terça-feira, 10 de dezembro de 2013

"O que a vida é não sabemos. O que a vida faz sabemos bem." - Resenha do livro "A assinatura de todas as coisas" - Elizabeth Gilbert

Se você não leu o livro "Comer, Rezar, Amar", com toda certeza assistiu ao filme, ou até mesmo ouviu alguma conhecida (aqui me refiro ao sexo feminino, pois a história é totalmente voltada aos dilemas de 99,9% das mulheres) contar sobre uma mulher que viaja o mundo atrás de respostas, passando por três derradeiras etapas até chegar ao tão esperado final, o descobrimento do amor próprio.

O novo livro de Elizabeth Gilbert não é diferente disso, o livro narra a história de Alma Whittaker, uma cientista que nasce no ano de 1800 nos Estados Unidos, e é filha de um ambicioso botânico que construiu por conta própria uma das maiores fortunas da Filadélfia. Desiludida no amor, viveu grande parte de sua vida de forma solitária e reservada, e devido ao destino, ela se vê encarando uma aventura atrás de respostas para a vida.  E não é da própria vida que Alma busca suas respostas, e sim para os porquês da evolução natural da vida. Lhe garanto que ao longo da resenha, você vai entender...

O livro é dividido em cinco partes, cada um conta em detalhes minuciosos todos os aspectos que vão formar a personalidade de Alma ao longo dos anos, e nos deixar absolutamente ligadas a essa personagem e por sua busca incessante por respostas. Quem nunca se pegou pensando o porque das coisas? Gozado, que como acredito que nada nos acontece por acaso, este livro foi parar em minhas mãos em um momento onde estava me questionando muitas atitudes alheias e claro, as minhas próprias.

Vamos ao livro: A primeira parte se dedica exclusivamente a contar a história de Henry Whittaker, pai de Alma. Henry era o caçula de um casal pobre que já possuía filhos em demasia, e vivia em uma casa paupérrima. Seu pai trabalhava no pomar de Kew, um jardim público situado dentro de um palácio em Richmond. Henry, com sua ambição extremada, começa a roubar algumas plantas do pomar de Kew e vender para homens importantes do meio da botânica. Desta forma, ele passa a conhecer e se especializar cada vez mais sobre as características peculiares de plantas, flores, árvores e afins. Ele vira afinal, um botânico por tabela. Irônico, não?

Eis que, o dono do pomar é Joseph Banks, um homem pelo qual Henry nutri grande inveja e admiração, pois quer um dia se tornar igual a ele, ou até mesmo, muito melhor. Banks, para puni-lo de seus roubos, mas ao mesmo tempo, vendo no garoto um enorme potencial para seu negócio, o envia de navio para explorar as terras do Taiti atrás de novos tipos de plantas. E é desta maneira que Henry constrói seu império, o White Acre, onde Alma nasce e vive praticamente sua vida inteira.

Vamos a nossa protagonista: Alma é filha de um homem que tem como meta ser sempre rico, independente dos escrúpulos necessários para tal  fim, e de uma mulher absurdamente inteligente e metódica, que conhece tudo sobre botânica, e educou Alma desde o momento em que disse sua primeira palavra a se portar como uma mulher além de seu tempo, só tendo o conhecimento como fonte de vida e nada mais além disso. "Quem possui conhecimento, possui poder". Foi assim que Alma cresceu, junto a uma irmã adotiva, Prudence, que não possuía todos os dotes espetaculares de Alma, porém tinha posse de um, que infelizmente Alma não teve tanta sorte: a beleza estonteante.

Grande parte do livro conta a relação desta família um tanto quanto diferenciada, e em um determinado momento, um personagem peculiar é introduzido a história, Ambrose Pike, o responsável pelo inicio da jornada incessante de Alma por respostas imaculadas. Pike revela a Alma a teoria da "Assinatura de todas as coisas". Segundo ele, Deus teria escondido pistas para o aperfeiçoamento da humanidade dentro da estrutura de cada flor, folha, fruta e árvore da terra. A natureza inteira era um código divino. Por exemplo: muitas plantas medicinais se assemelhavam as doenças que podiam curar, ou aos órgãos que seriam capazes de tratar. O manjericão, com suas folhas em forma de fígado, é o remédio obvio para doenças do figado. A erva celidônia, que produz seiva amarela, poderia ser utilizada para tratar o amarelado causado pela icterícia. Nozes, em forma de cérebros, são providenciais em caso de dores de cabeça, e por aí vai. Pike, não só acreditava nisso, como também se considerava um anjo enviado por Deus, e afirmava ouvir nas pessoas e na natureza suas vozes gritando mesmo quando o som não saia de suas bocas. Alma, sempre muito cética (assim foi ensinado por sua mãe), apenas encarou a confissão de Pike como uma loucura de um gênio que desenhava orquídeas como se elas estivessem vivas em uma folha de papel.

Alma e Pike se casam, mas um casamento que não sai da forma que Alma imaginava. Pike queria um mariage blanc (trata-se de um casamento casto, sem trocas carnais). Alma, até então com 50 e poucos anos de idade, casada, porém virgem, acaba não aguentando tamanha humilhação e o taxa de louco, mandando-o assim de navio para o bom e velho Taiti. Praticamente um exílio pelo seu não cumprimento de deveres de marido. Como poder amar enlouquecidamente uma pessoa e não poder toca-la? Alma não conseguia entender.

Passado muitos anos, Alma recebe de Dick Yancey, funcionário de seu pai nas transações comerciais em alto mar, a noticia que Pike morreu no Taiti, e sua valise cheia de seus desenhos de orquídeas é deixada com Alma, revelando um segredo que a priori explica o porque de seu casamento fracassado. Pike possuía desenhos de um homem nu em posições extremamente eróticas. Alma chega a conclusão que seu ex marido era um sodomita. Tudo vira uma extrema confusão, quando seu pai, Henry, acaba falecendo, e Alma, não vê mais sentido em viver o resto de sua vida na mansão de White Acre, e resolve abandonar tudo e partir para o Taiti, atrás do culpado pelo seu fracasso no amor. Nesse ínterim, Alma descobre que sua irmã adotiva renunciou de forma altruísta à sua felicidade em nome do amor e devoção a sua família de adoção. Alma não vê outra forma de agradecer, se não deixando tudo no nome da irmã, que na época lutava de forma incessante contra a escravatura e o comércio de escravos.

A penúltima parte do livro retrata toda a aventura de Alma, narrando de forma consistente suas experiencias em alto mar, e vivendo no meio de taitianos de forma quase selvagem. É lá que ela conhece, Amanhã Cedo, o nome do homem que ela descobre afinal, seduziu e induziu seu marido a praticar atos sodomitas. Ela percebe afinal, que Pike realmente buscava a purificação da alma através da assinatura de todas as coisas. Amanhã Cedo, era apenas um missionário perverso, que assim como seu pai, não media esforços para satisfazer suas vontades. Pike foi afinal, apenas uma vítima.

É lá, que Alma tem seu primeiro insight sobre a evolução das espécies. Em um momento, onde se viu entre a vida e a morte, ela acha forças inexplicáveis para tentar sobreviver, e após este episódio, resolve sair do Taiti e ir para a Holanda, onde a família de sua mãe ainda vivia. Como boa cientista e possuidora de conhecimentos invejáveis, Alma embarca numa jornada pelas respostas de uma teoria que ela aprendeu na jornada pela resposta de seu próprio sofrimento: a origem da natureza.

A teoria de Alma se baseava no seguinte: o mundo natural era o campo de amoralidade e de luta constante pela sobrevivência. Todas as formas se superavam enfrentando seus rivais para assim predominar sua própria especie, permanecendo e se adaptando ao ambiente, a fim de continuar vivo. Porém, havia nessa teoria uma lacuna a ser preenchida: se fosse assim também na humanidade, porque o altruísmo ainda existia? E cada vez mais forte? Porque uns passavam fome para dar comida aos outros? Porque pessoas se arriscavam em prol da continuidade da vida dos outros?

O momento de clímax do livro é quando nos é apresentado Charles Darwin, um naturalista, como bem sabemos, que ficou famoso por convencer a comunidade cientifica da ocorrência da evolução das especies (sim, nós somos a evolução dos macacos) e como ela se dá através da seleção natural e sexual.

Ironia demais nessa obra, onde é a chegada a hora que nos é exposta a mesma teoria de Alma desde sua volta do Taiti onde buscava respostas pela sua falta de evolução no amor.

Alma se vê no meio de uma das mais importantes descobertas do século, mas ela descobre dentro de si sua própria natureza, através de uma narrativa cheia de desejo, ambição e amor. Convido você a embarcar nessa jornada rica de informações sobre nossa história, mas também rica em histórias de vida, de pessoas, de fundamentos, ideias e superstições.

Termino essa resenha deixando o que pude absorver desta leitura intrigante e muito bem construída: a vida é um eterno enigma e muitas vezes é uma provação, mas, se a pessoa é capaz de achar nela alguns fatos, ela já possuí o conhecimento, pois ele é o bem mais precioso de todos.

Minha nota: 9,0

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