terça-feira, 6 de maio de 2014

"Porque o Senhor descerá do céu com alarido e com voz de arcanjo, munido com a trombeta de Deus. Os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com Ele." - Resenha do livro "Os deixados para trás" - Tom Perrotta

Significado de inquietante: Pessoa ou algo que desperta inquietação. Que inquieta, que causa inquietação.

O que aconteceria, se de repente, sem nenhuma explicação, pessoas simplesmente desaparecessem, sumissem no ar sem deixar nenhum rastro para trás? É o que os perplexos moradores de Mapleton, que perderam muitos vizinhos, amigos e companheiros no evento classificado como Partida Repentina, precisam descobrir.

Iniciei a resenha procurando entender o significado do adjetivo inquietante, porque é desta maneira que julgo a obra de Tom Perrota, uma leitura que levanta diversas polêmicas a respeito do arrebatamento.

Passei horas tentando achar uma forma de concluir um pensamento a respeito da inquietante polêmica deste livro, mas prefiro desenvolver a resenha contando um pouco sobre as reações humanas e rotineiras a um evento catastrófico.

Os personagens que compõe esta história são Kevin Gavery, o prefeito da cidade, que tenta a qualquer custo acelerar o processo de cura das pessoas, trazer um sentimento de esperança renovada e um proposito de vida para uma comunidade traumatizada. Ainda que, sua própria família tenha sido desfeita com o desastre: sua cética e agnóstica esposa deixou sua família para se juntar a um culto cujos membros fazem voto de silencio (Os Remanescentes Culpados). Seu filho, Tom abandonou a faculdade para seguir um profeta duvidoso chamado Santo Wayne, e sua filha adolescente, Jill, não é mais a doce estudante que colecionava notas dez na escola. Em meio a tudo isso, Kevin se vê envolvido com Nora Durst, uma mulher que perdeu toda a sua família no 14 de Outubro e continua em estado de choque com a tragédia.

O livro carrega um contexto centralizado no cotidiano moderno, da sociedade do novo milênio, do século XXI. É antes de mais nada, uma crônica. Porém um crônica repleta de inteligência emocional, e uma escrita habilidosa para enfatizar os problemas inerentes a vida comum.

O Arrebatamento ou a Partida Repentina é apregoado por várias religiões, no qual Deus transportaria fisicamente para o céu os escolhidos, que após os sete anos de tribulações que assolariam os que ficariam no mundo, fariam -nos herdar a terra completamente pacificada e renovada. No livro, são premiados os sujeitos de todos os tipos, credos, raças e condições sociais, para desgosto dos mais fanáticos e ortodoxos da religião, em todo o mundo. Pois, cada religião, alega ser ela a unica a conduzir os eleitos ao Paraíso na Terra. Nesse contexto, Tom Perrota usa Mapleton como um teatro para esmiuçar esse cenário. Até que ponto as pessoas que sofreram o Arrebatamento são de fato merecedoras desse fenômeno, ou até que ponto as que ficaram no mundo, ou melhor, deixadas para trás, são desmerecedoras de serem salvas?

A medida em que nos enfronhamos na leitura e com os personagens, vamos conhecendo um pouco mais da realidade por detrás desse estranho acontecimento, e descobrimos que há muita distinção entre santo e demônio, e que, na maioria das vezes, vemos lobos disfarçados de cordeiros, mas nunca o inverso.

Quem não se lembra do 11 de Setembro, e a imagem de pessoas sem rumo, abatidas, desnorteadas e perplexas? A reação do presidente dos USA, de reerguer a moral da cidade, a busca por respostas, o sonho norte americano sendo desfeito, a dor por aqueles que partiram, o fanatismo levado ao extremo e as consequências religiosas e sociais perante o acontecimento que paralisou o mundo? Os deixados para trás é apenas uma história fantasiosa que remete a mim o mesmo ocorrido em uma outra data com uma outra nomenclatura.

Mas o mais polêmico não é nem de longe o tema arrebatamento, e sim, porque reagimos da forma que reagimos a trágicos acontecimentos. O porque da mente humana funcionar de forma tão complexa a uma ordem desnatural das coisas. Eis que escrevo abaixo um trecho do livro que me fez enxergar a verdadeira percepção de inquietante da obra:

"Você poderia ter me dito aquilo que eu já sei - que na verdade, todas as pessoas ficam estressadas, com raiva, e com desejo de ter um pouco de sossego e paz. Não é a mesma coisa que desejar que as pessoas que a gente ama desapareçam para sempre. Mas e se for? E aí? Devo ficar louca com isso?"

Há uma frase de Augusto Cury que me fez acreditar, que posso finalizar essa resenha com ela: "Para mim, há uma loucura racional aceita pela sociedade, e uma loucura irracional condenada por ela".

O que de fato faz você infeliz? Um acontecimento sem explicação, ou sua própria reação igualitária a ele?

Minha nota: 10 com louvor.


OBS.: O próprio autor está adaptando a obra para uma série na HBO. Valerá a pena acompanhar.

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