sexta-feira, 11 de outubro de 2013

"Não é obrigatório que um ser humano esteja acompanhado para ser feliz" - Resenha do livro "Los Angeles" - Marian Keyes

Vocês já devem ter percebido que sou fã da autora Marian Keyes. Toda vez que leio um livro dela, me sinto conversando com uma amiga em uma mesa de bar. Dou risada (daquelas de gargalhar alto), choro, falo desde de "o que está na moda hoje em dia" até "deixa eu te contar do meu ultimo rolo amoroso".

Os livros de Keyes são assim: descontraidos, gostosos de ler em qualquer ocasião e circunstância, e que não fogem nem um pouco da realidade das mulheres no auge de seus 30 e poucos anos.

Em "Los Angeles" temos Maggie. Ela sempre foi a filha modelo de perfeição para a complicada e engraçadissima familia Walsh. Mas como toda pessoa que passa a adolescência e parte de sua vida adulta agindo dentro dos conformes, chega um dia em que ela simplesmente se cansa de ser assim e começa literalmente a enlouquecer.

Antes de contar as loucuras de Maggie, gostaria de fazer uma pergunta para você que está lendo essa resenha: "Quem nunca?". Digo por mim mesma, que tive minha dose de insanidade quando vivi boa parte do inicio da minha vida adulta presa a rotulos, estigmas, expectativas de terceiros e um medo enorme de fazer escolhas consideradas "fora da caixa". Acredito piamente que em algum momento na vida de qualquer ser humano "normal" (que fique bem claro que não acho a humanidade nem um pouco normal, graças a Deus), já se passou a seguinte pergunta na cabeça "O que eu estou fazendo da minha vida?"

Foi isso que aconteceu com a nossa protagonista. Maggie têm um marido, um emprego em uma firma de advocacia e uma vida atrelada a bolacha e sal (muito menos sal nesse caso)  Até que ela descobre que seu marido está tendo um caso, e como toda mulher traída resolve se "jogar" na vida. Claro que ao longo do livro, fica claro que a traição não foi o estopim para que Maggie decidisse viver a vida de uma perspectiva diferente, como eu disse antes, a dúvida já vinha se aponderando dela há muito tempo. Vamos combinar que ela só precisava de um motivo para justificar sua vontade de modificar tudo dentro de si mesma.

Então, por ironia do destino, Maggie é mandada embora de seu trabalho e sua melhor amiga, aspirante a roteirista, mora na badalada Hollywood. Daí a justificativa do livro se chamar "Los Angeles".

É desse ponto que inicio a narrativa da descoberta de Maggie, de quem realmente ela é e do que é capaz. Digo isso, porque quando nos colocamos em situações fora de nosso contexto e padrão, provamos o que verdadeiramente somos e queremos. Uma vez ouvi que "na dúvida não há dúvida". E realmente funciona, porque se temos tanta certeza de alguma coisa, porque raios aquele sentimento de que algo está errado fica perturbando nossas mentes?

Foi assim que Maggie passa a frequentar o mundo de luxuria, diversão, bebedeiras e consumismo excessivos da California.

Nossa aventureira corta o cabelo radicalmente, pinta as unhas de vermelho, usa roupas extravagantes em cima de saltos altissimos, beija a boca e transa com uma mulher, se envolve com um galinhão graduado e pós graduado na faculdade de "pego todas e depois não ligo no dia seguinte", faz compras até seu cartão de crédito chegar ao limite e tem ressacas alucinantes quase todos os dias.

Volto a pergunta do inicio "Quem nunca?".

Não sei se serei apedrejada a partir daqui, mas todos devemos passar por essa fase onde somos meio loucos, onde não sabemos bem o que estamos fazendo: a fase da "experimentação". Como diz Freud: a mudança vem primeiro de fora pra depois acontecer por dentro.

O ser humano têm essa necessidade de agir e concluir ações completamente diferentes de seus ideais para depois conseguir trazer para dentro de si o que realmente lhe faz bem, lhe traz conforto e forma sua personalidade.

Existem pessoas que formam sua personalidade com 60 anos e não com 7 como alguns especialistas dizem por ai. No caso de Maggie, ela formou após seus 35 anos. Não vou contar se ela volta com seu ex marido, ou se ela até chega a se divorciar, se ela encontra um principe encantado na terra do Neverland, mas o mais importante aqui não é isso, e sim se Maggie consegue se encontrar nesse enrosco todo que ela  mesma se meteu.

O livro é leve, você dará boas risadas e vai encontrar nos dilemas de Maggie os seus proprios. Recomendo a leitura não só para mulheres, mas para homens também, porque todos nós já vivemos intensamente um periodo de dúvida. Só não garanto uma coisa após ler o livro: você ficará louco de vontade de abandonar tudo e se auto descobrir em algum lugar mágico como Los Angeles.

Que tal arriscar olhar para dentro de si e finalmente saber o que é a felicidade para você? Viver dentro da caixa pode não funcionar.

Finalizo da seguinte forma: Pense não naquilo que você acha que é capaz, mas experimente realmente do que você é capaz.

Minha nota: 8,5

2 comentários:

  1. Gostei da estoria;

    pensei em escrever uma carta pra mim no futuro...

    e acredito que se ja estivesse escrito pra este momento não teria conseguido deduzir o que sou hoje;
    Tentarei para o próximo futuro rs
    Afinal não somos, Estamos;

    Carne e espirito fincando em uma geração que precede várias que existiram e diversas que passarão
    onde estou escolho se prefiro estagnar em uma moral que é baseada em costumes e tradição ou transformo em uma metamorfose para transcender; E em qual destes serei considerado normal?

    Pergunto se somos moldados de fora pra dentro como pressupõe freud, quais esperanças devemos ter com o homem, que sobrevive e atua nesse mundo de desigualdade que incentiva o egocentrismo em todos os sentidos?
    E se transformássemos a personalidade de dentro pra fora?
    ou quem sabe um pouco dos dois; sabe milena essa questão acredito ser onde a humanidade se perde; tentamos ser de fora pra dentro e acabamos sendo munição para uma política de guerra contra a justiça e igualdade de direitos;
    Por enquanto prefiro acreditar que somos moldados de dentro da essencia do individuo interagindo com a quimica e fisica da natureza; depois disso de fora pra dentro passando pelo filtro da metamorfose;
    Agradeço por trazer a oprtunidade de refletir certos assuntos
    Parabéns pelo blog

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    1. Rodrigo, parabéns para você, por ter trazido a tona uma reflexão muito interessante a cerca da resenha. O ser humano pode passar sua eternidade nessa vida sem saber para onde olhar primeiro (dentro ou fora). Creio que neste caso, independente da ordem, ele precisa apenas se olhar, já é um primeiro passo. Até porque a ordem dos fatores não altera o produto e muito menos o resultado. Destaco do seu comentário o fato de que não somos nada, apenas "estamos". A ideia do pensamento é exatamente essa! Mas a grande questão é como lidar estando pobre, rico, feio, bonito, feliz ou triste? Mais reflexões.
      Grande abraço e obrigada por acompanhar este espaço! =)

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