terça-feira, 29 de dezembro de 2015

"Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível." Resenha do livro "De Repente" - Barbara Delinsky

De repente, esquecemos e lembramos do futuro venturoso, e de como é bom apenas viver. 

Desta forma vou começar falando de um irresistível romance, que fala sobre perda, amor e principalmente sobre escolhas. 

Na pequena e idílica cidade de Tucker, no estado de Vermont, a vida flui em um ritmo muito tranquilo para a pediatra Paige Pfeiffer. Quando Mara O´Neil, a sua melhor amiga e sócia em uma clinica pediátrica, inexplicavelmente comete suicídio, o confortável mundo de Paige, de repente, desmorona. 

Cuidando temporariamente de Sami, a criança que Mara havia adotado, Paige luta contra a dor da perda da amiga, enquanto se agarra a esperança de que sua vida voltará a ser organizada como antes. Porém, a morte é de certa maneira uma impossibilidade, que de repente se torna a mais pura realidade de nossas vidas. 

Paige foi criada por sua avó, Nonny, mas não porque não tinha um pai e uma mãe, mas simplesmente porque seus pais são seres movidos por um espírito tão livre, que a mesmice de uma rotina sólida não agrada para eles como se agrada a assistir a um comercial de margarina Doriana. Muito mais prazeroso viver a vida rodando o mundo, ao invés de encarar a responsabilidade da paternidade. 

Seus amigos e também sócios da clinica, Peter e Angie, possuem vidas distintas, onde enquanto um vive amedrontado pelo passado inseguro e hoje se auto afirma como um homem bem sucedido, solteirão convicto e responsável por suspiros apaixonados pela parte feminina da pequena cidade de Tucker, outra assume um verdadeiro papel de perfeição, porém de certa forma, como um contrato deve ser, as letras pequenas ficam guardadas para o momento oportuno de uma acusação de insatisfação.

Nesse ínterim, para não dizer de repente, Noah entra para a história, um homem que assume o cargo de diretor da escola Mount Court, e mexe com o coração de Paige, a ponto de bagunçar ainda mais sua cabeça em processo de adaptação a grandes e significativas mudanças.

Personagens a parte, e suas ligações interpessoais, eu diria que o livro se resume a apenas um aspecto. O significado da palavra ressignificação.

Existe um verbo muito bonito e comumente utilizado pelos profissionais da Psicologia, chamado "ressignificar". O mais comum de se pensar em relação a esse verbo é: "Dar um novo significado a algo", o que na teoria, está de certa forma, correto. Ao ressignificar uma experiência, você está retirando o peso que ela têm sobre você, deixando que ela não te afete mais de forma negativa.

Apesar de ser muito fácil definir o significado de uma palavra, pratica-la, como se pode acompanhar nesta obra através do olhar e das experiencias dos personagens, não é algo tão fácil. Ressignificar não significa esquecer algo, e para ressignificar é preciso deixar de lado o sentimento que possui a capacidade de levar qualquer ser humano para o fundo do poço: a culpa.

"Eu deveria ter dito mais vezes que o/a amava."
"Eu deveria ter feito seu prato preferido em um jantar romântico."
"Eu deveria ter sido mais complacente, e discutido menos por assuntos banais."
"Eu deveria ter aproveitado mais nossos minutos juntos."
"Eu deveria...Eu deveria."

Todos nós deveríamos tirar pelo menos quinze minutos do nosso dia para fazer um simples exercício de auto conhecimento. Por quais razões vocês acreditam que estão aqui hoje, nesse exato momento, por exemplo, lendo esta resenha? Como você gostaria que fosse seu dia hoje?

Tudo ou quase tudo que nos cerca, que nos faz sentir, e que nos influencia para tomar decisões e ter atitudes, se resume basicamente a nossa visão de vida. Não passar em uma entrevista de emprego dos sonhos pode significar que você está desempregado, e que sua vida profissional está acabada, como também pode significar que você possui uma grande oportunidade de procurar algo que se identifique mais, e que te faça trabalhar por um proposito, e não simplesmente para seguir um padrão pré determinado por suas experiencias de vida. Terminar um relacionamento pode ser uma das piores experiencias da sua vida, o chão pode desabar aos seus pés e você pode se sentir abandonado e sem rumo para seguir, ou você pode simplesmente fazer disso um aprendizado e aproveitar a oportunidade para se descobrir e se amar completamente, sem depender de ninguém para isso.

O significado de todo acontecimento depende do filtro pelo qual o vemos. A visão que temos a respeito do que nos acontece e dos nossos problemas, sejam eles grandes ou rotineiros, é o que define a nossa capacidade para buscarmos a felicidade, ou como eu comecei esta resenha, de nos lembrarmos constantemente de apenas...viver.

Os personagens desta obra possuem um pouco de cada um de nós. Todos sofrem a experiencia do luto, a maioria deles são médicos pediatras e sofrem ao ver as mazelas de saúde dos seres humanos. Paige, Peter, Angie e Noah carregam dentro de si decepções amorosas, fracassos profissionais, problemas familiares, medos e culpas. Mas se existe uma lição para todos esses problemas, que adoramos classifica-los como "De repente tudo mudou", é a oportunidade de ressignificar nossas ações, mas o principal é não esquecer que os únicos responsáveis pelo rumo que damos a nossa vida e as nossas escolhas somos nós mesmos.

Eu não posso afirmar quais são as escolhas de cada personagem deste livro, e muito menos quais foram as consequências dessas escolhas, mas posso dizer que todos fizeram o que era possível ser feito. Eles escolheram, se questionaram, e não viveram seus dias se perguntando porque o de repente aconteceu, mas aprendendo que fazendo o necessário, depois realizando o possível, se pode alcançar o impossível, que neste caso se resume apenas a dar um novo propósito e significado ao de repente.

Teóricos afirmam que nossa felicidade depende 5% daquilo que nos acontece, e 95% do que fazemos com isso, ou seja, como reagimos e qual sentido atribuímos. Deixo aqui a mensagem que este livro me proporcionou: Sejamos capazes de nos permitir sofrer, chorar e se arrepender, mas que o processo de lamentação seja mais curto do que estamos acostumados a ser, uma vez que possamos entender que ele é inteiramente desnecessário. Que possamos praticar a maior arte que podemos aprender e buscar, e  afinal é o que todos queremos, independente de crença, cor ou religião: a felicidade, todos os dias. Mesmo que de repente tudo dê errado.

Dedico esta resenha a Cristiane Unti, que me presenteou com este livro, que não poderia vir em melhor hora, onde através do meu de repente, eu estou tendo a grande oportunidade de ressignificar a minha vida. Cristiane, para você eu deixo esta mensagem, que foi exatamente a mensagem que este livro me deixou:

"A crise nos oferece a oportunidade de mudar conscientemente. E para melhor. Sempre."

E você caro leitor, já se perguntou como você gostaria que fosse seu dia hoje? Qual o de repente que sua vida vai te proporcionar para que essa resposta não dependa de muito tempo para ser respondida?

Minha nota: 10

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