouco de atenção. Somos literalmente levados a sentir pena deste personagem, a julgando como uma coitada que destruiu seu final feliz por causa de várias taças de vinho e tônicas com gim.

Em uma de suas voltas de Londres por trem, Rachel olha para uma casa específica, um lugar que ela costumava amar olhar porque sentia que o casal que ali morava possuía um tipo de amor que ela tinha com seu ex marido antes dele troca-la por uma mulher menos problemática que ela. No entanto, ao invés de uma cena de amor como em um filme de romance, ela vê algo diferente, algo que pode explicar muito dos fatos que ocorreram depois que a mulher que morava naquela casa foi dada como desaparecida pelos jornais locais.

Envolvida emocionalmente mais do que deveria, Rachel decide que precisa fazer alguma coisa para descobrir o que aconteceu com Megan, nossa segunda protagonista desta história, que ganha alguns bons capítulos, que também nos levam a julga-la como uma mulher totalmente confusa, perdida e com um passado extremamente nebuloso.

Neste ínterim, somos levados a conhecer Ana, a mulher que foi amante de Tom enquanto o mesmo foi casado com Rachel, e a atual e aparentemente recatada esposa e recente mãe de uma adorável criança. O livro não se cansa de nos levar aos julgamentos, certo?

A obra de Paula Hawkins se parece um quebra-cabeças cujas peças foram arrastadas pelo vento e que pouco a pouco vão conseguindo se reunir. A maneira que a autora optou para mostrar para os leitores a solução vai mudando o ponto de vista da narrativa entre as três protagonistas. A principio não entendemos muito bem o que a autora quer dizer reunindo os olhares destas mulheres tão diferentes, mas logo que as peças começam a se encaixar, tudo parece muito bem colocado. Destro destas alternâncias de narradores, há também uma divisão entre os turnos de cada dia que podem fazer parte tanto do presente quanto do passado. Parece confuso de inicio, mas realmente é uma combinação peculiar e que no final dá muito certo.

Mais o que afinal trata este livro? A Garota no Trem fala sobre Manipulação e Egoísmo. Explico melhor abaixo.

A chantagem emocional é uma forma de controle que recorre basicamente à culpa, obrigação e ao medo para conseguir que outra pessoa haja de acordo com os interesses de quem chantageia. Uma maneira de manipular a vontade alheia é provocar sentimentos negativos, dos quais a pessoa chantageada parece não poder sair, a menos que faça aquilo que o chantagista quer. É como uma porta, que desejamos entrar, mas depois não conseguimos mais sair.

Geralmente associamos a manipulação com pessoas maquiavélicas, retorcidas e egoístas. Entretanto, na prática, todos nós recorremos alguma vez a algum tipo de chantagem emocional. Uma pessoa exerce o papel de manipuladora sempre e quando tenta controlar o que a outra pessoa diz ou faz, exige algo e não fornece alternativa de escolha ou detona a autoestima alheia. O objetivo da chantagem emocional costuma ser ganhar o poder em uma relação.

E é exatamente através da manipulação que nossas três protagonistas formam um vínculo pessoal entre elas. Independente do que as leva a serem deixadas enganar pela manipulação, a conclusão que se chega é que só nos permitimos entrar em uma porta quando decidimos por vontade própria abri-la, e a porta muita vezes é aberta porque queremos mais do que podemos ter.

Rachel, Megan e Ana abrem portas por desespero, por almejarem demais, e simplesmente por cobiça. E quando elas o fazem, encontram do outro lado a consequência  destes atos. Você já deve imaginar que o que ambas encontraram do outro lado da porta é a manipulação, pronta para devora-las, porque vamos dizer a verdade, se não temos a chave para abrir determinadas portas, porque vamos contra o que podemos, e abrimos mesmo assim, sem sermos chamadas? A manipulação só toma conta de quem não está preparado, e ela pode vir de terceiros, ou pior, de dentro de nós mesmos.

Assim como as três protagonistas, nós nos julgamos ímpar e somos pares. Preferimos o controle, a manipulação do jogo, do jogo que joga sozinho com cada um de nós, a vida.

Em suma, é um livro que trata de ilusões sendo destruídas, de verdades ocultas, bem como, do quanto as pessoas a nossa volta, ou nós mesmas,  exercem poder quando de alguma forma brincamos com nossas fraquezas.

É o tipo de história que deve ser lida sem expectativas prévias, para que assim possa se surpreender e repensar como realmente cada ação gera uma reação, e que nem todo mundo é realmente o que diz ser. E aqui estou falando de nós próprios. Perceba que quando falei que o livro nos leva a julgar os personagens, me peguei pensando no final, se na verdade não seria eu me deixando levar pela manipulação da própria autora. E se eu me permiti ser manipulada, preciso me preocupar que estou abrindo portas desnecessárias na minha vida? A se pensar.

Obs.: O livro virou um filme, e deixo abaixo o trailer do mesmo para que possam conhecer um pouco sobre a história. Posso entregar apenas que este livro não tem um final feliz, mas tem uma belíssima reflexão sobre o que projetamos de nós próprios no mundo, e do quanto nossas escolhas precisam ser precisas para que nenhuma porta seja aberta de forma errada e a manipulação tome conta de nossas vidas.

Tudo começa sempre dentro de nós mesmos, certo?

https://www.youtube.com/watch?v=kmQ1WcX425E

E você? Se acha preparado para encarar a sua própria manipulação?

Minha nota: 7,0

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

"Certa vez uma pessoa sábia me disse que escrever é perigoso pois nem sempre podemos garantir que nossas palavras serão lidas no espírito em que foram escritas..." Resenha do livro "A Última Carta de Amor" - Jojo Moyes

Palavras cantam. Eu as amo, tenho vontade de abraça-las, as persigo, as mordo, as derreto. Amo tanto as palavras, principalmente as inesperadas. As que se amontoam, se espreitam, até que de súbito caem. São tantos os vocábulos amados. Palavras brilham como pedras de cores, saltam como irisados peixes, são espuma, fio, metal e orvalho. Eu persigo algumas palavras, de tão belas quero coloca-las em poemas. Agarro-as em voo, quando andam soltas, e caço-as, as limpo, as descasco, preparando -as diante do prato. Sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas. E então eu as agito, bebo, trago, trituro e as liberto. Deixo-as como estalactites em poemas, como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes nas ondas e no mar. Tudo está na palavra. Um ideia inteira altera-se porque uma palavra mudou de lugar, ou porque outra se sentou como um rei dentro de uma frase que não a esperava, mas que lhe obedeceu. Elas têm sombra, transparência, peso, penas, pelos, têm de tudo quando se lhes foi agregando de tanto rolar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto serem apenas raízes. São ao mesmo tempo antigas e recentes. Vivem no escondido e na flor que despontam. Desaparecem, mas não adormecem. Renascem  para trazer a tona seu real e precioso significado. 

E foram justamente as palavras as responsáveis por este belíssimo romance de Jojo Moyes. 

O livro começa no belo cenário de Londres nos anos 1960. Ao acordar em um hospital após um acidente de carro, Jennifer Stirling não consegue se lembrar de absolutamente nada. Novamente em casa, com o marido, ela tenta sem sucesso recuperar a memória de sua antiga vida. Por mais que todos a sua volta pareçam atenciosos e amáveis, Jennifer sente que alguma coisa está errada. É então que ela descobre uma série de cartas de amor escondidas, endereçadas a ela e assinadas apenas por "B". Nossa protagonista percebe que não só tinha um romance fora do casamento, como também parecia disposta a arriscar tudo para ficar com o seu amante. 

Enquanto acompanhamos toda a história de Jennifer antes de seu acidente de carro, somos convidados a fazer uma viagem para quatro décadas depois, e nos anos 2000 conhecemos a jornalista Ellie Haworth, nossa outra protagonista desta intrigante história. Ellie encontra uma dessas cartas endereçadas a Jennifer durante uma pesquisa nos arquivos do jornal em que trabalha. Coincidência ou não, pois ela também vive um romance complicado com um homem casado, Ellie fica obcecada pelo amor proibido de Jennifer e "B", e começa uma insana e investigativa procura por quem são estas pessoas, e o que de fato aconteceu com elas, para que este romance não tenha tido um final feliz. 

Com personagens realísticos, complexos e uma trama bem elaborada, A Última Carta de Amor entrelaça as histórias de paixão, adultério e perdas de Ellie e Jennifer. Falar mais sobre este livro é entregar todas as surpresas do desenrolar de uma obra comovente e irremediavelmente romântica. Desta forma, vou falar sobre o que A Última Carta de Amor significou para mim. Ao terminar o livro com um pingo de lágrimas nos olhos, e uma boa reflexão sobre o sentido de nossas atitudes, afinal toda ação possui uma reação, e no caso de nossas duas protagonistas não seria diferente, a não ser por dois excelentes artifícios chamados tempo e destino. 

A vida é feita de surpresas, e nossa simples missão dentro deste contexto é viver. Alguns momentos podem durar tão pouco e ficar na nossa memória por muito tempo. Algumas pessoas podem fazer muito pouco parte de nossas vidas, e ser considerada para sempre dentro de nossos corações. 

De uma coisa podemos ter certeza, de nada adianta querer apressar as coisas, pois tudo vem ao seu tempo, dentro do prazo que lhe foi previsto, mas o fato é que a natureza humana não é muito paciente. Temos pressa em tudo, e então acontecem os atropelos do destino, aquela situação em que você mesmo provoca por pura ansiedade de não aguardar o tempo certo. 

Quando alguma coisa coisa está para acontecer, ou chegar até sua vida, pequenas manifestações do cotidiano enviarão sinais indicando o caminho certo, que vem através da palavra de um amigo ou conhecido, de um texto ou de uma observação, mas com certeza o sincronismo se encarregará de colocar as coisas certas em seus devidos lugares, na hora certa e no momento certo. Afinal, nada acontece por acaso, certo? 

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não para de mudar de direção. Você pode mudar o rumo, mas a tempestade de areia vai sempre atrás de você. Você pode voltar a mudar de direção, mas a tempestade a persegue e te segue no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada a ver com você. Esta tempestade é você. Algo que está dentro de você e precisa ser resolvido. Por isso, apenas te resta se deixar levar, mergulhar na tempestade, fechar os olhos e tapar os ouvidos para não deixar entrar a areia, e passo a passo, atravessa-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol e nem para a lua, a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direção ao céu. 

Não há maneira de escapar da violência da tempestade, a essa tempestade metafisica simbólica. Não se iluda caro leitor, por mais metafisica e simbólica que seja, o destino é real, porque você fez uma escolha. E quando a tempestade tiver passado, você mal se lembrará de ter conseguido atravessa la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terá a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa, quando a tempestade chegar ao fim, você já não será mais a mesma pessoa. Somente desta forma, é que o destino fará sentido quando ele contemplar sua tenra tarefa de te ensinar uma preciosa lição. E então quem sabe, em um dia chuvoso, depois que a tempestade maior passar, dois amantes depois de 40 anos de distância, terão a oportunidade de renovar suas escolhas, porque já que a vida é feita de surpresas, basta a nós vive-la da melhor forma possível. 

Imagino o dia em que todas as pessoas terão o direito de ser feliz, mesmo que seja só por um momento, para ter a oportunidade de sentir o que realmente desejam e acreditam, afinal os sonhos não deveriam ser meras bobagens. 

Jennifer e Ellie, obrigada por me fazerem enxergar que sonhar nunca foi um erro. Somos mesmo crianças aprendendo constantemente a viver. 

Espero que minhas palavras cheguem até vocês no espírito que as mesmas foram escritas, pois para mim esta não é uma última e única mensagem de amor, mas sim o inicio de um belo aprendizado que eu espero que seja passado a todos que simplesmente amam sonhar. 

Minha nota: 10

Obs: Ao longo de cada inicio de capitulo, Jojo Moyes reuniu últimas cartas, últimos emails e últimas mensagens de amor de diversas pessoas em diversos seculos de vida. Pessoais reais, que aceitaram ter suas histórias de amor divididas conosco. Felizes ou não, suas histórias sempre acabam por nos passar uma única mensagem: Vale sempre a pena. 

quinta-feira, 14 de julho de 2016

"Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço." Resenha do livro "A Mulher que Roubou a Minha Vida" - Marian Keyes

Já dizia William Shakespeare: "Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças! As pirâmides que novamente construíste não me parecem novas, nem estranhas. Apenas as mesmas com novas vestimentas."

Ao longo de toda a nossa vida, somos confrontados com momentos de mudança que criam quase sempre insegurança e até em alguns casos, o medo. Contudo, esta atitude pode não ser a mais favorável, pois a mudança pode nos levar a experienciar novas e interessantes situações, que de alguma forma, devemos tentar encarar de forma positiva. 

E são com algumas mudanças drásticas e inesperadas, e muitas vezes com uma pitada de ação cármica que a protagonista desta história Stella Sweeney, nos leva a refletir sobre como nós agimos e reagimos perante as incertezas da vida. 

O livro começa com Stella andando de carro em meio ao pesado tráfego de Dublin. Dedicada mãe e esposa, nossa protagonista resolve fazer uma boa ação no meio de um pequeno acidente de carro. O resultado deste ato é um homem um pouco esquisito e metido que lhe pede o número do seu celular para o seguro, plantando uma semente de que algo levará Stella a muitos quilômetros para longe da sua pacata e monótoma rotina. 

Stella é casada com Ryan, uma egocêntrica pessoa que se enxerga como um promissor homem da arte, quando na verdade ele apenas cria design de banheiros de luxo. Juntos, eles têm dois filhos, Betsey, uma doce e adorável menina que vive de forma tão simplista, que para ela, casar com um homem que lhe transforme em uma boneca seria o ideal de uma vida toda. Já Jeffrey, seu filho mais novo, vive tropeçando nas atitudes da mãe, e possui um relacionamento familiar que varia entre preocupação e irritação extrema. Stella, por viver pautada nos sonhos do marido de ser tornar um grande artista renascentista, é apenas uma mulher que trabalha em uma clínica de estética depilando mulheres e homens, e manipulando máquinas de bronzeamento artificial junto de sua sócia, sua irmã mais nova, Karen. 

Como todo bom livro de Marian Keyes, somos surpreendidos quando Stella acorda doente e incapaz de se comunicar. Nossa protagonista possui um doença rara, chamada Síndrome de Guillain - Barré, uma doença auto imune que ocorre quando o sistema imunológico do corpo ataca parte do próprio sistema nervoso por engano. A consequência desta doença é uma inflamação dos nervos que provoca fraqueza muscular e impossibilita o portador desta rara síndrome de se mexer, falar e ter controle sobre sua função neuro vital. 

Stella fica muitos e muitos meses no hospital e só consegue se comunicar por meio de piscadas, uma de cada vez, um método inventado por ser neurologista, Mannix Taylor, um homem um tanto quanto esquisito e metido. Stella consegue no meio de uma situação extremamente complexa e sem controle algum, conversar com Mannix e criar provérbios de auto ajuda, que no final entendemos que ela cria para ela própria como um meio de se sustentar em meio a uma incerteza de que um dia ela voltaria a ter controle sobre o seu próprio corpo. 

Peca quem acha que o livro gira em torno da doença de Stella, pois é a partir dela que se inicia a grande história de nossa protagonista. Depois de uma recuperação árdua, seu neurologista encantado com a força de vontade de Stella, reuni todos os excelentes provérbios descritos através de suas piscadas e publica um livro, que acaba caindo em mãos "erradas". Lembram-se do tal do carma? 

Da noite para o dia nossa protagonista vira uma escritora famosa, que passa seus dias viajando o mundo divulgando o seu best seller. Se já não bastasse não conseguir mais se mexer e falar, Stella passa de uma simples esteticista, depiladora e manipuladora de máquinas de bronzeamento artificial, a uma escritora famosa, que divulga um best seller sobre sua motivação em superar uma rara doença. 

Enfrentar o ódio de seu marido que gostaria de estar no seu lugar, e sua família que não entende as diretrizes que a vida de Stella toma, nossa protagonista se vê obrigada a se mudar da pacata Dublin e passa a morar em Nova York, rodeada por diversas pessoas que lhe dizem o que vestir, como falar, como se comportar, e lhe cobram constantemente um padrão estético que não condiz com a sua realidade. Tirando o fato de ter que viajar para 5 cidades em apenas uma semana, Stella ainda precisa lidar com os problemáticos filhos lhe dizendo que todas as mudanças em sua vida são culpa de sua doença. 

Enquanto acompanhamos estas drásticas mudanças na vida de Stella, e como ela lida com elas, fazendo com que muitas vezes durante a leitura sintamos raiva e decepção pela forma como ela se comporta, também nós pegamos pensando, e nós? Como nós lidaríamos com tantas mudanças? Vamos refletir, por quantas experiências nós seres humanos passamos ao longo da nossa trajetória neste complexo jogo que chamamos de vida?

A rapidez que caracteriza a sociedade atual, dominada pela mudança contínua, cria em nós sentimentos de insegurança, uma vez que somos obrigados a adaptarmo-nos continuamente a novas regras, novos hábitos, novos modos de estar e de trabalhar. Todas estas situações são, normalmente, precedidas de sentimentos antagônicos: receio, mas simultaneamente curiosidade, vontade de não mudar, mas ao menos tempo, vontade de experimentar. 

É esta atitude de abertura face a mudança que deve caracterizar a nossa vida, pois tudo se torna mais fácil, quer quando se trata da mudança de emprego, quer da necessidade de deixarmos a casa ou a localidade onde sempre vivemos, e até de mudarmos de parceiros, porque percebemos que aquele que estamos já não fazem jus a sua denominação. 

Que cada fim leva a um começo, não podemos discutir. Terminar algo nem sempre cabe a nós, porém nos leva a um único caminho: um inicio. Quando a bateria da câmera termina, é hora de carregar para que ela possa estar cheia novamente. Quando um ano acaba, é hora de outro iniciar. Quando você termina um relacionamento, inicia uma fase sem aquele relacionamento presente. Há uma linha tênue entre um fim e um começo. Essa linha é a tal da mudança.  

Passamos por mudanças durante a nossa vida inteira sem ao menos perceber. Sabe quando você olha para trás e percebe o quanto as coisas eram diferentes? E sabe quando você olha para o futuro e percebe o quanto as coisas serão diferentes a partir de hoje?

Como Stella, e assim como nós, chega uma determinada hora que precisamos ser adultos. E ser adulto significa que as coisas já não irão mais se resolver sozinhas, e lamentar deixa de ser uma opção, é preciso aprender a lidar. E lidar não é só encarar a mudança de frente, é aceitar que nossas decisões muitas vezes não são as melhores. Antes da Síndrome, e antes de virar uma famosa escritora de provérbios motivacionais, Stella apenas vivia, e agora ela se adapta. E adaptações são feitas de términos, despedidas e talvez algumas saudades. As mudanças, ou se quiserem chamar de metamorfoses, são ajustes que devemos e fazemos para levar as mudanças da melhor forma possível. O novo sempre continuará a aparecer, e tudo começara de novo e de novo. É como um ciclo de aprendizados que no final se tornam memórias. 

Acompanhar a história de Stella é como acompanhar nossa própria história. Fato é, que quando algo desconhecido nos acontece, todos somos inexperientes. Somos como pequenas crianças aprendendo a caminhar e falar. Começamos de forma lenta, rastejando e totalmente inseguros. Mas sabemos que precisamos tentar, e ninguém caminhará por nós. E quando finalmente podemos seguir em frente, quando tudo parece tranquilo, algo inesperado novamente acontece, e precisamos novamente caminhar por uma árdua estrada, e desta forma eu acredito que é feita a vida, de mudanças constantes externas e internas. 

Eu particularmente tenho me sentindo diferente depois de tantos mudanças em minha trajetória. Talvez seja o tempo que não me sobra mais, a saudade que eu já não sinto, o sentimento que eu já não preciso mais guardar. Talvez tenha sido aquela chuva que não parava de cair, ou o sol que agora insiste em me fazer companhia. Talvez simplesmente, seja eu mesma.

Crescemos mesmo tendo o desejo árduo de continuar a ser uma criança de pés descalços e coração intacto. Mudamos mesmo teimando em continuar parado no mesmo lugar. Mudamos por temer ser a mesma pessoa pelo resto de nossas vidas. A vida nos molda e nós moldamos a nossa vida, e será sempre assim. Mesmo que não consigamos fazer o molde perfeito, mesmo que ele saia meio torto ou com a textura diferente do esperado, a gente se molda. 

A gente se muda. A gente muda. 

Minha nota: 7,5

quinta-feira, 2 de junho de 2016

"Você não me deu uma vida, deu? De jeito nenhum. Só acabou com a minha antiga. Desfez em pedacinhos. O que eu faço com o que sobrou?" - Resenha do livro "Depois de Você" - Jojo Moyes

Quanto tempo é preciso para que possamos encontrar o nosso verdadeiro lugar no mundo?

Eu começo essa resenha respondendo a essa pergunta: Nenhum... Nenhum tempo. 

Você pode ir embora e nunca mais ser a mesma pessoa. Ou você pode voltar para casa e nada mais ser como era antes. Você pode até ficar onde estava, para que nada mude, mas aí é você que não vai se conformar com isso. 

Você pode sofrer por perder alguém. Você pode até lembrar com carinho ou orgulho de algum momento importante na sua vida: formatura, casamento, aprovação no vestibular ou a festa mais linda que você já tenha ido, mas o que vai te fazer falta mesmo, o que vai doer de forma profunda, é a saudade dos momentos feitos de simplicidade: Sua mãe te chamando para acordar e ir para a escola, do seu pai te levantando no ar e brincando como se você pudesse voar e alcançar o céu, dos desenhos animados que você assistia com o seu irmão, da diversão natural em estar ao lado dos amigos, do cheiro que você sentia naquele abraço especial, da hora exata em que ele, o amor da sua vida, aparecia para te ver, de como ele te olhava com aquela cara de coitado só para te deixar mais apaixonada e da forma como ele pegava em sua mão quando você sentia medo. 

Depois de seis meses sendo cuidadora de Will, Louise Clark passou os últimos dois anos tentando responder a pergunta acima, mas invés de nos depararmos com um final feliz e de superação para a nossa grande protagonista, percebemos que na realidade ela não fez nada que a deixasse em paz consigo mesma, ela não tomou o cuidado suficiente em como estava colocando a sua dor para fora, ela não contou até três antes de tomar uma decisão, ela não pensou que seria melhor estar só do que mal acompanhada, ou não esperou o tempo certo das coisas com medo da inércia e assim se tornar uma pessoa desinteressante. Ela teve medo de renunciar do passado por medo de dizer que não o amava mais, ela não soube abrir mão porque teve medo de dizer o que não queria. Basicamente para Louise, o tempo ensinou muita coisa, mas não a curou da forma que ela esperava. 

Will, ao decidir colocar fim em sua vida, deixa a Louise uma valiosa lição, e pede que incansavelmente ela apenas viva sua vida sem se lembrar muito dele, e para isso lhe dispõe de uma quantia de dinheiro razoavelmente grande, que permite que Louise viaje pela Europa por um tempo, conheça algumas pessoas e lugares interessantes, e compre um pequeno apartamento em Londres,  já que para ela é impossível voltar ao lar, onde tudo começou e acabou de forma um tanto quanto trágica. Em Londres, Louise trabalha como garçonete em um bar estilo irlandês que fica dentro do principal aeroporto da cidade, e lá ela observa todos os dias milhares de pessoas embarcando, se despedindo, voltando para casa, reencontrando entes queridos, indo trabalhar ou mesmo tirando férias de verão. Definitivamente, não era assim que Will imaginava a vida de Louise depois de sua breve passagem em sua vida. 


Mas a vida sempre se encarrega de nos dar oportunidades. Se não for pelo curso natural das coisas ou por nossas próprias escolhas, elas acabam acontecendo de uma forma ou de outra. E é exatamente assim, que a vida de Louise vira de ponta cabeça quando ela despenca acidentalmente do seu terraço, e com uma bacia quebrada e muitas lesões corporais, Louise se vê forçada a retornar para a sua casa, e encarar uma grande temporada com a loucura que é a sua família. 


"Nunca se sabe o que vai acontecer quando se cai de uma grande altura".

E é por causa desta queda, que Louise conhece Sam Fielding, o paramédico que a salva no dia do acidente, e Lily, a problemática e perturbada personagem, que lembra muito tudo o que Will representou na vida de Louise. 

Para os amantes do primeiro livro, como eu, preparem-se para se reencontrar com todos os personagens queridos e não tão queridos do primeiro volume. É delicioso, depois de tanto tempo de espera, entender o que a decisão de Will causou na vida de todos. Uma vez ouvi, que era preciso gerar o caos dentro de outro caos, para que todas as peças voltassem a se equilibrar no tabuleiro que chamamos de vida. Falar mais sobre o livro seria entregar todo o caos para vocês, e minha intenção não é falar sobre isso, mas sim deixar claro o que uma história tão triste pode resultar dentro de cada ser humano. 

A dinâmica do primeiro livro perdura. É egoísta Will ter se matado e deixado apenas uma carta para Louise seguir em frente? É egoísta Louise querer Will vivo, porém sem poder ser ele próprio para desfrutar da vida ao seu lado? É egoísta uma mulher querer se libertar das amarras da sociedade, e fazer o que bem entender sem ser julgada por todos? É egoísta uma mãe solteira, querer viver sua vida enquanto o filho pequeno pede por cuidados constantes? É egoísta uma filha não conhecer o pai e agir feito uma louca só para ter a atenção que nunca teve na vida? É egoísta seguir adiante e abrir o coração para amar outra pessoa? É egoísta voltar a vestir roupas coloridas sendo que o amor da sua vida morreu? É egoísta meus caros leitores, viver depois uma brusca queda? No caso de Louise,  ironicamente e literalmente falando, duas quedas?

É preciso abrir todas as portas que fecham o nosso coração. Quebrar barreiras construídas ao longo do tempo, por amores do passado que foram em vão. É preciso muita renúncia em ser a mudança no pensar. É preciso não esquecer que ninguém vem perfeito até nós. É preciso ver o outro com os olhos da alma e se deixar cativar. É preciso renunciar ao que não agrada a você próprio. Para que se moldem um ao outro como se molda uma escultura, aparando as arestas que podem machucar, é como lapidar um diamante bruto, para faze-lo brilhar. E quando decidir que chegou a hora de amar, lembre-se que é preciso haver identificação de almas. De gostos, de gestos, de pele. No modo de sentir e de pensar, é preciso ver a luz iluminar a aura, dando uma chance para que o amor te encontre novamente. Na suavidade morna de uma noite calma, é preciso se entregar de corpo e alma. É preciso ter dentro do coração um sonho, que se acalenta no desejo de amar e ser amada. É preciso conhecer no outro o ser tão procurado dentro de nós. É preciso conquistar e se deixar seduzir, entrar no jogo e deixar fluir. Amar com emoção para se saber sentir. A sensação do momento em que o amor te devora, e quando você estiver vivendo no clímax desse sentimento, sentir que essa foi a melhor das suas escolhas. Que foi o seu grande desafio, e o passo mais acertado de todos os caminhos da vida até tão trilhados. Mas se assim não for, que nunca se arrependa do amor dado. Faz parte se arriscar por um sonho, porque se não fosse assim, nunca teríamos sonhado. Mas antes de tudo, que saibamos ter ao nosso lado o maior aliado de todos: O Tempo. 

Termino essa resenha fazendo um outro questionamento: Será que estamos falando que Louise se permitiu amar novamente, ou ela fez exatamente o que Will pediu a ela desde o inicio? Amar a si própria?

Desta vez eu não vou responder, mas vou deixar em suas mãos a leitura desta belíssima continuidade, que nos deixa pensar que nenhum tempo quantitativo pode mensurar aquilo que na verdade sempre habitou dentro de nós. 

"Ok Will, pensei. Se essa foi sua ideia de me jogar em uma nova vida, com certeza acertou em cheio."

Louise Clark, como sempre você conseguiu me surpreender. 


Desejo que possamos todas ser um pouco de Louise e de Will, que se faz tão presente neste livro quanto no primeiro. Porque quando há amor, há sempre uma saída. 

Minha nota: 10

Não pense muito em mim. Não quero que você fique toda sentimental. Apenas viva bem. Apenas viva…


quarta-feira, 18 de maio de 2016

"Algumas pessoas esperam a vida inteira por uma relação assim, mas as histórias chegam ao fim. A gente perde as pessoas que ama e tem que encontrar uma maneira de seguir adiante..." - Resenha do livro "Por toda a Eternidade." - Kristin Hannah

Como definir o luto?

Costumo comparar este sentimento a uma época bem remota da minha vida. Desde que tomei consciência sobre o andar e o falar, eu andava para baixo e para cima com um paninho que já não era mais branco fazia muito tempo. Este paninho, eu o auto intitulava de "fraldinha", e eu me lembro que eu só conseguia dormir se ele estivesse enrolado próximo a minha bochecha. Onde eu ia a fraldinha ia junto comigo, ela definitivamente me completava, era a minha melhor amiga. Ela tinha meu cheiro, e se moldava perfeitamente em mim, e eu me sentia totalmente segura quando eu a tinha nas minhas mãos. A fraldinha deixou de fazer parte da minha vida, quando eu completei 5 anos de idade e meus pais fizeram um trato o tanto quanto maduro comigo: "Você já é uma mocinha, e mocinhas não andam penduradas a um pano. Se você largar a fraldinha, o Papai Noel vai te dar de presente um fogãozinho de brinquedo." Ingenuamente, eu aceitei a barganha, e eu nunca mais vi a  minha fraldinha.

Era estranho começar a viver sem a minha companheira. Eu me lembro de demorar para pegar no sono, porque sempre "algo estava faltando". Eu chorei algumas vezes, e mesmo sem ninguém ter me dito o quanto seria difícil, eu aprendi a moldar a minha vida sem a minha melhor amiga. E cá estou eu, com 31 anos de idade e dormindo bem, eu acho. As vezes, talvez eu  me pegue abraçando o meu travesseiro, ele me lembra como era gostoso dormir encostada na minha fraldinha.

É exatamente sobre isso que o livro de Kristin Hannah trata, como lidar com os buracos que são criados dentro de nós por sentirmos falta de algo ou alguém, que de alguma forma nos completava. 

Tully Hart é uma mulher ambiciosa e aparentemente muito segura de si. Criou sozinha um talk show muito popular, e usou de sua trágica história para formar uma das personagens mais amadas e admiradas no show bizz. Ela sempre acreditou que poderia superar qualquer adversidade da vida se conseguisse esconder bem fundo os seus sentimentos de rejeição sofridos desde sua infância.  Até que sua melhor amiga, Kate Ryan, morre devido ao tão temido câncer. Tully se vê escorregando profundamente em um precipício cheio de memórias melancólicas e remédios para dormir.

Dorothy Hart, ou Cloud, como era conhecida nos anos 1970, está no centro do trágico passado de Tully. Ela abandonou sua filha inúmeras e repetidas vezes na infância, sempre drogada e rodeada de homens que a espancavam e abusavam de seu corpo.

Marah Ryan, filha de Kate e afilhada de Tully, têm apenas dezesseis anos quando sua mãe morre. Como qualquer filha ou filho, ela fica devastada com a notícia, e embora seu pai John e seus dois irmãos gêmeos se esforcem para manter a família unida, Marah transforma-se em uma adolescente rebelde e inacessível em sua dor. Aparentemente se cortar com objetos pontiagudos é o melhor remédio que Marah encontra para superar a perda de sua mãe. Tully tenta de qualquer forma se aproximar de Marah, mas a sua grande incapacidade de lidar com os sentimentos da afilhada e os seus próprios, acaba empurrando a menina para um relacionamento infeliz ao lado de um rapaz extremamente problemático.  

O livro é exatamente sobre estas mulheres, e o quanto suas vidas estão intimamente ligadas, e fala sobre a maneira que cada uma delas vão rever seus erros e acertos, e aprender a viver uma vida sem um peça no jogo deste tabuleiro que chamamos de família. Até porque, onde há perdão, há amor, e Por toda a Eternidade, fala sobre o único remédio capaz de curar o luto: o amor. 

Como todo bom romance, a obra culmina em um momento de extremo impasse, onde as soluções se apresentam de forma muito clara e até óbvia, mas a resenha não têm como objetivo entregar o desenrolar e o final da história, e nem como estas personagens encontram uma forma de viver as suas vidas, por isso vou falar sobre o que para mim Por toda a Eternidade significou. 

É difícil de acreditar, mas julgar os outros é algo muito comum, principalmente em um momento delicado, como o luto. Algo que é contraditório quando muitas vezes solicitamos que, por favor, deixem de julgar os nossos atos, pois julgamos e somos julgados constantemente, sem que algo possa evitar que isso aconteça. 

Porém, o dano que o julgamento provoca é algo que merece a nossa reflexão. É preciso olhar o seu interior, olhar a si mesmo e deixar de investir tanto tempo em ver o que o resto das pessoas fazem, como fazem e porque fazem. Já dizia Giacomo Leopardi "A alma sempre tende a julgar os outros segundo o que pensa de si mesma." Será que por isso Tully julgou tanto o atos de sua mãe, para depois repeti-los exatamente da mesma maneira com a sua afilhada? Será que também por isso Marah julgou a sua madrinha para depois cometer os mesmos erros que ela com a sua própria mãe? Estas mulheres não estão ligadas somente por um laço de amor, mas principalmente por um grande laço de falsos julgamentos. Ao longo desta belíssima história, os atos destas mulheres recaem sobre justificativas que nem o próprio leitor imaginaria, pois acreditem, vocês também irão julga-las. Irônico, não?

Quantas vezes você já se sentiu julgado de forma equivocada? Aposto que milhares. Em muitas situações, não praticamos a empatia com outros seres humanos. A nossa visão é a única válida e isto nos impede de ver mais além, e compreender outras perspectivas diferentes. Quando julgamos os outros, não nos permitimos conhecer a sua história completa, o que há por trás daquela pessoa. 

Aprendi em meu próprio luto que quando você julga alguém, você está definindo a si mesmo. Você pode querer dar uma opinião, mas criticas e falsos entendimentos não ajudam. Quando existe um falso julgamento, a sua verdadeira intenção é fazer com que os outros vejam o mundo através de seus olhos. Mas cada pessoa é um mundo. Mundos estes, que muitas vezes não estamos preparados para visita-los. 

Gosto de citar Dalai Lama quando me pego praticando falsos julgamentos: "As pessoas tomam caminhos diferentes na busca pela felicidade e a sua realização. O fato de não caminharem pelo seu mesmo caminho não significa que se tenham perdido."

Assim como Tully, Marah, Doroty e Kate, tudo o que nos acontece muda a nossa forma de ver as coisas. E o luto não seria o luto, se não nos moldasse de formas totalmente diferentes as habituais.

E se eu ainda tivesse a minha fraldinha? E se eu nunca tivesse perdido meu pai? E se eu tivesse mantido amizade com todas as pessoas que conheci ao longo da minha vida? E se eu tivesse feito escolhas diferentes na minha vida?


quarta-feira, 27 de abril de 2016

"Abram os olhos e vejam tudo o que conseguirem ver antes que se fechem para sempre." Resenha do livro "Toda Luz Que Não Podemos Ver" - Anthony Doerr

O que a guerra é capaz de fazer aos sonhadores?

Colocando a Segunda Guerra Mundial de lado, pano de fundo desta história, já que muito do progresso é resultado direto da necessidade imposta por situações de conflito, o que, de fato, fez a guerra aos sonhadores, aos engenhosos, aos inventivos e aos visionários? Talvez no final desta resenha, tenhamos essa resposta. Ou não. 

O livro é dividido em treze partes com diversos capítulos curtos em cada um deles, alternando entre dois personagens: Marie- Laurie e Werner, dois jovens, entre tantos outros que viriam a ser apanhados neste triste período em que a História se tornou um pesadelo, que se viram privados da oportunidade de vir a ser tudo o que o seu potencial lhes permitisse ou o coração sentenciasse. Milhares de pessoas encurraladas em papéis que nunca escolheriam representar, os seus cursos de vida completamente alterados, os seus futuros lamentavelmente sabotados.  

Marie- Laurie é uma garota que fica cega aos seis anos de idade. Alta e sardenta, ela mora com seu pai em Paris. Seu pai é o chaveiro do Museu de História Natural da capital francesa, e ela sempre o acompanha no trabalho, onde faz alguns importantes amigos, como um cientista que adora conchas e moluscos. Seu pai se preocupa a todo momento com a segurança e independência de Marie- Laurie, e constrói para ela uma maquete da cidade para que ela aprenda a ler com as próprias mãos, e conhecer cada local para que ela possa depois se locomover sozinha. Todo aniversário, Marie ganha algo especial, sempre feito pelo seu pai, e sempre acompanhado de um livro de histórias surpreendentes. 

Werner Pfennig mora em Zollverein, uma cidade perto de um complexo de mineração, na Alemanha. Órfão, ele mora com a irmã Jutta em um orfanato com outras crianças e com Frau Elena, uma francesa que lhes faz mais do que simplesmente cuida-los. Ela se torna sua família. Curioso por natureza, um belo dia Werner encontra um rádio quebrado e começa a desmontá-lo. Todas as noites, ele e sua irmã escutam um programa de rádio para crianças que sempre termina com uma mesma canção: Clair de Lune, Debussy. 

Maurie -Laurie e Werner crescem, enquanto a guerra começa a dar os seus primeiros indícios. 

Werner neste meio tempo, desenvolve uma habilidade incrível em consertar rádios e muitas pessoas já traziam seus próprios para que ele consertasse. Como ele estava próximo a completar 15 anos, seu destino seria trabalhar na mina, onde seu pai morreu devido a um desabamento de pedras. Ironia do destino ou não, Werner recebe a visita de um homem importante que, ao ter seu rádio consertado pelo menino, decide que irá inscreve-lo para que possa estudar e servir ao Governo, ou melhor, ao glorioso e imponente Reich. Werner começa então a adentrar um universo que nenhuma pedra sobre sua cabeça poderia ser mais desestimulante. 

Enquanto isso, Marie- Laurie e seu pai começam a ver os bombardeios em Paris se transformarem em algo frequente, e decidem que não irão continuar ali e colocarem suas próprias vidas em perigo. Desta forma, eles partem para Saint-Malo, uma cidadezinha da França repleta de ostras e moluscos. Um ponto importante e talvez a chave para o desfecho desta belíssima história, é que neste exato momento, o pai de Marie -Laurie recebe uma importante tarefa. O diretor do museu lhe confia guardar uma pedra preciosa, que carrega consigo uma história muito misteriosa e cobiçada por muitos. Fiquem tranquilos, voltaremos para a pedra assim que tudo começar a fazer sentido. 

A narrativa segue e acompanhamos as dificuldades de Marie-Laurie e seu pai até chegarem em Saint-Malo e adaptar-se a nova cidade junto com o tio avô de Marie, Ettiéne, um homem que tendo presenciado de perto os horrores da Primeira Guerra, apresenta comportamentos excêntricos e agorafóbicos. Ettiéne abrigará a garota e seu pai em sua casa, que é repleta de rádios e histórias para crianças curiosas, enquanto Werner se destaca e cada vez mais coloca seus conhecimentos físicos e matemáticos a prova na escola do Reich. 

A guerra avança e Werner é recrutado como soldado raso, combatendo uma guerra mais limpa e mecânica devido a sua aptidão natural para operar rádios. O destino de ambos acaba por se cruzar, como se assim estivesse destinado, pois é em Saint -Malo que Werner escuta um pedido de socorro pelo rádio, através de uma canção já tão conhecida por ele e sua irmã Jutta. 

No meio do destino traçado para que este encontro acontecesse, está entre eles um valiosíssimo e amaldiçoado item. Um diamante de 133 quilates, conhecido como Mar de Chamas, azul como o mar, como uma cintilação vermelha no seu núcleo. O Mar de Chamas carrega consigo uma lenda que o portador da mesma viveria para sempre, porém muitas desgraças aconteceriam ao seu redor e com as pessoas que ama. Lenda ou não, entendemos no final que o portador do seu próprio destino somos nós próprios. 

Desde cedo, tanto Marie-Laurie como Werner demonstraram inteligência e perspicácia acima da média, bem como uma extrema curiosidade sobre o que os rodeia, procurando o conhecimento de forma constante. A paixão de Marie-Laurie por aprender, tateando cuidadosamente um objeto e saciando a sua curiosidade com perguntas é notável ("tocar verdadeiramente em algo é ama-lo"), e Werner com as suas infinitas dúvidas sobre o funcionamento das coisas e habilidade para reparar aparelhos, chega a ser presenteado com a oportunidade de evoluir nos estudos.

A Segunda Guerra Mundial tem vindo a ser romanceada um cem número de vezes, sob milhares de perspectivas, recorrendo aos mais diversos personagens e imensos pontos de interesses. Ainda assim, Toda Luz Que Não Podemos Ver está muito longe de ser apenas mais um romance. Ganhador do Pulitzer de Ficção em 2015, este livro traz uma visão simples do que significa cada ser humano em um contexto altamente desafiador, e quais as consequências que cada um terá a partir do momento que se foi definido um destino através de simples e práticas escolhas. 

Destino e lendas fazem sim parte desta história, mas o principal não é se apegar a estes dois temas, e sim que mesmo existindo um destino e uma lenda, Marie e Werner fizeram escolhas, e estas escolhas definiram o seus destinos (trágicos ou não), e o destino de todos os outros personagens que compõe de forma muito bela o desfecho de uma história de uma vida inteira de dois brilhantes e curiosos seres humanos. 

Gostaria de compartilhar uma pequena história, e encerrar através deste reflexão o que significa escolhas perante a talvez uma vida já pré traçada para acontecer:

"Certa vez um homem caminhava pela praia numa noite de lua cheia. Pensava desta forma:
Se tivesse um carro novo, eu seria feliz;
Se tivesse uma casa grande, eu seria feliz;
Se tivesse um excelente trabalho, eu seria feliz;
Se tivesse uma parceira perfeita, eu seria feliz. 
Neste momento ele tropeçou em uma sacola cheia de pedras. Ele começou a jogar as pedras uma a uma no mar cada vez que dizia:"Seria feliz se tivesse". 
Assim o fez até que somente ficou com uma pedra na sacola, que decidiu guardá-la. Ao chegar em casa percebeu que aquela pedra tratava-se de um diamante muito valioso. Você imagina quantos diamantes ele jogou no mar sem parar para pensar?"

Assim são as pessoas que jogam fora seus preciosos tesouros por estarem esperando o que acreditam ser perfeito ou sonhado e desejando o que não têm, sem dar valor ao que têm perto delas. 

Se olhassem ao redor, parando para observar, perceberiam o quão afortunadas são. 

Cada pedra deve ser observada, pois pode ser um diamante valioso. Cada um de nossos dias pode ser considerado um diamante precioso, valioso e insubstituível. Depende de cada um aproveitá-lo ou lançá-lo ao mar do esquecimento para nunca mais recupera-lo. 

Por isso que Toda Luz Que Não Podemos Ver é exatamente sobre ter o poder de escolher quais são as pedras preciosas que devemos guardar, dispensar, ignorar, receber ou doar. Marie-Laurie e Werner tiveram seus destinos traçados com o único objetivo de saber exatamente qual luz os guiaria em suas escolhas. Aquelas que eles não puderam ver, mas apenas sentir. 

E você, como anda jogando suas pedras?

Minha nota: 9.0