terça-feira, 11 de setembro de 2018

"A luta pela sobrevivência é uma questão de persistência. Mesmo que pela desistência se entregue a dor e ao sofrimento, a alma anseia pela luta." - Resenha do livro "A Amante do Oficial" - Pam Jenoff

A Amante do Oficial começa a sua história nos apresentando a judia Emma Brau, de apenas 19 anos, e recém casada com o também jovem Jacob durante o período do domínio alemão na Polônia. A vida e a fé de Emma são logo colocados em risco quando Jacob é obrigado a cair na clandestinidade para trabalhar com a resistência, deixando Emma prisioneira do decrépito e abandonado gueto de Cracóvia junto ao seus pais. 

Somos apresentados nas demais páginas a difícil vida dos judeus morando precariamente nos guetos construídos pelos alemães, e já podemos desde este momento sentir a dor, a tristeza e o pesar de dias repletos de escassez de alimentos, saúde e conforto. 

Na calada de uma noite, Emma é misteriosamente resgatada e levada para morar com Krysia, dama da alta sociedade e também a tia católica de Jacob. Ao assumir uma nova identidade como Anna Lipowski, uma gentílica, a vida de Emma passa por uma nova reviravolta ao ser apresentada ao comandante nazista Georg Richwalder, oficial alemão e maior autoridade na cidade.

Durante um jantar oferecido por Krysia, Emma/Anna conhece o comandante Richwalder, um verdadeiro gentleman, e um homem também bastante atraente, que rendido aos encantos da judia, a convida para ser sua secretária no governo de Cracóvia. Com o objetivo de manter o disfarce e ajudar a resistência, Emma/Anna aceita o cargo e passa a espionar os planos secretos da ocupação, colocando em risco a sua vida e também a de todos que ama.

A medida que as atrocidades da guerra se intensificam, a relação entre Emma/Anna e o comandante se torna mais íntima, e um dilema em nossa protagonista se aloja. Ela pensa que se deixar seduzir pelo comandante é uma oportunidade para ajudar ainda mais a resistência, enquanto luta internamente contra a realidade de que ela realmente se sente fortemente atraída por ele, e dá vazão aos seus desejos mais secretos como mulher, se rendendo a encontros cada vez mais apaixonados. Desejo e culpa pairam sobre todos os capítulos, enquanto compartilhamos junto a nossa protagonista sentimentos como perseverança, luta e confiança de que tudo no final dará certo, apesar de tudo aparentemente estar dando errado.

A Amante do Oficial abordou com muita proeza a ocupação da Polônia pelos Nazistas. É duro ler a forma como os alemães perseguem os judeus, e estes aos poucos somem diante dos nossos olhos. Emma é uma personagem forte, que apesar da traição e culpa, não se torna uma vitima, e sim uma grande protagonista. O livro se vende como um romance digno de lágrimas, mas vou descreve-lo como um livro focado na sobrevivência, e principalmente na resiliência.

Resiliência é a capacidade das pessoas de superar a dor e as situações adversas da vida, que em muitos casos são extremas. Traduzindo de maneira clara, a resiliência é a capacidade que um material tem de se deformar por inteiro, quase "morrer", para então conseguir ir voltando ao formato que era antes, se refazendo e se reconstruindo o tempo todo. Este termo passou por muitas adaptações cientificas, e hoje representa a capacidade de um ser humano de sobreviver a um trauma, a resistência de um individuo, não só a resistência física, mas a visão positiva para se reconstruir.

A resiliência é uma companheira que não te dá espaço para lamentar. Está ali, a cada minuto do seu dia, no passar das semanas, ao longo dos anos, nos lembrando constantemente que não há tempo para se perguntar o porquê de certas coisas terem acontecido, mas sim de olhar para a frente, para o resultado final de todas as nossas ações perante as dificuldades e desafios da vida.

Foi ela, é ela, e continuará sendo a resiliência que segurou as mãos de Emma nos momentos mais difíceis, que lhe deu o entendimento necessário para compreender que o importante não é ser forte, mas sim ser flexível. É na resiliência que aprendemos que não importa o quanto conseguimos bater, mas sim o quanto conseguimos apanhar.

É ela que nos faz florir mesmo nos períodos mais secos, que nos cerca de primavera para que esqueçamos as pedras no meio do caminho. Que alivia os dias chuvosos com algumas boas idéias para não esquecer de seguir em frente. Ela que nos dá paciência para suportar os intempéries da vida, riscando do calendário os dias mais desgastantes. Resiliência que nos acompanha mesmo quando não queremos companhia. Um colo na hora da solidão. Um afago nos momentos de pressão. A decisão de ficar mesmo quando você quer apenas fugir.

Para muitos de nós resiliência não é mais uma opção, mas para Emma foi o pilar para sustentar o turbilhão de dúvidas e sentimentos ruins que a circundavam.

Uma de minhas frases preferidas ditas por Emma é: "Precisamos assumir a responsabilidade por nossas ações. É a única maneira de evitar que nos tornemos vítimas, e de manter a nossa dignidade."

A história de Pam Jenoff é bastante conclusiva, não deixando nenhum detalhe em aberto. Sim, caro leitor, você saberá o que acontece com Emma/Anna, mas o mais importante de se saber e  entender após esta dura leitura, é que independente do desafio que nos é colocado em mãos, e por mais sorte ou azar que possamos ter, sempre dependerá apenas de nós tirar o melhor de cada experiência, e esperar que nossas ações e principalmente, nosso instinto para sobreviver ao caos, tragam resultados ainda mais surpreendentes do que os esperados.

"Quem quiser viver será constrangido a matar. Martelo ou bigorna, minha intenção é preparar o povo alemão para ser o martelo." - Adolf Hitler.

"Que esta ocasião solene faça emergir um mundo melhor, com fé e entendimento, dedicado à dignidade do homem e à satisfação de seu desejo de liberdade, tolerância e justiça." Segunda Guerra Mundial - 1939 - 1945.

Minha nota: 9,0

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