quinta-feira, 6 de março de 2014

"A palavra casa não é um lugar. É uma pessoa. E nós, finalmente, estamos em casa" - Resenha do livro "Anna e o Beijo Francês" - Stephanie Perkins

Por mais que eu tente, o meu lado Shakespeare de ser e sentir a vida, não me deixa nem mesmo nos momentos que penso que não posso mais ser uma menininha apaixonada por romances mamão com açúcar. Pois bem, eis que cai em minhas mãos uma história assim, que sem mais nem menos me fez pensar em Neruda e seu amor platônico incansável e inabalável: "Eu a amo como certas coisas obscuras são amadas, secretamente, entre a sombra e a alma".

Você já entendeu por esse inicio, que temos dois personagens centrais: um que ama solenemente e outro que ama secretamente. Sim, eles demoram o livro inteiro para enxergar que nosso amigo aspirante dos amores platônicos tinha toda razão do mundo ao poetizar que os amantes amam em silêncio, e perdem a grande chance de serem felizes porque amar dá medo, tomar decisões dá medo, respirar dá medo, mas como qualquer necessidade biológica, é um mal mais do que necessário.

Vamos aos protagonistas deste belo e simplista romance: Anna Oliphant, é uma menina de 17 anos, filha de um escritor famoso. Eles têm uma vida em Atlanta tipica de comercial de margarina. Anna têm uma melhor amiga, um emprego e um garoto que ela espera que seja seu futuro namorado. Sua modesta vida dá uma reviravolta quando seu pai resolve a mandar para Paris para terminar o ensino médio na SOAP (School of America in Paris). Como qualquer adolescente, Anna não se sente nada feliz em sair de sua zona de conforto e acredita que seus dias vão acabar da forma mais horrenda que existe, longe de tudo que para ela era considerado seu precioso e imaculado lar.

Seu primeiro dia de aula não foi dos piores, levando em conta que ela conhece ótimas pessoas, dispostas a serem seus amigos e lhe apoiar nessa brusca mudança de cultura e costumes. Dessa forma, Anna conhece Meredith, Rashimi, Josh e o lindo, popular e inteligente St. Clair. Tudo perfeito, tirando o fato de que o aspirante a arrancar suspiros por onda passa, namora há uma eternidade a precoce e perfeita Ellie, que já adentrou o mundo universitário bem antes de seus amigos. Se não bastasse, Meredith é secretamente apaixonada por St. Clair, e você já pode imaginar que assim se forma um torturante quadruplo amoroso.

Anna não sabe falar francês, e isso complica um pouco sua vida na capital do romance. Eis que o príncipe encantado, ops, St. Clair começa a se aproximar de Anna, ajudando a pedir comida, passear por Paris, e aos poucos se soltar e conseguir se virar sozinha. Logo, ela pega o jeito, e com o passar do tempo, ela e St. Clair se tornam melhores amigos, inseparáveis, daqueles que leem o pensamento um do outro apenas com um olhar.

Já em Atlanta, sua melhor amiga e Toph, (o garoto pelo qual Anna ansiou o ano todo para voltar a ver, afinal de contas, ele gostava dela e eles iam ser felizes para sempre), começam a namorar, e Anna percebe sutilmente que ali não era mais a sua cidade e que ela não se sentia mais em casa. Será possível que lar era uma pessoa e não um lugar?

No meio desta reflexão, Anna percebe que está perdidamente apaixonada por St. Clair, um menino que exala sensualidade, mas por outro lado, é um complicado e torturado ser humano. Sua mãe têm câncer terminal e seu pai é um homem egoísta e mulherengo. Como consequência, ele não consegue se ver sozinho, e sofre a distancia pela paixão por Anna e o medo o proibindo de terminar com Ellie e de dar esperanças a Meredith. Já que sua vida se resume a não saber qual passo dar para andar para frente, então melhor ficar parado no mesmo lugar, certo? Errado!

De novo eu cito Shakespeare: "Nossas dádivas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar".

Como todo bom romance que se passa no cenário da belíssima Paris, a cidade dos eternos apaixonados, Anna e St. Clair têm seu momento derradeiro com direito ao beijo que sela por consequente a felicidade eterna do descobrimento da dominação do medo.

Não vi este romance como mais um clichê onde duas pessoas se apaixonam loucamente mas não podem ficar juntas, e depois de muito derramamento de lagrimas, ficam juntas no final para nos passar a ideia de que depois da tempestade existe o pote de ouro no fim do arco iris. Não, eu vi muito mais do que isso.

Vi o medo de amar e ser amada, vi escolhas esdruxulas para apaziguar uma solidão eterna e o cobrimento de uma faceta falsa. Vi o descobrimento do amor próprio, do renascer de uma maturidade, da força indescritível do amor, e da tranquilidade que uma descoberta pode fazer dentro de um ser humano repleto de qualidades e defeitos, cheio de emoções pervertidas e um coração cheio de pedregulhos colados com cola de terceiro calão.

Vi tanto Shakespeare na minha frente, que cito ele novamente: "Estas alegrias violentas, têm fins violentos, falecendo no triunfo, como fogo e pólvora, que num beijo se consomem".

Anna e o beijo Francês, este título carrega muito mais do que um história de amor de adolescentes. Se você for um eterno apaixonado por esse sentimento que de impecável não tem nada, você vai ver sua força em cada palavra, cada frase e em cada cena imaginativa de Anna e St. Clair  na bela e romântica Paris, definitivamente o meu lugar preferido no mundo. Pois foi ali que também iniciei uma jornada de fins violentos e o inicio de uma vida mais repleta de significados.

Para saber o que acontece com os outros elementos deste romance, recomendo ler, mais leia com o coração, se não ele não vai passar de uma passatempo sem sentido e muito simplista aos olhos de quem nunca sofreu por amor. Lembre-se, assim como a lição desta obra: se você não tentar, não vai sair do lugar. Que tal abrir a primeira página?

Minha nota: 9,5

Nenhum comentário:

Postar um comentário