sexta-feira, 25 de julho de 2014

“Toda pessoa deveria ser aplaudida de pé pelo menos uma vez na vida, porque todos nós vencemos o mundo.” Resenha do livro "Extraordinário" - R. J. Palacio

"Não importa o que você seja quem você seja ou o que deseja para a sua vida. A ousadia em ser diferente reflete na sua personalidade, no seu caráter, naquilo que você é verdadeiramente. É assim que as pessoas lembrarão de você um dia."

O livro de estreia da americana R.J. Palacio traz à tona a luta contra o preconceito ao contar a história comovente e simpática de um menino de 10 anos de idade, que nasceu com uma síndrome genética cuja sequela é uma severa deformidade facial. Dizem que o seu rosto é o seu cartão de visita, mas o protagonista desta história, August, vem provar que as coisas não são como dizem por aí.

O livro começa sendo narrado pelo próprio August, contando um pouco como é viver enclausurado dentro um rosto pouco comum. Com pitadas de humor, o pequeno grande homem narra em detalhes as dezenas ou talvez milhares de cirurgias a qual já foi submetido em apenas 10 anos de vida, e como ele tem consciência, com tão pouca idade, o quanto um rosto pode bagunçar a vida de muitas pessoas.

August Pullman é fruto de combinações genéticas muito pouco usuais, e por isso, ele nasceu com uma má formação craniana, que faz com que cada parte do seu rosto pareça errada: olhos caídos e baixos demais, bochechas encovadas, uma boca estreita e orelhas praticamente inexistentes. Ao ler essa descrição, como você se sentiria se cruzasse com alguém semelhante na rua? Se assustaria? Abaixaria os olhos para não olhar? Faria uma expressão de susto e medo, e ao mesmo tempo de pena? O incrível é que, por mais que o ser humano possua princípios e ideais, ainda não conseguimos controlar nossas reações à incompreensão de fatos incomuns. E a graça do livro mora justamente no entendimento desta incompreensão. Extraordinário consegue captar o impacto que um menino pode causar na vida e no comportamento de todos, família, amigos e de toda uma comunidade. Já adianto que é um impacto forte, comovente, e sem dúvida nenhuma, extraordinariamente positivo.

Por causa de seu rosto e como consequência alguns problemas respiratórios e auditivos, August sempre estudou em casa com a sua mãe, porém, seus pais acreditam que chegou o momento dele encarar uma escola de verdade, e é quando eles matriculam o filho na Beecher Prep. Quando pequeno August costumava usar um capacete de astronauta para se esconder das pessoas, mas na escola isso não será mais possível, então pela primeira vez, ele vai sentir o que é ser diferente dos demais.

O livro se torna brilhante, quando a cada inicio de um capitulo, somos surpreendidos por narradores diferentes. Em um capítulo somos apresentados a Olivia, irmã de August, depois a algum de seus novos amigos da escola e por último, de volta a August. Essa foi uma estratégia e tanto da autora, porque ela fez exatamente o que nós deveríamos ter feito em todo o momento: conhecer August às cegas, para que percebêssemos que ele não passa de um menino comum como qualquer outro da sua idade, para só depois nos atentar ao fato de que ele possui uma síndrome genética.

O livro possui muitos trechos que nos trazem para uma realidade que acima mencionei ser a principio, incompreensível. "Nós não precisamos de olhos para amar, certo? Apenas sentimos dentro de nós".

Além de amor, vou falar sobre o sentimento pouco praticado pelo homem, mas que depois de ler este livro, me peguei pensando o porquê da vida ser tão complexa quando nos falta, gentileza. Não basta ser gentil. Devemos ser mais gentis do que precisamos. O ser humano não carrega apenas a capacidade de ser gentil, mas a opção pela gentileza. Em um dos capítulos, August conversa com sua amiga Summer, e o mesmo pergunta a ela "Você acredita que quando morremos, nós nascemos de novo em outro corpo?". Quando Summer responde que sim, acredita que todos têm uma segunda chance de voltar, August se anima com o fato de em sua segunda chance não nascer com um rosto deformado.

O que o próprio August não percebe, é que mesmo sofrendo tanto preconceito, ele causa um impacto enorme na vida das pessoas. A obra de Palacio nos mostra que cada pessoa, seja quem for, é responsável também pela vida daqueles que a cerca. Extraordinário é uma história simples, porém que emociona, e mostra através da inocência de crianças, como pequenas ações podem mudar a vida de alguém: o estender de uma mão, um sorriso, um abraço, uma pequena e imensa aceitação, ou apenas um toque de conforto. Com quantos August você tromba sem querer todos os dias? Pode ser que ele não tenha um rosto deformado, mas pode estar simplesmente precisando de um ombro amigo e de uma palavra de encorajamento. Pode estar apenas precisando mostrar do que é capaz. Porque, como o próprio August diz: "Toda pessoa deveria ser aplaudida de pé pelo menos uma vez na vida, porque todos nós vencemos o mundo".

Deixo aqui um preceito para servir de reflexão e também, de motivação para a leitura desta grande história:

"Faça todo o bem que puder de todas as maneiras que puder de todas as formas que puder, em todos os lugares que puder em todos os momentos que puder, sempre que puder". - Regra de John Wesley

Por fim queria dizer: August, você é mesmo extraordinário!

Minha nota: 10

Nenhum comentário:

Postar um comentário